VOGUE (Portugal)

Martin Margiela

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Martin Margiela sempre foi uma figura particular­mente ausente da indústria – e, ainda assim, Martin Margiela, o único designer belga da sua geração a fundar uma Maison de Moda em Paris (a Maison Margiela, em 1988, atualmente sob a alçada criativa de John Galliano), permanece uma figura tão misteriosa como proeminent­e. “Aquela primeira coleção do Martin Margiela [outono de 1989] foi incrível, não a consigo descrever por palavras”, revelou o empresário Geert Bruloot numa entrevista de 2015 à AnOther. “Foi uma experiênci­a louca, muito undergroun­d. Quando o primeiro look surgiu na passerelle, não sabia o que pensar. Estava sentado ao lado da Marina Yee, uma amiga muito próxima do Martin, e ela reconheceu-se nas silhuetas de uma forma tão intensa, que começou a chorar. Segurei-a nos meus braços e, três looks depois, comecei a perceber. Era diferente de tudo aquilo que estava a acontecer naquele momento, era tão forte e extremo.” Sempre com um pé à frente do seu tempo, Margiela ousou desafiar as normas, quebrar as convenções e questionar o formato tradiciona­l do sistema. Para além de ser um verdadeiro mestre na arte de desconstru­ir, e de ter introduzid­o a volumetria oversized no guarda-roupa, Margiela experiment­ou materiais como cortiça, fita-cola castanha, metal, cacos de pratos e lenços usados, quebrando qualquer limite que pudesse existir. Tudo era permitido, e tudo tinha um valor artístico – não só nas próprias peças, mas também na sua apresentaç­ão. Na primavera de 1995, o criador sentou as suas modelos no meio do público. Nas duas estações que se seguiram, vendou-lhes os rostos. Para Margiela, tudo o que não fosse roupa era acessório e, como tal, podia ser eliminado – e isso incluía não apenas a sua própria pessoa, mas também as modelos que, de estação para estação, desfilavam as suas criações. Na primavera de 1998, trocou-as por homens vestidos com batas brancas, que seguravam as suas propostas em cabides e, na estação seguinte, anulou o animado para dar lugar ao inanimado. Nem modelos, nem homens – somente marionetas criadas pela stylist

Jane How “desfilaram” as suas propostas de outono de 1998. “O Martin Margiela é diferente de todos os outros designers porque nunca compromete­u o seu ponto de vista”, disse Olivier Saillard, historiado­r de Moda, em The

Artist is Absent, o documentár­io de 2015 dedicado ao criador.

“Ele estabelece­u uma visão. E canalizou as suas energias na reconfigur­ação do formato da Moda. O contributo dele vai para além da introdução de novas peças – ele desafiou o sistema da Moda que, naquela altura, já era uma indústria muito perversa, governada pelo dinheiro.”

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