A magia do improvável
Há 17 anos, no Masterplan, Sandra pediu a Gisela que não virasse “ao contrário”. A Magnum não fez caso e virou mesmo, escolhendo o melhor e mais improvável trio de embaixadores de sempre. Fomos a Cannes comprová-lo (de gelado na mão, claro).
Existir a “probabilidade de” significa que existe a forte possibilidade de determinado fenómeno acontecer. E porque as probabilidades são coisas sérias, o seu cálculo é um ramo da matemática, utilizado de sobremaneira nas casas de apostas para calcular riscos e investimentos, sem deixar tudo nas mãos da intuição e do destino. E, a bem da verdade, na maioria dos casos, os eventos que têm mais probabilidade de se materializarem, naturalmente, têm por hábito acontecer. Mas nem sempre é assim. E quando não é, nesse hiato do que não se conseguiu prever, abre-se espaço para o extraordinário. Foi o que aconteceu quando, Beyoncé lançou Lemonade, do dia para a noite, a 23 de abril de 2016, e o que aconteceu quando a ginasta romena Nadia Comăneci conquistou o primeiro dez da história da ginástica artística, a 18 de julho de 1976, nos Jogos Olímpicos de Montreal. Há magia naquilo que não se pode prever, na descoberta do imprevisto, e na revelação de algo nunca antes avistado.
Foi o que aconteceu em Cannes, onde a Magnum, juntando uma série de variáveis aparentemente incompatíveis, ofereceu uma lição sobre o inesperado e a liberdade que dele advém. Vejamos: há um novo gelado que podia ser o embaixador do padrão polka-dot (Magnum white chocolate & cookies, estamos a olhar para ti), há Iris Apfel na campanha mundial, sob o mote #NeverStopPlaying, a exortar-nos a viver de acordo com as nossas regras; e há Rui Maria Pêgo, Lili Caneças e Carolina Loureiro, como embaixadores nacionais, a trazerem diversidade a um universo que é ainda, demasiadas vezes, monocórdico.
Estes fatores bastariam para tornar a festa da marca na Riviera francesa num dos locais mais apetecíveis do mundo, mas a Magnum não se ficou por aí. Rita Ora foi cantar ao cocktail pré-festa, num concerto privado à beira-mar, e já depois do sol se pôr, quando o cor-de-rosa do fato Luís Carvalho de Rui Maria Pêgo se tornava incandescente sob as luzes negras, Virgil Aboh (diretor criativo da americana Off-White e da linha masculina da Louis Vuitton) assumiu a cabine do DJ e fez-nos dançar ao som de Around The World de Daft Punk. E enquanto os Magnuns desapareciam das arcas espalhadas pelo recinto e do bar saíam incontáveis flûtes de champanhe, Lili Caneças, num vestido Alves/Gonçalves, que muitos diriam ser demasiado curto, mas que nós dizemos ser exatamente do tamanho certo, oferecia aos presentes uma lição sobre glamour no século XXI.
No final da festa da Magnum não ficaram só as memórias, ficou a certeza que virar o mundo ao contrário, oferecendo-lhe o inesperado, muitas vezes é justamente aquilo de que precisamos. ●