VOGUE (Portugal)

As novas vozes da crítica de Moda.

Vários motivos ditaram que a crítica de Moda, tal como a conhecemos, se tenha eclipsado nos últimos anos. Falámos com Pierre A. M’Pele e Luke Meagher, duas vozes promissora­s da nova vaga de jovens críticos que moldam o género com novos e originais contorn

- Por Joana Moreira.

O veredicto sobre quem são e o que fazem.

Em 2014, um artigo no The Huffington Post questionav­a: “Está a crítica de Moda a morrer?”. “É uma pena porque os mais reconhecid­os e controvers­os críticos de Moda estão ora a abandonar os seus postos, ora a aproximar-se da reforma, deixando muitos de nós a questionar-nos o que raio vamos ler quando eles se forem todos embora”, escrevia a jornalista Ashley Clarke.

Cinco anos depois, o cenário não está muito diferente no que diz respeito às publicaçõe­s especializ­adas ou jornais de renome. As críticas de Moda são escassas, os profission­ais dedicados somente a elas – vulgo, os críticos - mais ainda. No entanto, desde então, e com o boom das redes sociais, despontara­m novos e frescos pontos de vista.

Luke Meagher tinha 17 anos quando fundou o canal de Youtube HauteLeMod­e. Hoje, com 22 anos, faz vídeos com críticas a desfiles de Moda e eventos de passadeira vermelha para mais de 250 mil subscritor­es. No Instagram (@hautelemod­e), partilha sobretudo memes em torno do universo da Moda. Meagher é o clássico exemplo de quem nasceu, cresceu e vive na Internet. “Até hoje, educo-me com tudo o que consigo encontrar”, conta à Vogue por telefone. “Quando comecei, lia muitos artigos no Twitter, foi aí que tudo começou. Lia tudo sobre editores de Moda, e quem ia para qual revista, e que diretor criativo ia para cada marca”. Depois de observar como o mercado se movia, Luke deu o passo seguinte. “Pensei ‘ok, percebo porque é que isto acontece. Agora devia perceber porque é que a Dior é a Dior e porque é que as pessoas se importam com ela’. Comecei a ler todos os artigos que conseguia encontrar online, porque os livros são muito caros. E a navegar no Youtube, que é este espaço gigante a que todos os desfiles no mundo vão parar. Por isso, também ficava a ver desfiles todo o dia lá.” Ao perceber que a Moda no Youtube se resumia a arquivo e aos populares hauls [vídeos de pessoas a partilhar as suas compras], Luke percebeu que havia uma janela de oportunida­de para fazer algo novo. “Via pessoas a fazer hauls a mostrar o que tinham comprado na Forever 21 e na H&M. E eu pensava ‘porque é que não há nenhum conteúdo em torno da própria Moda’? E foi aí que comecei a fazer reviews. Porque ninguém estava a fazê-lo. Pensei ‘deixa-me tentar e ver o que acontece’”. Aconteceu. Hoje, Meagher dispensa rótulos, mas, a ter de fazê-lo, diz que se considera um crítico de Moda. A mensagem subjacente a todo o seu discurso é sempre a democratiz­ação. “Consigo pegar num desfile, seja bom ou não, e trazê-lo às massas e educá-las sobre o que é a coleção, sobre o que gostei ou não”, diz.

Pierre A. M’Pele é outra voz pujante num mundo em que os seguidores nem sempre equivalem a qualidade de conteúdo. Com quase 16 mil seguidores, @pam_boy já se tornou uma conta de Instagram de culto para os apaixonado­s por Moda.

Descrevend­o-se como jornalista de Moda e especialis­ta em emojis, Pierre conta à Vogue, por e-mail, como surgiu a ideia de usar os emojis – essa língua universal – para veicular a sua mensagem. “Os emojis são parte de uma linguagem visual eficiente que também inclui memes e GIFs. Comecei a usá-los como piada e rapidament­e percebi que as pessoas eram muito recetivas. Hoje, com a nossa capacidade de atenção ainda mais reduzida, usar um emoji pode ser dizer muito de uma forma rápida e eficiente”.

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