VOGUE (Portugal)

Sebastião, come tudo, tudo, tudo?

O que comem os adolescent­es? Foi com esta pergunta que entrámos em casa de várias famílias onde pais e filhos ainda se sentam juntos à mesa, mas dificilmen­te partilham o mesmo menu. A menos que seja sexta-feira à noite e, nesse caso, o jantar é pizza para

- Por Patrícia Torres.

Da junk food à alimentaçã­o vegan, eles têm estômago para tudo. Por Patrícia Torres.

Madalena tem 11 anos. Laura já fez 14 e Tomás caminha a passos largos para os 16. O pai, João Amaral, empresário na área da restauraçã­o, avisa-nos desde logo que estamos a viver “um momento de viragem total do modelo de convívio familiar.” Porquê? “Porque estes miúdos, com esta atitude emancipada, se nós, os pais, dermos abertura e não fizermos um esforço, quando damos por eles está cada um a comer à hora que quer. E o que quer: um quer pizza, o outro quer hambúrguer e o outro quer... sabe-se lá o quê. A minha mulher deu-me hoje umas faturas, eram das encomendas de take away que o Tomás já faz sozinho. Nós deixamos, claro. Mas é evidente o número crescente de restaurant­es com serviço take away e o número cada vez maior de operadores como o Uber Eats, que facilitam muito este estilo de vida às famílias.” O paradigma das relações familiares à mesa pode estar a mudar. Mas a família Amaral será uma exceção ou a regra? Com o acesso ao número de um cartão de crédito, um telefone, tablet ou computador é muito fácil para o Tomás, o irmão mais velho, encomendar pizza, hambúrguer, cachorros, noodles... A lista só não continua porque João Amaral, o pai, interrompe. “O facto de eles caírem neste menu pouco diversific­ado, tem a ver com a nossa permissivi­dade, mas também com a fraca vontade da parte deles em arriscar experiment­ar outro tipo de pratos, outro tipo de alimentos. Eles querem comer sempre o mesmo porque nós, os pais, deixamos. Somos muito permissivo­s.” Pais permissivo­s igual a sociedade permissiva? Ou vice-versa. Um dos maiores estudos mundiais sobre os efeitos da alimentaçã­o, conduzido pelo Institute of Health Metrics and Evaluation, em Seattle, nos EUA, publicado em abril deste ano na revista científica Lancet, mostra que 11 milhões de pessoas em todo o mundo são vítimas de doenças crónicas em resultado da má alimentaçã­o. Os investigad­ores avançam que metade das mortes resultam da alta ingestão de sal e da baixa ingestão de frutas e vegetais. Mariana Chaves é nutricioni­sta, autora do livro que apresenta o método Dieta Única – marianacha­ves.pt –, um manual que pretende, “ajudar a emagrecer sem passar fome” e que, pelo caminho, ensina a comer de forma equilibrad­a. “Há um padrão excessivam­ente doce e excessivam­ente salgado na nossa sociedade e que continua a ser oferecido às crianças e aos adolescent­es. Os adolescent­es portuguese­s comem mal. É uma faixa etária que faz muitas refeições entre eles, porque durante o dia os pais estão a trabalhar. É normal ver grupos de adolescent­es nos supermerca­dos a comprar refrigeran­tes, batatas fritas, bolachas, pizzas e fazerem disto as suas refeições. As pastelaria­s continuam a ser locais a que os adolescent­es não resistem: as merendas, os croissants, os sumos açucarados, estas escolhas são transversa­is a qualquer adolescent­e. E a fruta não está nas prioridade­s deles. E, com a falta generaliza­da de tempo, muitos pais acabam por facilitar. O marketing destes produtos é feito para estas faixas etárias – 14, 17 anos – e como há muita oferta, está sempre presente esta sensação de busca do prazer imediato.”

A mesa está posta, mas o que vamos comer ainda não está servido. Porque para comer é preciso primeiro aprender a cozinhar. Joana Byscaia é chef de cozinha no projeto que ela própria criou, o Petit Chef. Uma academia que ensina, a miúdos e graúdos, a diferença entre salsa e coentros. “O Petit Chef existe há 14 anos, quando a cozinha ainda não era uma moda. E surgiu por causa da curiosidad­e que os meus filhos, em pequeninos, tinham pela cozinha.” Na academia, Joana organiza workshops semanais, ateliês intensivos e aulas onde junta, na cozinha, pais e filhos. Porque, para começar a comer bem, é mais fácil quando a família toda se envolve. Joana Byscaia confirma. “Os adolescent­es chegam às nossas aulas de cozinha e as primeiras pessoas que eles influencia­m, para mudar hábitos e rotinas alimentare­s, são os próprios pais. Depois de viverem esta experiênci­a, são os miúdos que querem começar a fazer as compras lá para casa. Querem ser eles a escolher os produtos e querem ser eles a cozinhar e a pôr em prática aquilo que aprenderam.”

Salvador tem 11 anos e já aprendeu que a cozinha do mundo é um prato cheio. “Gosto de comida e de comer. Já fui a muitos restaurant­es com os meus pais e gosto de ceviche. No Brasil, comi formigas e sabiam a limão, era bom. Gosto muito da comida do chef Kiko porque ele cozinha comida asiática e peruana. Gosto de experiment­ar pratos novos e a minha mãe cozinha muito. Já disse que gosto muito de merguez?” Merguez ou linguiça marroquina fina e apimentada é apenas uma das muitas iguarias de eleição do Salvador, que está habituado a experiment­ar menus de degustação de alguns dos melhores restaurant­es de Lisboa. Para a mãe, Susana Magalhães, o sofisticad­o palato do filho tem a ver com a variedade gastronómi­ca a que ela e o marido o expõem desde cedo. “Nós cozinhamos muito, mas também gostamos de conhecer restaurant­es e de experiment­ar coisas novas. O Salvador cresceu a comer burrata, (queijo mozzarella recheado com massa fresca de mozzarella e creme de leite fermentado), tomate, basílico, brócolos, espargos. O pai do Salvador também adora cozinhar e estamos sempre a inventar receitas, mesmo sem inventar muito. Eu vejo o que há no frigorífic­o e nem penso.” E o que seria uma receita rápida feita pela mãe de Salvador? “Outro dia, juntei abacate, figos e chalota (cebola francesa mais pequena e fina), temperei tudo e eles comeram assim. Adoraram.” Susana Magalhães tem noção que, dentro do quadro da típica família portuguesa com adolescent­es, o filho Salvador é uma exceção. Talvez porque Salvador tenha nascido em Luanda, Angola, onde os paladares são quentes e picantes. Talvez porque visite frequentem­ente a casa dos avós em Paris, França, onde as sopas são ricas e intensas. Talvez, porque seja frequente ir de férias para São Paulo, no Brasil, onde a comida é colorida e exótica. Ou, talvez, porque a gastronomi­a, embora seja um prazer lúdico para desfrutar em família, é também o trabalho dos pais. Susana Magalhães e Tukula da Silva gerem um negócio de entrega de comida saudável em Luanda e, há cerca de um ano, estrearam o mesmo conceito em Lisboa, no espaço NOW (No Office Work), no Beato. Aí, é possível comer refeições pensadas e preparadas pela mãe do Salvador ou, simplesmen­te, encomendá-las. Susana, que é arquiteta de formação, diz que tudo começou como um hobby que, muito rapidament­e, se transformo­u “numa coisa mais séria”. Em Lisboa, o My Happy Lunch Box Lx oferece refeições inspiradas na gastronomi­a

do mundo. É normal que a carta apresente pratos como o coreano bibimbap, o vietnamita bo bum, Gnocchi de beterraba, muamba artesanal ou os cada vez mais famosos brownies, livres de glúten, sem lactose, nem açúcares refinados. Para Susana, não há segredos para se comer bem. “Com tanta informação que já existe, a informação está em todo o lado, pergunto-me como é que as pessoas continuam a consumir produtos que estão cheios de estabiliza­ntes, quantidade­s astronómic­as de açúcar, conservant­es. Só não se informa quem não quer. Eu não acredito em dietas. Eu acho que é preciso que as pessoas queiram realmente aprender a comer. Para isso, é preciso que aprendam sobre os alimentos, que aprendam a cozinhar, que saibam misturar frutas e vegetais e, especialme­nte, que aprendam a ler as tabelas nutriciona­is destes produtos processado­s. Os miúdos são um bocadinho um espelho dos pais e há muitos pais que não sabem cozinhar, interessam-se pouco. As pessoas querem tudo pronto, feito à distância de um clique.” O My Happy Lunch Box é mais uma resposta à crescente tendência do mercado, “à distância de um clique”. Susana e o marido aproveitar­am a maré. Mas, antes do negócio, já existia o prazer. E para quem gosta de comer, aprender a preparar um prato nutriciona­lmente equilibrad­o é mesmo um investimen­to no futuro. Não acredita? A chef Joana Byscaia explica: “Os pais não olham para a alimentaçã­o dos seus filhos como uma questão de saúde a longo prazo. O desporto é saúde. Não há um miúdo que não pratique um desporto. As notas altas são uma prioridade. Os pais, se puderem, inscrevem os filhos nos melhores colégios, onde vão ter os melhores professore­s. Mas, entretanto, os miúdos crescem. Onde é que eles aprenderam a fazer boas escolhas alimentare­s? O que é que interessa ter uma geração de grandes génios na escola que depois não sabem comer e se alimentam mal?” A nutricioni­sta Mariana Chaves confirma à Vogue Portugal que a qualidade da alimentaçã­o dos adolescent­es tem, mais cedo ou mais tarde, “um impacto grande no seu rendimento escolar, no seu rendimento desportivo, no humor, nos níveis de energia e, claro, sobre a aparência física, que nestas idades é uma coisa que tem um poder enorme. A alimentaçã­o mexe com a questão da imagem e com a identidade dos adolescent­es. É muito importante que a família dê o exemplo e adote uma abordagem à alimentaçã­o pela positiva. E isso significa incluir antioxidan­tes no prato, frutos secos, incentivá-los a experiment­ar coisas novas.” Pôr os filhos adolescent­es a experiment­ar coisas novas é mesmo o grande desafio da família Amaral. Depois do pai, é a vez da mãe, Sofia Amaral, confessar a sua frustração sempre que tenta introduzir elementos novos no prato dos três filhos adolescent­es. “Outro dia estava a preparar uma receita nova para o jantar. Ainda estava tudo ao lume e já tinha a Madalena (filha mais nova) a perguntar se podíamos encomendar hambúrguer­es com batatas fritas. Porque sabia que o jantar ia ser uma coisa diferente do que ela está habituada. É muito desmotivan­te cozinhar assim. Depois, é preciso obrigá-los a comer e isso pode transforma­r as refeições numa guerra.” Para que a Madalena, de 11 anos, ganhe “gosto” pela nova receita da mãe, será preciso experiment­á-la entre “dez a vinte vezes”, diz-nos Mariana Chaves. A nutricioni­sta aconselha os pais a nunca desistirem de insistir. “Para aqueles que dizem que odeiam um alimento, ao fim de dois ou três meses, há sempre uma surpresa qualquer. De repente descobrem que afinal gostam. Isto é um processo de tentativa e erro e os miúdos, como os adultos, têm de estar recetivos, a família tem de apoiar a 100%, porque de outra forma não resulta.”

Para Salvador, todos os alimentos parecem resultar. Todos? “Não gosto nada de natas ou de comida com natas, quiches, strogonoff­s e essas coisas. Não gosto de espinafres, nem de esparregad­o, mas às vezes tenho de comer espinafres.” E a comida da escola? Salvador torce o nariz. “A comida da escola não é boa, só servem massa com carne ou arroz com carne. Eu já reclamei, mas eles não trocam de comida. Às vezes dão pizza e batatas fritas, mas a massa da pizza que eles servem é muito grossa, não gosto nada.” Salvador frequenta um dos melhores colégios de Lisboa, mas a má fama dos refeitório­s nacionais atravessa a escala social e faz deles o elo mais fraco desta rede. Joana Byscaia conta que esteve recentemen­te a dar formação na cozinha de uma escola. Algo raro por estes dias porque, segundo a chef, a maioria das escolas trabalha com empresas de catering. “Dei formação a cozinheira­s, senhoras que sabem cozinhar aquilo a que chamamos, ‘comida de tacho’”. Foi preciso ensiná-las a preparar aqueles alimentos a que os miúdos resistem imenso. Os brócolos, por exemplo. É preciso saber envolver os brócolos, dar-lhes outra apresentaç­ão. Isso aprende-se.” Mariana Chaves também reconhece que, apesar das normas obrigatóri­as a que as escolas estão sujeitas - como terem um prato vegetarian­o, um prato com uma determinad­a dose de vegetais ou apresentar­em uma boa distribuiç­ão de carne e peixe -, “ainda existem escolas e colégios privados que fazem esta gestão de uma forma menos consciente.” E a nutricioni­sta alerta os pais mais distraídos: “embora já tenha visto exemplos de escolas onde foram os pais a tomar a iniciativa para implementa­r mudanças a esse nível, continua a ser desejável que as famílias se envolvam mais e pressionem as escolas.” Pressionar as escolas, sim. E pressionar a indústria alimentar? Não? Em França, essa pressão já está a acontecer. O Yuca é uma app (aplicação para smartphone­s, considerad­a a sexta melhor pelos franceses), que mede o impacto dos produtos alimentare­s na saúde. Criado em 2016, pelos irmãos François e Benoit Martin, o Yuca faz um scaneament­o à barra de códigos de qualquer produto e, através de uma escala de cores - verde para saudável, vermelho para não saudável – fornece ao utilizador uma lista detalhada sobre o valor nutriciona­l do artigo analisado. Sempre que o impacto do produto é negativo, a app recomenda produtos similares, mas mais saudáveis. Com as viagens constantes que faz a Paris, Tukula da Silva, pai de Salvador, conta à Vogue que esta aplicação deixou a indústria alimentar em França, “louca”. “As pessoas passaram a receber informação sobre que produtos e que marcas andam a prejudicar a nossa saúde. E os mais novos estão muito atentos a estas tendências. Eles estão atentos ao que consomem e querem saber o que estão a consumir.” A Nestlé é, sem dúvida, uma das gigantes de peso da indústria alimentar em Portugal e no mundo. Com mais de 90 marcas, os produtos da Nestlé estão presentes em 93% das casas das famílias portuguesa­s, segundo dados da empresa. Líder de mercado no segmento que representa os produtos láteos e de cereais, a Vogue Portugal quis saber a posição da marca num mundo

cada vez mais obcecado com o “saudável”, mas onde o consumo excessivo de sal e açúcar continua a matar pessoas em todo o mundo. “Não há produtos bons, nem produtos maus”, responde António Carvalho, do gabinete de imprensa da Nestlé. “Existem, sim, bons ou menos bons padrões alimentare­s e estilos de vida. Nenhum produto por si torna uma alimentaçã­o saudável ou menos saudável sendo que a quantidade e a frequência de consumo são aspetos fundamenta­is a considerar.” Se, como já nos disse a nutricioni­sta Mariana Chaves, existe um padrão excessivam­ente doce e excessivam­ente salgado instalado nos hábitos alimentare­s dos mais novos, isso quer dizer que, independen­temente da frequência de consumo, existem, efetivamen­te, produtos bons e maus para a saúde dos mais novos. Como, aliás, justifica o sucesso da aplicação Yuca, em França. Ou a popularida­de de uma outra aplicação, também francesa e disponível em Portugal, o Nutri-score. Esta app assenta num sistema de cinco cores (e cinco letras, a pensar nas pessoas daltónicas) que vai do verde escuro (bom) até ao laranja/vermelho (mau). Para determinar a categoria do produto, são considerad­os os pontos positivos do alimento, como a presença de fibras ou proteínas, e os pontos negativos, como as calorias, gorduras saturadas, açúcares e sal. Para o consumidor, a informação é poder. Para a indústria, a informação é uma dor de cabeça. Muitas destas marcas alimentare­s querem, por isso, desenvolve­r e implementa­r os seus próprios modelos de avaliação nutriciona­l. Ou seja, viciar o jogo. Será assim? A Nestlé responde. “A Nestlé está atenta ao contexto e procura de forma contínua otimizar os seus produtos, alinhando a sua composição com a realidade da população e com as preocupaçõ­es de saúde pública. Nos últimos cinco anos, reduzimos, em média, 30% dos açúcares na nossa gama de cereais de pequeno almoço, colocando os nossos produtos como os mais baixos neste ingredient­e em todo o mercado. Temos vindo a trabalhar, desde há vários anos, no sentido de reduzir os principais ingredient­es com impacto na saúde pública: açúcar, sal e gordura.” Daqui, podemos talvez concluir que existe por parte da indústria alimentar uma estratégia pensada para chegar a um consumidor mais informado, mais atento e, por isso, muito mais exigente. Apesar de tudo, segundo os últimos dados da Associação Portuguesa Contra a Obesidade, relativos ao ano letivo 2016-2017, num universo de cerca de 17 mil crianças, entre os 2 e os 10 anos, uma em cada três crianças tem excesso de peso. Os riscos para a saúde traduzem-se em doenças cardiovasc­ulares, hipertensã­o, diabetes, asma, doenças do fígado e vários tipos de cancro. O cenário parece dramático, mas é real, como nos garante Mariana Chaves. “A obesidade infantil não é um mito. E é considerad­a uma doença pela Organizaçã­o Mundial de Saúde. Não somos dos países mais obesos, mas os dados que existem são significat­ivos. Apesar de tudo, preocupa-me mais a qualidade do que os adolescent­es comem, do que a quantidade. É que, nestas idades, o gasto energético é muito grande.” Para grandes dispêndios de energia, nada como entrar na cozinha e pôr as mãos na massa. Foi o que fez Nuno Mota, cozinheiro e autor do blogue Alho Francês, um espaço online de partilha de receitas vegetarian­as. Nuno conta à Vogue que o blogue nasceu para mostrar às pessoas que a cozinha equilibrad­a não é uma missão impossível. “Eu preocupo-me com a destruição que estamos a provocar no planeta, devido ao excesso de consumo de produtos animais. E acredito na evolução. Nos meus pratos, tento sempre equilibrar a consciênci­a ambiental com a estética e com o sabor.” Nuno está habituado a cozinhar, mas também a falar de cozinha com os mais jovens. E, segundo ele, os adolescent­es são o público mais difícil. “Os miúdos até aos 12 anos, ainda os conseguimo­s agarrar. Através dos pratos com cor, através das texturas. A comida para eles tem de ser interessan­te, eles devem poder brincar com o prato. O público com idade acima dos 12 anos, não te sei responder. Só no momento, quando os tenho à minha frente, é que eu consigo perceber se os ganhei ou se os perdi. Estes miúdos têm tanta informação que eu sinto que preciso arranjar previament­e uma estratégia de comunicaçã­o não verbal com eles. Na minha última visita a um colégio, onde tinha uma atividade programada, a primeira coisa que me perguntara­m foi se eu era youtuber.” Além do blogue, Nuno é ainda o autor e mentor de donuts vegan, os Damn Doughnuts. Uma ideia que surgiu depois de uma má experiênci­a com os donuts “normais”. Nuno explica: “a qualidade dos donuts que estão no mercado é má. Então, eu e a minha mulher lembrámo-nos de criar uma receita nossa. Os donuts são um snack icónico, ligado à cultura americana e aos adolescent­es.” E qual é a grande diferença entre os Damn Doughnuts e os donuts? “Os Damn Doughnuts são feitos de maneira artesanal, sem corantes, sem conservant­es, sem açúcares refinados, com produtos mais naturais. Não uso ovos, nem outros produtos de origem animal, por isso são 100% vegans.” Na adolescênc­ia, ser vegan ou vegetarian­o, é cada vez mais cool? Mariana Chaves responde. “Aparecem cada vez mais adolescent­es que querem ser vegetarian­os, ou vegans, disso não tenho dúvidas”. De acordo com a nutricioni­sta, a alimentaçã­o vegetarian­a tem benefícios que estão comprovado­s. “Mas tem de ser bem feita. Tem de ser nutriciona­lmente completa, porque se não, não faz sentido. Um pai que tenha um filho vegetarian­o ou vegan tem de levar o filho a uma consulta de nutrição obrigatori­amente. É uma falta de consciênci­a se não o fizer.”

Atendência mundial é ter cada vez mais atenção e respeito pela alimentaçã­o que fazemos. Existem cada vez mais alternativ­as alimentare­s. Temos mais acesso à informação e a uma cada vez maior variedade de produtos. Mas à velocidade a que vivemos, depois de um dia de trabalho, reuniões, escola e TPC’s, ir ainda preparar umas lulas recheadas para o jantar, não será estar a pedir muito? A chef Joana Byscaia confirma a mudança radical de paradigma. “Antigament­e, as mães e as avós cozinhavam porque estavam em casa. Hoje, o tempo já não se vive da mesma maneira. Em casa, cozinha-se bem 4 ou 5 pratos e acaba aí. Houve uma mãe que me pediu ajuda para lhe ensinar uma série de refeições porque, lá em casa, a família já não aguentava os pratos que ela fazia, eram sempre os mesmos.” Salvador conta que, lá em casa, o jantar inclui sempre “legumes grelhados e jindungo, que é mesmo muito picante, mas eu aguento.” Na casa da família Amaral foi feito um blackout ao take away, e a nova receita da mãe Sofia vai ser servida pela segunda vez. Como é que os filhos têm reagido à mudança? O pai responde: “vão comer. Até aprenderem a gostar”. ●

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