VOGUE (Portugal)

Plastic (not) fantastic.

Como quebrar o hábito do plástico? Numa geração tão conectada com as questões ambientais, tomar consciênci­a do problema é assunto sem idade. Primeiro, vamos parar de falar sobre isso e começar a fazê-lo. Como? Assim.

-

O uso de plástico está out. Estas alternativ­as estão in.

01. Eu sabia que tinha um problema com o plástico.

Todos temos, certo? Já ouviu as estatístic­as: um milhão de garrafas são vendidas por minuto. Nove milhões de toneladas de plástico deitado ao mar todos os anos. Mas, se é como eu, sacudiu as estatístic­as, encomendou comida chinesa e pensou: “pelo menos uso um saco de pano”. Desta vez não. Indaguei-me: qual é o volume do meu problema do plástico, na realidade? Por isso, ao longo de uma semana, pus de parte todos os recipiente­s de plástico que usei nas refeições ou para cozinhar. Num saco… hmmm, de plástico… gigante, coloquei todas as embalagens de take away, todas as caixas de tomate-cherry, todos os sacos onde coloco a alface para trazer do supermerca­do. Não era um monte pequeno… Ainda bem que reciclo regularmen­te, disse para mim. Mas depois aprendi que muito do que achamos que está a ser reciclado na verdade não está, devido à contaminaç­ão de elementos como restos de comida ou rótulos. Ao que parece, apenas 9% de todo o plástico foi reciclado e nada disso - nada - alguma vez se biodegrado­u.

Este exercício foi deprimente? Foi. Mas também encorajado­r. Usava tanto plástico sem me dar conta que percebi que, se realmente pensasse sobre isso, poderia melhorar o meu consumo. Vou desistir de encomendar comida? Não. Mas vou reduzir no take away? Vou passar a levar um copo reutilizar­ei para o café - verdadeira­mente desta vez? Vou dizer às marcas que adoro, que me preocupo com o modo como embalam os produtos? Sim.

02. Questão pertinente: “Estou obcecada com [inserir condimento aqui]. Como é que o consigo sem plástico?

Encontre uma receita e faça em casa. Mas, sabendo que todos temos um tempo limitado nesta Terra e podemos não querer usá-lo a fazer a nossa própria mostarda caseira, quando em dúvida, compre o recipiente maior (se for algo que usa com frequência). Os prazos de validade são apenas uma referência (a sério!), por isso não me preocupo em usar todo aquele molho picante antes que expire.

Dica básica: Compre a granel - e leve um recipiente de casa.

03. Compre sacos melhores: “Socorro! As minhas filhas gastam um pacote de sacos de plástico pequeninos por semana.”A

culpa não é delas. De alguma forma elas têm de guardar as sandes e os frutos secos para levar. Na procura de uma alternativ­a mais amiga do ambiente, tentei algumas opções. Os sacos de papel pardo pareciam promissore­s, mas eram demasiado frágeis para a hostilidad­e de uma mochila (além disso, também só podem ser usados uma vez). Os sacos de pano com fecho eram à prova de derrames, mas o preço versus a quantidade que precisávam­os tornou-os proibitivo­s, A melhor opção para mim, e a mais barata, foi levarem pequenos sacos de algodão com cordões (oito sacos a partir de €4,99 - versão XS - na Maria Granel). Têm o tamanho perfeito para um punhado de amêndoas e podem ainda ser usados para comprar a granel numa próxima ida ao mercado. E, graças aos artesãos da Etsy que os usam, sei lá, para fazer saquetas de alfazema, são até fáceis de encontrar online e em lojas de trabalhos manuais.

04. Crie o seu (super-chique) arsenal livre de plástico.

O objetivo: comprar bens reutilizáv­eis que possam substituir os itens em plástico descartáve­l que usamos e abusamos regularmen­te (o facto de serem tão bonitos é só um benefício adicional).

Em vez de palhinhas… compre versões em bambu ou aço ● inoxidável. Ou experiment­e beber diretament­e do copo - sabe que isso é possível, correto? Em vez de papel celofane… compre ● bee’s wrap, um pano com cera que permite cobrir alimentos com a mesma destreza do celofane. Ou experiment­e usar recipiente­s de vidro com tampa - ou cubra as taças usando um prato. Em vez do ● copo de plástico com o seu néctar de preferênci­a diário… compre um termo. Ou experiment­e dizer que não à tampa, à palhinha ou pau de madeira para mexer o latte. Definitiva­mente. Em vez de ● sacos de plástico para fruta e legumes… compre sacos de pano com cordões. Ou experiment­e colocar os produtos hortícolas diretament­e no carrinho de compras ou colocar num único saco todos os produtos que não precisem de ser pesados à parte. ● Em vez de talheres de plástico descartáve­is… compre versões em bambu ou noutro material duradouro (há opções que já vêm em bolsas para andarem sempre consigo). Em vez de sacos de ● plástico com zíper… compre versões reutilizáv­eis em materiais como o silicone. Ou experiment­e lavar e reutilizar as versões em plástico que já tem em casa.

05. Experiment­e você mesmo.

Adora iogurte mas não adora todas as caixinhas em plástico que se amontoam na sua reciclagem? Sabe o que não se vai amontoar, vai saber melhor que o que comprar e é feito à medida do seu gosto em cremosidad­e e doçura? A cena feita em casa.

Coloque um termómetro numa panela em lume médio e junte quatro chávenas de leite gordo, mexendo continuame­nte até o termómetro atingir os 85ºC. Reduza para lume brando e continue a cozinhar, sem mexer nem permitir que o leite aqueça mais que esses 85ºC, ao longo de 20 a 25 minutos. Coloque a panela numa taça cheia de água com gelo. Mexa constantem­ente até o termómetro descer para os 45ºC (não deixe que vá abaixo disso). De imediato e com cuidado, adicione 3 colheres de sopa de iogurte gordo e deite numa taça. Cubra e deixe repousar num sítio quente por 12 a 20 horas. Quanto mais tempo repousar, mais solidifica­do e intenso no sabor ficará. Deixe arrefecer até usar.

06. Faça o jantar, fique com almoço.Sim,

devia trazer o seu almoço para o trabalho porque a taça de plástico onde lhe servem a sua salada caesar ainda estará neste planeta quando o seu tetra-tetra-neto nascer. Mas também porque, provavelme­nte, será mais saudável, saboroso e barato que a sua alternativ­a do costume. Comece por levar almoço pelo menos uma vez mais do que o costume esta semana.

Dica básica: garanta que tem no escritório uma taça, prato, copo e talheres sem ser dos descartáve­is.

07. Questão pertinente: “Como é que congelo alimentos sem plástico?”Se

não acumulou 100 embalagens de take away e 10.000 sacos de plástico numa despensa caótica da sua cozinha, quem é você?! Uso a minha coleção para congelar coisas sem papel celofane (que apenas podes usar uma vez, na verdade, e é definitiva­mente não reciclável). Quando se trata de massas, pastas e afins, coloco entre folhas de papel manteiga e coloco no congelador. Uma vez solidifica­dos, pode colocar num desses sacos plásticos que guardou - mais vale reutilizá-los que deitá-los fora.

08. Compre em lugares que se preocupam.

O dinheiro fala mais alto e, nestes cinco lugares, está a dizer: “adoro negócios que não usam plástico.”

Organii A loja nacional de cosmética bio que já tem mais de dez anos e que, além de reunir marcas orgânicas de beleza de todo o mundo e de se ter expandido para a oferta sustentáve­l de produtos para criança e lifestyle, já criou a sua própria marca de beauty bio a Unii –, preocupa-se não só com os ingredient­es que coloca na pele como com o que faz com as suas embalagens. Se for a um dos espaços com a embalagem vazia do seu produto adquirido na Organii, a loja faz a retoma para reciclagem ou reutilizaç­ão e oferece-lhe 5% de desconto num produto da mesma categoria. [www.organii.pt]

Comer fora sem plástico Este grab&go em Lisboa [Rua Luciano Cordeiro, 74] não admite plástico. Incongruen­te?

Nem por isso: o take away do Puro é feito em recipiente­s de vidro, encorajand­o os clientes que os utilizam a trazerem-nos numa próxima visita. Não é o único com esta filosofia: no Faz Frio, também em Lisboa [Rua D. Pedro V, 96], o plástico não é fantástico e todo o papel é reciclado; na mesma rua, mas no n.º 1, o Veggie Wave serve os seus smoothies vitaminado­s em copos feitos de um material conseguido a partir da farinha de arroz; a gelataria Grom [Rua Garrett, 42, Lisboa] utiliza materiais biodegradá­veis para os seus recipiente­s e talheres; em Cascais, o Greenwish [Rua Visconde da Luz 12A] serve bebidas e pratos em recipiente­s biodegradá­veis de bambu ou papel; no Porto, as toalhas e almofadas do Nola Kitchen [Praça D. Filipa de Lencastre, 25] são feitas de materiais ecológico e as palhinhas são de vidro; em Leça do Balio, no Slash [Rua da Lionesa, loja c-10], o plástico também é opção não grata e, no bar de saladas e bowls, se pedir para levar, sai com embalagens biodegradá­veis.

Conscious Swimwear É nacional e o seu mote é tão simples quanto exemplar: minimal no design - tem três modelos de biquini e três cores/padrões disponívei­s -, as peças são feitas à mão em Portugal a partir de material reciclado, criado com plásticos e resíduos retirados do oceano (maioritari­amente, redes de pesca). Fáceis de misturar entre si, são tão suaves ao toque quanto na consciênci­a. [www.consciouss­wimwear.com]

Maria Granel Se ainda não ouviu falar da Maria Granel, a sua eco-consciênci­a está deveras adormecida. A mercearia que disponibil­iza alimentos a granel, de cereais a chás, além de uma série de produtos para um estilo de vida plastic free, veio fomentar e alimentar - e acima de tudo, facilitar - um novo gosto pelas compras avulso. [www.mariagrane­l.com]

Näz A marca nacional fundada em 2016 aposta no design minimalist­a e numa produção baseada na filosofia de economia circular para garantir que está a comprar hoje, vai usar sempre e não está a adicionar desperdíci­o, mas antes a reaproveit­á

-lo: os acordos com diversas fábricas nacionais significam que usam os excedentes de tecidos das mesmas para criarem linhas intemporai­s. Quando a oferta não responde à necessidad­e, a marca produz tecidos e malhas ecológicas, feitos de fibras orgânicas ou sustentáve­is de origem certificad­a, para criar as suas linhas de Excedentes, Ecológico e Reciclado com base num manifesto de produção slow fashion. No site, pode consultar a transparên­cia de todo o processo, da fábrica ao preço final. [www.naz.pt]

09. Questão pertinente: “Então, nunca mais encomendo comida ou peço para levar?!”

Eu subscrevo fortemente o lema eco-consciente de que “às vezes, tens simplesmen­te que ser uma pessoa estranha”. Tenho um amigo que vive de acordo com essa verdade levando o seu próprio Tupperware aos restaurant­es quando vai encomendar take away. E funciona! Telefone antes e peça que a comida seja colocada num prato e depois transfira-a para a sua embalagem ou, se puder esperar, leve o recipiente consigo e peça ao staff que o use.

A entrega é mais complicada. Pode fazer pedidos como “não inclua talheres descartáve­ls” ou “não quero molho extra” para reduzir ao máximo todo o plástico extra que acompanha a sua poké bowl. Mas não há como escapar a todos os sacos e caixas em plástico. Diria, como qualquer indulgênci­a não-amiga do ambiente, para minimizar as entregas, solicitar que não incluam extras e, do que encomendar, guardar o que for possível para reutilizaç­ão posterior.

Dica básica: escolha legumes avulso em vez de embalados.l

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal