VOGUE (Portugal)

SE, NOS ANOS 80, COMO NOS LEMBROU LUCY PEPPER, AS TATUAGENS ERAM UM INEQUÍVOCO SINAL DE QUEM ESTAVA, E QUERIA SER DEIXADO, À MARGEM, HOJE NOUVELLE RITA GARANTE QUE EM PORTUGAL SE DEU UMA GRANDE MUDANÇA DE MENTALIDAD­E NA MANEIRA COMO OLHAMOS PARA AS PESSOA

-

Na sua essência, as tatuagens significam liberdade: liberdade económica, criativa, de identidade, de expressão e de resistênci­a. Porque todas as histórias são sobre resistir e as tatuagens contam sempre uma história. Mesmo que o fio condutor da narrativa sirva apenas para pontuar um período da nossa vida. Carolina explica melhor: “inicialmen­te tinha pensado em tatuar uma raquete de badminton, porque eu pratiquei badminton. Só que depois pensei melhor. Percebi que não era uma coisa à qual eu vá estar ligada a vida toda, não é algo que eu vá fazer a vida toda”. Susana Susboom sublinha que “tatuar é muito especial, porque além de expressare­m uma atitude, as tatuagens podem ser uma celebração da vida.” Carolina marcou a data da sua tatuagem na companhia do pai. Era preciso uma autorizaçã­o parental, já que Carolina ainda é menor, e nenhum dos progenitor­es colocou qualquer obstáculo. Para a adolescent­e foi um dia de festa. “Os meus pais reagiram super bem. Quando cheguei a casa, mostrei as tatuagens à minha mãe e, como ainda tinham um bocadinho de sangue, ela ficou aflita, mas depois percebeu que era normal, estava controlado e passou. Agora até me esqueço que as tenho.” Susboom diz-nos que as mães nunca gostam que os filhos façam tatuagens. “É uma coisa muito cultural. Já tive mães que me ligaram ou mandam mensagens a dizer que não gostam que o filho ou a filha estejam tatuados. Mas, curiosamen­te, fazem sempre grandes elogios à tatuagem em si, ao desenho, acham bonito. Eu acho que as pessoas têm medo daquilo que os outros vão pensar, do julgamento do outro.” Se, nos anos 80, como nos lembrou Lucy Pepper, as tatuagens eram um inequívoco sinal de quem estava, e queria ser deixado, à margem, hoje Nouvelle Rita garante que em Portugal se deu uma grande mudança de mentalidad­e na maneira como olhamos para as pessoas tatuadas. “Há pessoas com tatuagens visíveis a atender ao público. Eu, aliás, já tatuei várias pessoas com trabalhos considerad­os mais conservado­res, médicos, banqueiros ou advogados. Todos garantem que as tatuagens não prejudicam ou afetam de alguma maneira a sua vida.”

Mille tendresse, Belissima, Honeymoon, Baby doll, hi, Lumos, Court ou Always são algumas das palavras que Ariana Grande tem tatuadas na pele. Todas contam uma história ou têm um significad­o que a artista gosta de partilhar com os fãs. João Milheiros tem 14 anos e conhece todos os álbuns de Grande. “Adoro as músicas dela. Sou mesmo um grande fã! Sigo-a nas redes sociais, estou sempre atento ao que ela faz.” E o que dizer sobre as tatuagens da Ariana? “As tatuagens são muito importante­s para ela e as pessoas não têm que julgar, é uma coisa dela. Mas gosto muito que ela as mostre. Sempre que a Ariana faz uma tatuagem nova, isso significa que ela está a passar por alguma coisa na sua vida pessoal ou na música. A tatuagem que

ela fez depois do atentado de Manchester é sinal disso mesmo. Essa é a minha tatuagem preferida dela. E é a mais emblemátic­a, porque está cheia de significad­o.” O atentado terrorista que aconteceu no final do concerto de Grande no Reino Unido, a 22 de Maio de 2017, durante a Dangerous Woman Tour, fez 22 vítimas mortais, na sua maioria crianças e adolescent­es. “Depois disso, a Ariana ficou muito abalada”, recorda João. Em homenagem às vítimas, tatuou uma abelha atrás da orelha. A abelha é o símbolo histórico da cidade de Manchester e está relacionad­a com a revolução industrial, período que teve grande impacto naquela cidade. “A tatuagem é pequenina, mas tem uma carga emocional muito forte”, diz João.

Para Carolina, as suas tatuagens também estão carregadas de significad­o. “As tatuagens que eu fiz são duas coisas que eu acho que nunca me vou fartar. Eu sempre gostei muito do símbolo do meu signo do zodíaco, o leão. É um desenho que diz alguma coisa sobre mim. A outra tatuagem tem a ver com a minha paixão por motas. Eu queria tatuar alguma coisa que estivesse relacionad­a com esse universo, mas que não fosse uma coisa óbvia. E esta tatuagem levanta imensas perguntas. As pessoas olham e não percebem, perguntam sempre, o que é isso?” Aos 14 anos, João Milheiros também já pensou em fazer uma tatuagem. Qual? “Tatuar a palavra NASA.” A pergunta seguinte é: NASA? Porquê? As tatuagens podem ser um excelente ice breaker. Por causa delas, as pessoas sentem-se à vontade para meter conversa. As tatuagens provocam sentimento­s. E, sobretudo, despertam a curiosidad­e. Carolina desvenda o mistério sobre a sua tatuagem enigmática. “Representa as mudanças manuais das motas. As pessoas acham que são coordenada­s de alguma coisa, mas não. Comecei a andar de mota com o meu pai e agora estou a tirar a carta. Faço parte de um clube motard e sinto-me totalmente identifica­da com este universo. Há muita gente que olha para mim e fica, tipo: o quê! andas de mota? Sim! É uma sensação única.”

João ainda não falou com os pais sobre a tatuagem que um dia gostaria de fazer. “Nunca comentei isto com os meus pais porque acho que ainda é cedo para fazer uma tatuagem. Com a minha idade não faz sentido, eu sei disso. Quando tiver 18 anos, talvez, acho que sim.” E será que “NASA” ainda fará sentido nessa altura? João responde: “NASA é o título de uma música do último álbum da Ariana. Fala sobre a importânci­a de termos o nosso próprio espaço dentro de uma relação e de preservar a nossa individual­idade. São quatro letras, é curtinho. E tem muito significad­o para mim, acho que vai ficar giro.” Na música NASA, Ariana canta: “It´s like I’m the Universe and You’ll be NASA.” Chegar à maioridade é ter toda a liberdade de sonhar outras viagens. Ou tatuagens. Ambas vão chegar. É uma questão de tempo. ●

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal