VOGUE (Portugal)

Greta Thunberg, ativista pelo clima

- M.B.

A capa é branca e, em letras pretas, declara que “Ninguém é demasiado novo para fazer a diferença”. Este manifesto estampado num pequeno livro com uma pequena compilação dos discursos urgentes e emotivos de uma jovem ativista pelo clima é de Greta Thunberg, a rapariga sueca de 16 anos cuja imagem circulou o mundo inteiro como lembrete de que “a nossa casa está a arder”, e que nós, alienados das consequênc­ias que os nossos comportame­ntos têm no planeta, não estamos a fazer nada para evitar que o fogo nos consuma por completo. Com uma consciênci­a além dos seus - na altura - tenros 12 anos de idade, Greta deixou de consumir carne e parou de andar de avião para limitar o seu impacto no ambiente. Três anos depois, no auge dos seus 15 anos, venceu uma competição do jornal diário sueco Svenska Dagbladet, com um ensaio sobre as alterações climatéric­as. “Eu quero sentir-me segura”, podia ler-se nas palavras redigidas por Greta. “Mas como é que eu me posso sentir segura quando sei que estamos a atravessar uma das maiores crises da história?” A questão que ninguém queria colocar, redigida pelas mãos inocentes de uma adolescent­e de 15 anos, impulsiono­u aquilo que viria a acontecer nos próximos meses– e a crise a que Greta se referia foi a mesma crise que a levou a sentar-se no exterior do Parlamento sueco, o Riksdag, no dia 20 de agosto de 2018, como forma de protesto contra a cegueira da humanidade. “Nós, crianças, não costumamos fazer aquilo que vocês, adultos, nos dizem para fazer. Nós fazemos como vocês fazem”, escreveu Greta na descrição de uma fotografia publicada no Instagram, nesse mesmo dia, onde se via a jovem sentada com um cartaz que declarava “Skolstrejk för klimatet” (em português, “Greve à escola em defesa do clima”) em letras bem visíveis. O plano de Greta – faltar à escola até às eleições suecas, que aconteciam no dia 9 de setembro de 2018, como sinal de protesto contra a falta de ações do governo para resolver a questão das alterações do clima – transformo­u-se num movimento global. Quando as eleições passaram, Greta regressou à escola, mas continuou o protesto todas as sextas-feiras, dando origem ao #FridaysFor­Future. E, de repente, a jovem de 15 anos que se sentava sozinha com um cartaz à porta do parlamento sueco era a inspiração para centenas e centenas de crianças saírem à rua, nos mais diversos pontos do globo, com cartazes que gritavam

“Não existe um planeta B”. E, de repente, a jovem de 15 anos que se sentava sozinha com um cartaz à porta do Parlamento sueco era o símbolo de um movimento de ativismo e protesto pelo clima. “As redes sociais podem ser muito eficazes na criação de movimentos”, contou Greta numa entrevista à Wired. “No início, foi assim que eu consegui chamar a atenção das pessoas. Foi aí que os jornalista­s começaram a aparecer.” Um exemplo máximo do poder, da influência e da força que a nova vaga de ativismo pode ter no mundo, Greta transformo­u-se na voz que ninguém, por mais alienado que fosse, conseguia evitar. Discursou em Estocolmo, em Londres, em Davos, em Bruxelas, em Berlim, em Estrasburg­o. Discursou para figuras tão influentes como ela, de igual para igual. Discursou para homens e mulheres que tinham o poder e a responsabi­lidade de proteger o planeta, mas falharam em fazê-lo. Discursou para jovens que queriam proteger o planeta, que sentiam que tinham a responsabi­lidade de proteger o planeta, e que iam conseguir proteger o planeta. E o mundo ouviu. “Quero que vocês ajam como se a casa estivesse a arder”, disse Greta num dos seus discursos mais arrepiante­s em abril deste ano, dirigindo-se aos líderes da União Europeia. “Foram muitos os políticos que me disseram que o pânico nunca é bom, e eu concordo. A menos que seja estritamen­te necessário, entrar em pânico é uma péssima ideia. Mas quando a tua casa está a arder, e tu não queres perder a tua casa nas chamas, então precisas de entrar um pouco em pânico.” Com um discurso que nos deixa com um nó na garganta, com um discurso que nos faz olhar para todas as consequênc­ias dos nossos atos egoístas, com um discurso que nos faz pôr todas as mãos na consciênci­a, Greta é a voz que pode mudar o planeta. “Fazermos o nosso melhor já não chega. Temos todos de fazer aquilo que parece ser impossível. E não há problema se recusarem ouvir-me. Afinal de contas, sou só uma rapariga de 16 anos. Mas não podem ignorar os cientistas, a ciência e os milhares de crianças que estão a fazer greve e a faltar à escola pelo direito a terem um futuro. Estou a suplicar-vos: por favor, não nos falhem.”

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