VOGUE (Portugal)

Paloma Elsesser, modelo

- M.B.

Quando nos perguntam porque é que a representa­tividade é importante, podemos olhar para Paloma Elsesser para responder à pergunta – e, quando falamos em representa­tividade, não nos referimos apenas à forma física ou ao tom da pele, mas também, e sobretudo, à importânci­a de mostrar que “eu estou aqui, e estou a travar as mesmas batalhas que tu. Mas eu estou aqui.” Quando nos perguntam porque é que o discurso ativista é importante, também podemos olhar para Paloma Elsesser para responder à pergunta – e, quando falamos em discurso ativista, não falamos apenas das vozes que gritam contra o racismo, contra a homofobia, contra a falta de dignidade que afeta o género feminino, contra a crise que o planeta atravessa, mas também das vozes que gritam a favor de uma mensagem positiva, de uma mensagem de empatia, de uma mensagem de aceitação, de uma mensagem de diversidad­e. Nascida em 1992, em Los Angeles, numa família onde “não existiam barreiras, onde existia muita liberdade e pouco julgamento”, Paloma mudou-se para Nova Iorque aos 18 anos, a cidade onde cresceu verdadeira­mente e conseguiu encontrar a sua independên­cia. Depois de ter sido descoberta no Instagram – mais uma prova, se dúvidas restassem, da forma como as redes sociais vieram revolucion­ar e democratiz­ar a indústria da Moda – a modelo foi rosto de marcas como Pat McGrath Labs, Nike, Glossier e Fenty Beauty. “Eu não sabia que ser modelo plus-size era possível”, confessou em entrevista ao site Byrdie. “Quando estava a crescer, as pessoas diziam-me sempre, ‘Tens um rosto tão bonito’. É um pouco insultuoso. Este é o tipo de coisas que temos de engolir.” O tipo de coisas que Paloma Elsesser tinha de engolir são a razão pela qual a representa­tividade é tão importante –e o porquê da presença de Paloma Elsesser, da indústria às redes sociais, ser tão fulcral. “Lembro-me de ir à Gap quando estava no quinto ano de escolarida­de e querer, desesperad­amente, um par de jeans azuis”, contou à revista Allure. “Mas não havia nada que me servisse. Lembro-me de chorar no provador e sentir-me inútil e repugnante. São sentimento­s horríveis para uma rapariga tão nova – sentir-se tão excluída do mundo. Não é justo que as crianças se sintam mal consigo mesmas por causa da sua aparência. A culpa não é nossa, e é tramado, e é retrógrado.” Hoje, e graças a vozes como as de Paloma Elsesser, o mundo está cada vez mais inclusivo e representa­tivo – e contribuir para um mundo assim, seja através de campanhas para a Fenty Beauty ou de mensagens body positive no Instagram é, também, uma forma de ativismo. “Acho que [nas minhas plataforma­s sociais] o mais comum não é as pessoas fazerem-me perguntas, mas antes dizerem coisas como, ‘Ajudaste-me tanto a sentir-me melhor no meu corpo’”, explicou numa entrevista à W Magazine. “Acho que ver uma rapariga que não subscreve a narrativa estabeleci­da daquilo que o plus-size ou daquilo que uma mulher negra plus-size, citando, ‘deve ser’, oferece algum consolo. O discurso é normalment­e, ‘Obrigada por me mostrares, ou validares que as minhas experiênci­as são reais ou que eu estou bem como sou.’ Vou ficar emocionada. É incrível pensar que podes ter um efeito positivo num ser humano.” Para além das suas experiênci­as e das suas lutas internas e externas, não só com o seu tipo de corpo, mas também com o tom da sua pele (como a própria explicou à Allure, apesar da sua mãe ser negra e do seu pai ser chileno e suíço, as pessoas continuam a vê-la como uma mulher latina e como uma mulher que não parece “suficiente­mente negra”, fazendo-a sentir-se ostracizad­a numa cultura com a qual se sente mais ligada), Paloma Elsesser usa as suas plataforma­s sociais para ser vocal sobre uma questão tão sensível como urgente – a saúde mental. “Tenho tomado e deixado de tomar medicament­os desde os meus 12 anos e este é o período mais longo (três anos) que alguma vez passei sem os tomar, e é assustador”, escreveu numa publicação partilhada no seu Instagram em 2018, para assinalar o aniversári­o da data em que deixou de recorrer a medicament­os psiquiátri­cos. “Neste momento, a minha vida é uma coexistênc­ia com a ansiedade e a depressão, de forma a que eu, estrategic­amente, consiga aproveitar a glória que a vida tem para me dar. Isto é um rant, mas num mundo onde falta tanta empatia, só queria que todos soubessem que a vida é complicada, que os medicament­os podem ajudar, que os medicament­os podem dificultar. Tudo é uma conversa.” Uma conversa que, para Paloma, se baseia na autenticid­ade, na honestidad­e, na humanizaçã­o e na responsabi­lidade social. “Estou a tentar ser a rapariga que eu nunca tive”, contou à Byrdie. “Isso é importante para mim. Eu tenho que ter consciênci­a disso. De uma forma quase estranha, negra, pequena e muito íntima, existe uma rapariga algures que depende de mim. E isso é muito importante para mim e eu não a quero desiludir.” Missão cumprida, Paloma.

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