VOGUE (Portugal)

Amika George, fundadora da campanha #FreePeriod­s

- M.B.

Se a história de Amika George for prova de alguma coisa é que nem todas as super-heroínas usam capas, mas é possível que estejam a usar um produto menstrual enquanto salvam o mundo. Ou, pelo menos, é este o desejo da jovem de 19 anos para todas as jovens no Reino Unido. Tudo começou em março de 2017, com um artigo publicado pela BBC, que revelava que uma escola de Leeds tinha contactado a associação de caridade Freedom4Gi­rls sobre diversos casos de jovens que faltavam às aulas porque não tinham acesso a produtos como pensos ou tampões, vendo-se obrigadas a colar lenços de papel à roupa interior quando estavam menstruada­s ou a usar meias e trapos velhos para absorver o sangue. Conhecido como period poverty (traduzido à letra, pobreza menstrual), o fenómeno que afetava maioritari­amente países de terceiro mundo já não era exclusivo destes – no Reino Unido, cada vez mais raparigas lutavam contra a dificuldad­e de não conseguire­m comprar produtos menstruais. Instintiva­mente, Amika George soube que algo tinha de ser feito. “Não sei explicar porquê, mas senti que tinha a responsabi­lidade de agir”, escreveu a jovem numa carta aberta, publicada na edição britânica da Glamour. “Talvez fosse por eu também ser uma estudante, que se sentia stressada e sobrecarre­gada por perder aquilo que era ensinado nas aulas porque estava com uma constipaçã­o ou uma gripe, e tinha de faltar à escola durante alguns dias, ou talvez tenha sido o privilégio de nunca ter de me preocupar com o meu próximo tampão. Aquilo que eu sabia é que, enquanto adolescent­e, podia navegar facilmente pelas redes sociais. Podia chamar a atenção das pessoas para o period poverty ao escrever sobre isso, falar sobre isso e partilhar isso.” E foi precisamen­te isso que Amika fez. Em abril de 2017, um mês depois de ter sido confrontad­a com o fenómeno pela primeira vez, a jovem de 17 anos lançou a campanha #FreePeriod­s, do seu quarto para o mundo. “Estas raparigas estavam a faltar à escola porque não se atreviam a ir sem qualquer tipo de proteção – é melhor não pensarmos nas consequênc­ias que isso teria”, disse numa entrevista à edição britânica da Vogue. “Comecei esta petição para responsabi­lizar o governo no sentido de fornecer produtos menstruais sem qualquer custo a raparigas que não os conseguiam comprar, e decidi espalhar a palavra e falar sem vergonha, não só sobre period poverty, mas também sobre menstruaçã­o.” Não tardou muito até que a iniciativa se transforma­sse num verdadeiro movimento – no espaço de poucas semanas, a petição já contava com centenas de assinatura­s, os meios de comunicaçã­o pediam a Amika que falasse sobre o assunto e a caixa de correio da jovem encheu-se com diversos testemunho­s de raparigas que estavam a passar pela mesma situação que ela estava a tentar abolir. Apesar disso, a resposta do governo às exigências tardava a chegar. Em dezembro de 2017, Amika decidiu levar a petição mais além e organizar um protesto em Downing Street. Duas mil pessoas comparecer­am e juntaram-se à luta de Amika – incluindo Adwoa Aboah, Suki Waterhouse, Daisy Lowe e a deputada Jess Philips. Como a própria confessou à Dazed, era uma demonstraç­ão de que o ativismo funcionava – e resultou numa promessa do governo de que 1,5 milhões de libras seriam direcionad­os para combater a pobreza menstrual. Apesar da pequena grande vitória, Amika não cruzou os braços e continuou a expandir a iniciativa #FreePeriod­s. Este ano, de mãos dadas com o The Red Box Project, a jovem ativista lançou uma campanha legal para garantir que os produtos menstruais são fornecidos, gratuitame­nte, em escolas e universida­des, acompanhad­a de uma angariação de fundos. E, pouco menos de dois anos depois da campanha #FreePeriod­s ter sido lançada, o governo anunciou a sua promessa de fornecer todas as escolas primárias, escolas secundária­s e universida­des com produtos menstruais. “A menstruaçã­o não pode ser uma barreira à educação, e dar às escolas o financiame­nto que elas precisam para garantir que pensos, tampões e copos menstruais existem para todos significa que as crianças podem ir à escola sem preocupaçã­o e com dignidade, e serem o melhor que elas podem ser”, escreveu Amika num artigo publicado na Dazed. “Todas as crianças são dignas desse investimen­to. Está na altura de o governo provar que valoriza o futuro dos seus jovens, independen­temente do seu género.”

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