VOGUE (Portugal)

Antes do Bailey, quem é Kelly?

- Fotografia de Branislav Simoncik. Realização de Nelly Gonçalves.

A fama não é para sempre. A juventude também não. Então, o que é que liga Kelly Bailey ao mundo real? Por Patrícia Torres. Realização de Nelly Gonçalves.

Kelly Bailey é luzes, câmara e ação. Miúda da ficção nacional, dos filtros, das redes sociais, das roupas de marca e dos sound bytes na guerra de audiências. Nesta entrevista, a Vogue Portugal quis saber: quando o ruído da imagem pública se apaga, o que é que liga a Kelly à realidade?

Qual é a tua relação com o telefone? Mais prosaica ou mais inusitada? A minha relação com o telefone é mais prosaica. Mas acho que isso é algo comum na minha geração. Temos sempre o telemóvel ao nosso lado, quase como um membro extra. Há todo um universo dentro deste objeto. Ultimament­e, tenho pensado nestas questões e em maneiras de criar uma relação saudável com o meu telefone. Estar conectada, mas de maneira a que isso não tome o controle da minha vida. Tento ter algumas horas por dia em que não vivo através do meu telefone. Afasto-me e aproveito os momentos na sua plenitude, sem distrações. Apesar disso, sentes alguma pressão para estar ligada? E sentes-te ligada a quê? Não sinto essa pressão para estar ligada. Acredito que os seguidores me seguem pelo que eu lhes vou mostrando, mas sem pressão. Sei que essa pressão existe, mas eu faço com que não tenha reflexo na minha vida.

O que é que achas que significa para a tua geração o estar “ligado”? Significa estar conectada, atenta. Alternar entre o mundo digital e o mundo real. Significa estarmos mais “ligados” ao que se passa no mundo e conseguirm­os ter uma voz sobre o que pensamos, sobre determinad­o tema em tempo real.

Qual é a tua perceção sobre a maneira como as redes sociais influencia­m as relações humanas? O positivo e o negativo? A influência das redes nas relações humanas é enorme. Por um lado, conectam-nos a pessoas que de outra forma não seria possível. Podemos encontrar a nossa tribo, conectar com pessoas que têm os mesmo interesses e sentir que pertencemo­s a algo. O lado negativo deste fenómeno é que as pessoas confundem a vida real com a vida online.

Como é que defines a tua “voz” nas redes sociais? A minha “voz” não é tão barulhenta como outras “vozes”. Mas sou vocal no que diz respeito a causas que sinto próximas. Apoio aquilo em que acredito, mesmo que não publicite sempre que o faço.

Há alguma mensagem que consideres importante passar às adolescent­es que te seguem nas redes? Não se sintam pressionad­as pelas redes sociais. Cada pessoa está a fazer o seu caminho à sua maneira. Lembrem-se que a maioria das pessoas não partilha os seus dias menos bons. Quero sobretudo passar à comunidade que me segue mensagens positivas, em que todos podemos influencia­r-nos de forma feliz e solidária e não usar o digital para fomentar o bullying ou o ódio. Se não fosses atriz, achas que a tua relação com as redes sociais seria substancia­lmente diferente?

Acho que não. Não mudaria a forma como penso e como partilho, independen­temente de ter 10 ou 100 seguidores.

A minha profissão nunca mudará aquilo que eu sou.

Enquanto figura pública, que significad­o tem a palavra “privacidad­e” na tua vida? O significad­o da palavra privacidad­e, para mim, mudou nos últimos anos. Antigament­e não pensava nisso, mas ao tornar-me numa figura com visibilida­de pública, manter alguma privacidad­e torna--se complicado. Eu consigo controlar o que quero mostrar sobre a minha vida pessoal nas minhas redes. Mas não posso controlar o que o resto do mundo faz com as minhas partilhas. Sou aberta sobre a minha vida com os meus seguidores, mas existem partes que mantenho privadas. Uma vez que é tudo tão exposto, sinto necessidad­e de ter algo que seja só meu.

Há algum movimento ou causa que defendas ou à qual te sintas ligada? Penso que, tal como o resto da minha geração, existem várias causas às quais me sinto ligada. O que se passa com o mundo neste momento afeta-nos a todos e, por isso, não consigo focar--me numa só causa. O movimento pro-ambiental reforçado pela Greta Thunberg é incrível e fundamenta­l para o nosso futuro; o movimento relativo aos ataques no Sudão mostra como as redes sociais conseguem conectar o mundo; o movimento Pro-Igualdade de Género é outro que conecta comigo. Quais são, na tua opinião, as grandes bandeiras ou lutas da tua geração, aquelas cujo movimento já ninguém pode parar e sobre as quais vamos ver repercussõ­es num futuro próximo? Em 2019 existem tantas lutas… A minha geração está a viver num mundo de instabilid­ade política, financeira, ambiental. São imensas lutas, mas o que é positivo é a maneira como os mais novos estão ligados a isso e com vontade de combater para chegarmos a um mundo mais equilibrad­o.

Como é que olhas para movimentos como o body shaming ou #MeToo? São movimentos importante­s para o mundo perceber o que se passa atrás da cortina. Estamos no século XXI, mas ainda existem opiniões não pedidas sobre os nossos corpos... nossos! E de mais ninguém. O movimento #MeToo mostrou que ainda há muitos homens que tratam as mulheres como um objeto para o seu prazer. Nos dias de hoje, as redes sociais vieram dar voz a estas mulheres, mais ou menos conhecidas, que lutam para serem respeitada­s.

Existem várias adolescent­es que estão neste momento no espaço público a dar voz às causas que defendem na área do ambiente, das questões feministas e sociais. Nomes como o de Greta Thunberg, Amika George, Malala Yousafzai ou Emma Gonzalez. De entre elas, há algum nome que queiras destacar? Todas merecem destaque, mas a Emma Gonzalez tocou-me especialme­nte. A força dela para lutar, depois da experiênci­a traumática que teve, e o discurso que fez na marcha para o controlo de armas foi poderoso e um exemplo a seguir. Tens algum ídolo ou pessoas que admires e que tenham tido impacto em ti? Nunca idolatrei ninguém propriamen­te, mas tenho pessoas que me inspiram todos os dias: os atores com quem contraceno, os meus amigos de infância, uma reportagem em que leio que alguém fez algo pelo o mundo ou que se superou. São pontos de energia no meu universo que me fazem parar, refletir e integrar no meu dia a dia.

Quais eram os teus sonhos de criança? Sempre quiseste ser atriz? Sempre quis ser atriz. Sempre fui a “pateta” e fazia atuações para os meus pais e irmãos. Isso levou a que os meus pais me tenham inscrito em aulas de teatro. Foi aí que percebi que queria ser atriz. Não me lembro de nunca querer ser atriz.

Que relevância achas que tem a educação, o ensino, numa altura em que, graças às redes sociais, ser influencer é uma profissão? Estudar e ir para a Universida­de ainda faz sentido? Acredito que estudar faz sempre sentido.

Até mesmo como influencer. A imagem não é tudo. Temos mais valor com conhecimen­to do que com beleza.

Agora que és atriz o que é que na profissão correspond­e exactament­e ao que imaginaste e o que é se revelou uma desilusão? Ser atriz e praticar a minha profissão é incrível, é tudo o que sempre quis. É a minha paixão. Quando estou a atuar estou bem. Mas é um trabalho e, como qualquer outro trabalho, há alturas com mais pressão e que são mais difíceis de apreciar: passamos muito tempo fora de casa e longe da família, dias de filmagens longos e uma exposição da minha vida pessoal que talvez não acontecess­e se trabalhass­e noutra área. Sentes a tua presença nas redes sociais como um trabalho? E ele é complement­ar ou atrapalha o teu trabalho de atriz? Nesta era digital, o meu trabalho como atriz interliga-se com a minha presença nas redes. De certa forma, complement­am-se porque consigo conectar-me com as pessoas que me veem em casa. Consigo sentir de forma imediata o que as minhas personagen­s passam para o público e dessa maneira perceber se estou a criar a ideia ou o sentimento certo.

O que é que o trabalho de atriz exige mais de ti? Exige que eu me torne num camaleão.

No que é que o trabalho de atriz te fortalece? E no que é que ele te torna mais frágil? Ser atriz obriga-me a ir a mundos que não são os meus e isso faz-me mais conhecedor­a das várias realidades. Mas ser atriz é aprender a ser frágil. Deixar tudo de mim no palco ou no set. Entregar-me por completo.

Há algum tipo de personagem específico que gostasses de fazer pelo desafio de não ter nada a ver com a tua personalid­ade? Gosto da ideia de dar corpo e vida a pessoas totalmente diferentes de mim. Sei que muitas vezes, através delas, poderei vir a ter um impacto positivo na sociedade e isso cria em mim um forte sentimento de responsabi­lidade. Quando não estás a trabalhar quais são os teus interesses? Adoro viajar. Acho que é mesmo um dos meus maiores vícios. Li uma vez alguém que escreveu isto: “Onde é que gastas mais dinheiro, mas que te deixa mais rico? Viajar” Não podia estar mais de acordo.

Que livros, séries ou filmes tens visto? Adorei a série 13 Reasons Why. É uma série que aborda assuntos atuais e que reflete algumas questões com as quais os adolescent­es se debatem. Onde é que te vês daqui a cinco anos? Gosto de viver o presente e aproveitar o agora. A minha vida, em cinco anos, mudou muito. Por isso, daqui a cinco anos não consigo imaginar onde possa estar. É muito tempo. Mas espero continuar a trabalhar no que amo, a viajar muito e a conhecer pessoas interessan­tes e que me acrescenta­m valor.

Se não fosses atriz, o que é que te vias a fazer?

Gostava de estar ligada a algum projeto que se relacionas­se com as pessoas de uma forma positiva e inspirador­a.

O que é que a Kelly, figura pública, diria à

Kelly, ainda anónima, aspirante a atriz, se se encontrass­em? Acho que diria “vai com calma miúda que tudo vai acontecer no seu tempo.” (risos)

E quem é a Kelly fora dos ecrãs? Sou só uma miúda de

21 anos. Acho que às vezes as pessoas se esquecem disso. ●

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 ??  ?? Analicia: vestido em crepe georgette, DIOGO MIRANDA. Sebastian: casaco em lã, AMI. Kelly: vestido em seda, ROCHAS. Na página ao lado: Kelly: vestido em cetim de seda, LUÍS CARVALHO. Rafaela: macacão em cetim de seda, LUÍS CARVALHO.
Analicia: vestido em crepe georgette, DIOGO MIRANDA. Sebastian: casaco em lã, AMI. Kelly: vestido em seda, ROCHAS. Na página ao lado: Kelly: vestido em cetim de seda, LUÍS CARVALHO. Rafaela: macacão em cetim de seda, LUÍS CARVALHO.
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 ??  ?? Rafaela: casaco em organza de seda, MAX MARA. Kelly: camisa em sarja de algodão, MIU MIU. Sebastian: gabardina vintage em algodão, JOKER. Calças em sarja de algodão, NYCOLE.
Rafaela: casaco em organza de seda, MAX MARA. Kelly: camisa em sarja de algodão, MIU MIU. Sebastian: gabardina vintage em algodão, JOKER. Calças em sarja de algodão, NYCOLE.
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 ??  ?? Rafaela e Kelly: casacos em lã fria, ambos SACOOR. Na página ao lado: Kelly e Sebastian: casacos em lã fria, ambos SACOOR.
Rafaela e Kelly: casacos em lã fria, ambos SACOOR. Na página ao lado: Kelly e Sebastian: casacos em lã fria, ambos SACOOR.
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 ??  ?? Sebastian: casaco em veludo cotelê, INÊS TORCATO. Na página ao lado: Kelly: vestido em malha de lã, AMI. Rafaela: camisola em malha de lã, AMI.
Sebastian: casaco em veludo cotelê, INÊS TORCATO. Na página ao lado: Kelly: vestido em malha de lã, AMI. Rafaela: camisola em malha de lã, AMI.
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 ??  ?? Veja o vídeo, aqui.
Kelly: hoodie em algodão, CHRISTOPHE­R KANE. Calças em denim, H&M. Ténis, da produção. Na página ao lado: Kelly: gabardina em sarja de algodão, GIVENCHY. Analicia: vestido em pele, ALBERTA FERRETI.
Modelos: Analicia @ Elite Lisbon. Sebastian @ Karacter Agency. Rafaela @ Central Models. Cabelos: Rui Rocha com produtos Kérastase. Maquilhage­m: Patrícia Lima. Assistente­s de realização: Larissa Marinho e Eduarda Pedro. Vídeo: Catarina Almeida. A Vogue Portugal agradece ao Mustik.co Warehouse todas as facilidade­s concedidas. Editorial fotografad­o com o sistema de quatro câmaras da Leica do novo Huawei P30 Pro.
Veja o vídeo, aqui. Kelly: hoodie em algodão, CHRISTOPHE­R KANE. Calças em denim, H&M. Ténis, da produção. Na página ao lado: Kelly: gabardina em sarja de algodão, GIVENCHY. Analicia: vestido em pele, ALBERTA FERRETI. Modelos: Analicia @ Elite Lisbon. Sebastian @ Karacter Agency. Rafaela @ Central Models. Cabelos: Rui Rocha com produtos Kérastase. Maquilhage­m: Patrícia Lima. Assistente­s de realização: Larissa Marinho e Eduarda Pedro. Vídeo: Catarina Almeida. A Vogue Portugal agradece ao Mustik.co Warehouse todas as facilidade­s concedidas. Editorial fotografad­o com o sistema de quatro câmaras da Leica do novo Huawei P30 Pro.

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