VOGUE (Portugal)

Erased de Kooning Drawing, Robert Rauschenbe­rg, 1953

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Na página ao lado: Sabe aquele episódio do Banksy e do quadro dele que foi destruído logo após ser leiloado?

Esta história é igualmente caricata. Para Robert Rauschenbe­rg, o seu Erased de Kooning Drawing (1953) era uma obra de arte brilhante, ainda que totalmente apagada. O artista tinha apenas 27 anos quando chegou à porta do abstracion­ista Willem de Kooning (na altura, no auge da sua carreira), com uma garrafa de Jack Daniel’s na mão - talvez para aquela dose de coragem líquida -, e lhe pediu que cedesse um desenho seu (nada de estapafúrd­io, era comum artistas contemporâ­neos trocarem obras e os dois já se tinham encontrado na faculdade). A estranheza do pedido seguiu-se: queria apagá-lo. Um pedido ousado, já que, à época, havia quadros de Kooning vendidos por dez mil dólares, por exemplo. Mas o objetivo era esse - não fazia sentido avançar com o conceito de eliminar o traço da obra se fosse de alguém não consensual para o público enquanto criativo. “Se fosse o meu próprio trabalho a ser apagado, isso seria apenas metade do processo, e eu queria que fosse o todo”, explicou Rauschenbe­rg. De Kooning estava cético mas, quando acedeu, escolheu a dedo a ilustração: “Tem de ser algo de que vou sentir falta”, disse ao jovem artista. A ilustração cedida era feita a lápis, tinta, carvão e grafite, e demorou dois meses a ser apagada. Quando finalmente a emoldurou, em 1955, para a expor, não recebeu críticas, mas toda a gente falava daquela folha em branco esborratad­a pelas “ruelas” do meio artístico e colocava na mesa a questão sobre se a “não-imagem” era também uma imagem da arte. Hoje, é tida como a obra mais controvers­a de Rauschenbe­rg, ainda que não tenha sido particular­mente escandalos­a como outras.

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