Rhythm 0, Marina Abramovich, 1974
Em 1964, Yoko Ono organizou uma performance artística provocatória na qual convidava o público a pegar numa tesoura e a cortar um pedaço da sua roupa enquanto ela permanecia imóvel e em silêncio. As pessoas ficaram de tal forma chocadas que nem falaram sobre isso, confessou Ono, tempos mais tarde, sobre esta sua Cut Piece. Uma década depois, Marina Abramovich pegou no conceito para conceber Rhythm 0 (1974), mas elevou a fasquia a um nível mais macabro e perverso. A artista colocou à disposição do público 72 objetos (além da tesoura, tinha um chicote, uma pluma, uma rosa, um bisturi, uma arma, uma bala, uma fatia de chocolate…) que os participantes podiam escolher e fazer o que bem entendessem. A performance durou seis horas e, ao longo do tempo, a audiência foi escalando o grau de violência: Abramovic assume que ainda tem a cicatriz no pescoço de onde um dos participantes lhe tirou sangue e recorda que “estava preparada para morrer” quando um dos voluntários lhe apontou uma arma à cabeça, desencadeando uma luta dentro da galeria, a propósito dos limites já terem sido ultrapassados. Quando chegou ao fim, Marina diz que todos evitaram olhá-la nos olhos.