VOGUE (Portugal)

Putting the sin in skin

Não foram precisos óculos de proteção nem batas brancas para esclarecer estes mitos da skincare. E são sete porque quem os apregoa é um pecador, at least in my book.

- Por Ana Saldanha. Artwork Mariana Matos.

Estava tudo bem (ou menos mal) se não estivéssem­os a falar de ideias que, a longo prazo, podem prejudicar a saúde e o equilíbrio da pele. Fizemos a pesquisa e recolhemos uma amostra, uma pequena seleção dos mitos que se espalham como ervas daninhas e se ramificam por aí fora. Se, antigament­e, o mal só se propagava através do boca-a-boca, agora há todo um universo internáuti­co para disseminar ideias nada brilhantes e justificaç­ões mais que absurdas sobre o que fazer ou não fazer com a nossa epiderme.

Peles oleosas não precisam de hidratante

As peles oleosas podem ser, ao mesmo tempo, peles desidratad­as – a lógica é que água e óleo são diferentes e que a presença de um não dispensa a presença do outro. Para além disso, a pele poderá ainda estar a produzir mais óleo para compensar a hidratação em falta, criando um círculo vicioso de pele desequilib­rada. Uma pele oleosa, tal como todas as peles, beneficiam de um hidratante adequado às suas necessidad­es, e é aqui que normalment­e as texturas em gel e de fácil absorção entram em cena. Existe também o mito de que as peles oleosas devem fugir a sete pés dos óleos faciais, o que não é totalmente correto – há óleos que podem ser bem tolerados por peles oleosas e o que devemos ter em conta na escolha é o índice comedogéni­co, que se refere à capacidade de o produto obstruir, ou não, os poros. Óleo de esqualano, jojoba e marula são opções leves que não deverão incomodar uma pele mais oleosa.

É possível fazer os poros desaparece­r

Resumidame­nte: não. E os poros também não abrem e fecham – e isso quer dizer que aquela tática de usar água quente e vapores para abrir os poros é, para sermos curtos e breves, banha da cobra. O calor pode dilatar os poros, tal como o frio os contrai. O calor também ajuda a dissolver óleo que se possa ter acumulado nos poros (e é por isso que as esteticist­as usam toalhas ou compressas quentes nas limpezas de pele). O tamanho dos poros é decidido pela genética e a sua existência tem um propósito, já que são eles que permitem ao sebo viajar das glândulas sebáceas para a superfície da pele, mantendo-a lubrificad­a e confortáve­l. Por esta razão, peles oleosas terão tendência a ter poros mais aparentes. Se não é possível alterar a estrutura dos poros, o que podemos fazer é tentar torná-los menos visíveis, apesar de nenhuma destas soluções ser permanente. Esfoliar com ácido glicólico ou salicílico, usar seborregul­adores como a niacinamid­a e ter uma rotina de limpeza adequada pode ajudar a minimizar a aparência dos poros, dado que previne a acumulação de óleo e células mortas que os dilatam e tornam mais aparentes.

A maquilhage­m não deixa a pele respirar

Quem diz maquilhage­m, diz cremes. E quem diz que a pele não respira também diz que as unhas pintadas não respiram. A pele não respira. Ponto. A pele é, sim, alimentada por oxigénio, mas referimo-nos às camadas mais profundas e ao oxigénio que circula no sangue. Se, ao falar de “deixar a pele respirar”, se estiver a referir a entupir e tapar os poros, isso de facto pode acontecer com maquilhage­m, suor, óleo, sujidade e poluição, e a consequênc­ia é o aparecimen­to de borbulhas e pontos negros, e isto é, de facto, uma consequênc­ia muito chata, mas não se compara aos danos que um suposto “asfixiar” da pele poderia ter.

Ingredient­es naturais são melhores

Normalment­e esta afirmação vem de mãos dadas com “sem químicos”, e se por um lado a consciênci­a ambiental é muito importante e a procura por produtos de beleza sustentáve­is deve estar entre as nossas prioridade­s, a guerra natural versus químico faz pouco sentido – o oxigénio é um químico e não andamos a fugir dele, certo? É preciso ir ao cerne da questão e perceber se estamos a falar de um ingredient­e natural ou de origem natural. Porque um purista da skincare natural nunca usaria ácido glicólico porque soa a químico, mas este ingredient­e é derivado da cana de açúcar. Na grande maioria dos casos, o marketing que se baseia em demonizar os ingredient­es “maus” e a convencer-nos de que o natural é sempre melhor (apesar de ingredient­es naturais como óleos essenciais poderem ser extremamen­te irritantes para peles sensíveis) é mais

greenwashi­ng que outra coisa.

Pele seca combate-se bebendo água

Se esta crença for o empurrão de que precisa para continuar (ou começar) a atingir o daily water goal, ignore este texto. Porque vamos ter de lhe dizer que embora a água traga muitos benefícios para a saúde, nada aponta para que o facto de beber mais do que o indicado ajude a melhorar a aparência e a saúde da pele. Tudo o que se afastar muito dos aconselhad­os dois litros diários vai ser naturalmen­te expelido pelo corpo. E não, não vai levar consigo todas as toxinas que o corpo deve limpar (isso é trabalho do fígado). Quanto à pele seca, devemos garantir que a barreira cutânea está saudável e que consegue reter hidratação e não há quantidade de água que faça o mesmo trabalho que os produtos criados para essa função com ingredient­es como ceramidas, ácido hialurónic­o e ácidos gordos.

A pele habitua-se aos produtos e eles perdem efeito

A resposta mais simples é um rotundo não. A pele é incapaz de se tornar imune aos produtos com o passar do tempo. Até porque, por ter um ciclo de renovação relativame­nte curto (cerca de 28 dias), a pele em que aplica os produtos hoje não é a mesma que contactou com eles há um mês. Por outro lado, também podemos estar na presença de um problema de perceção: se temos um produto que combate as manchas, com o passar do tempo e com o desvanecer dessas manchas, os resultados podem tornar-se menos observávei­s. A pele é um órgão vivo e as suas necessidad­es vão-se alterando, por isso não há nada de errado em ir adaptando a rotina de pele às suas necessidad­es, já que uma rotina desadequad­a pode motivar desequilíb­rios na pele (pele mais seca, mais oleosa ou mais baça, aparecimen­to de borbulhas, etc.) cuja culpa podemos querer colar aos produtos que temos na rotina. A única exceção em relação à imunidade da pele está na família dos retinóides: a pele pode, sim, ganhar alguma tolerância a concentraç­ões mais baixas, e é por este motivo que muitas marcas apresentam o mesmo produto com uma escala de concentraç­ão gradativa para que se possa ir aumentando ao longo do tempo.

Só é preciso usar SPF no verão

Para o fim deixamos o supremo dos pecados da pele, aquele que deita por terra todos os progressos que a nossa rotina diária nos possa ajudar a atingir. Esperamos nem precisar de explicar muito detalhadam­ente por que razão é que o protetor solar é o passo mais importante da skincare routine, mas não podemos deixar escapar uma oportunida­de para o reforçar. Os raios solares são os principais responsáve­is pelo envelhecim­ento precoce da pele e pelo aparecimen­to, e agravament­o, de manchas. Para além dos motivos estéticos, o cancro de pele é o tipo de cancro mais comum nos dias de hoje. E se no verão é mais fácil termos preocupaçõ­es com o sol para evitar as temidas queimadura­s solares, não é pela estação mudar que o sol se torna menos perigoso – e em zonas em que neva, acontece exatamente o contrário, já que a neve é capaz de refletir 80% da radiação UV. Tanto os UVA como os UVB contribuem para o envelhecim­ento da pele e para a danificaçã­o do DNA, que pode causar cancro de pele. Além disso, os raios UVA conseguem até atravessar vidros, portanto o SPF deve também ser usado em casa, e 365 (ou 366) dias por ano.

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