Putting the sin in skin
Não foram precisos óculos de proteção nem batas brancas para esclarecer estes mitos da skincare. E são sete porque quem os apregoa é um pecador, at least in my book.
Estava tudo bem (ou menos mal) se não estivéssemos a falar de ideias que, a longo prazo, podem prejudicar a saúde e o equilíbrio da pele. Fizemos a pesquisa e recolhemos uma amostra, uma pequena seleção dos mitos que se espalham como ervas daninhas e se ramificam por aí fora. Se, antigamente, o mal só se propagava através do boca-a-boca, agora há todo um universo internáutico para disseminar ideias nada brilhantes e justificações mais que absurdas sobre o que fazer ou não fazer com a nossa epiderme.
Peles oleosas não precisam de hidratante
As peles oleosas podem ser, ao mesmo tempo, peles desidratadas – a lógica é que água e óleo são diferentes e que a presença de um não dispensa a presença do outro. Para além disso, a pele poderá ainda estar a produzir mais óleo para compensar a hidratação em falta, criando um círculo vicioso de pele desequilibrada. Uma pele oleosa, tal como todas as peles, beneficiam de um hidratante adequado às suas necessidades, e é aqui que normalmente as texturas em gel e de fácil absorção entram em cena. Existe também o mito de que as peles oleosas devem fugir a sete pés dos óleos faciais, o que não é totalmente correto – há óleos que podem ser bem tolerados por peles oleosas e o que devemos ter em conta na escolha é o índice comedogénico, que se refere à capacidade de o produto obstruir, ou não, os poros. Óleo de esqualano, jojoba e marula são opções leves que não deverão incomodar uma pele mais oleosa.
É possível fazer os poros desaparecer
Resumidamente: não. E os poros também não abrem e fecham – e isso quer dizer que aquela tática de usar água quente e vapores para abrir os poros é, para sermos curtos e breves, banha da cobra. O calor pode dilatar os poros, tal como o frio os contrai. O calor também ajuda a dissolver óleo que se possa ter acumulado nos poros (e é por isso que as esteticistas usam toalhas ou compressas quentes nas limpezas de pele). O tamanho dos poros é decidido pela genética e a sua existência tem um propósito, já que são eles que permitem ao sebo viajar das glândulas sebáceas para a superfície da pele, mantendo-a lubrificada e confortável. Por esta razão, peles oleosas terão tendência a ter poros mais aparentes. Se não é possível alterar a estrutura dos poros, o que podemos fazer é tentar torná-los menos visíveis, apesar de nenhuma destas soluções ser permanente. Esfoliar com ácido glicólico ou salicílico, usar seborreguladores como a niacinamida e ter uma rotina de limpeza adequada pode ajudar a minimizar a aparência dos poros, dado que previne a acumulação de óleo e células mortas que os dilatam e tornam mais aparentes.
A maquilhagem não deixa a pele respirar
Quem diz maquilhagem, diz cremes. E quem diz que a pele não respira também diz que as unhas pintadas não respiram. A pele não respira. Ponto. A pele é, sim, alimentada por oxigénio, mas referimo-nos às camadas mais profundas e ao oxigénio que circula no sangue. Se, ao falar de “deixar a pele respirar”, se estiver a referir a entupir e tapar os poros, isso de facto pode acontecer com maquilhagem, suor, óleo, sujidade e poluição, e a consequência é o aparecimento de borbulhas e pontos negros, e isto é, de facto, uma consequência muito chata, mas não se compara aos danos que um suposto “asfixiar” da pele poderia ter.
Ingredientes naturais são melhores
Normalmente esta afirmação vem de mãos dadas com “sem químicos”, e se por um lado a consciência ambiental é muito importante e a procura por produtos de beleza sustentáveis deve estar entre as nossas prioridades, a guerra natural versus químico faz pouco sentido – o oxigénio é um químico e não andamos a fugir dele, certo? É preciso ir ao cerne da questão e perceber se estamos a falar de um ingrediente natural ou de origem natural. Porque um purista da skincare natural nunca usaria ácido glicólico porque soa a químico, mas este ingrediente é derivado da cana de açúcar. Na grande maioria dos casos, o marketing que se baseia em demonizar os ingredientes “maus” e a convencer-nos de que o natural é sempre melhor (apesar de ingredientes naturais como óleos essenciais poderem ser extremamente irritantes para peles sensíveis) é mais
greenwashing que outra coisa.
Pele seca combate-se bebendo água
Se esta crença for o empurrão de que precisa para continuar (ou começar) a atingir o daily water goal, ignore este texto. Porque vamos ter de lhe dizer que embora a água traga muitos benefícios para a saúde, nada aponta para que o facto de beber mais do que o indicado ajude a melhorar a aparência e a saúde da pele. Tudo o que se afastar muito dos aconselhados dois litros diários vai ser naturalmente expelido pelo corpo. E não, não vai levar consigo todas as toxinas que o corpo deve limpar (isso é trabalho do fígado). Quanto à pele seca, devemos garantir que a barreira cutânea está saudável e que consegue reter hidratação e não há quantidade de água que faça o mesmo trabalho que os produtos criados para essa função com ingredientes como ceramidas, ácido hialurónico e ácidos gordos.
A pele habitua-se aos produtos e eles perdem efeito
A resposta mais simples é um rotundo não. A pele é incapaz de se tornar imune aos produtos com o passar do tempo. Até porque, por ter um ciclo de renovação relativamente curto (cerca de 28 dias), a pele em que aplica os produtos hoje não é a mesma que contactou com eles há um mês. Por outro lado, também podemos estar na presença de um problema de perceção: se temos um produto que combate as manchas, com o passar do tempo e com o desvanecer dessas manchas, os resultados podem tornar-se menos observáveis. A pele é um órgão vivo e as suas necessidades vão-se alterando, por isso não há nada de errado em ir adaptando a rotina de pele às suas necessidades, já que uma rotina desadequada pode motivar desequilíbrios na pele (pele mais seca, mais oleosa ou mais baça, aparecimento de borbulhas, etc.) cuja culpa podemos querer colar aos produtos que temos na rotina. A única exceção em relação à imunidade da pele está na família dos retinóides: a pele pode, sim, ganhar alguma tolerância a concentrações mais baixas, e é por este motivo que muitas marcas apresentam o mesmo produto com uma escala de concentração gradativa para que se possa ir aumentando ao longo do tempo.
Só é preciso usar SPF no verão
Para o fim deixamos o supremo dos pecados da pele, aquele que deita por terra todos os progressos que a nossa rotina diária nos possa ajudar a atingir. Esperamos nem precisar de explicar muito detalhadamente por que razão é que o protetor solar é o passo mais importante da skincare routine, mas não podemos deixar escapar uma oportunidade para o reforçar. Os raios solares são os principais responsáveis pelo envelhecimento precoce da pele e pelo aparecimento, e agravamento, de manchas. Para além dos motivos estéticos, o cancro de pele é o tipo de cancro mais comum nos dias de hoje. E se no verão é mais fácil termos preocupações com o sol para evitar as temidas queimaduras solares, não é pela estação mudar que o sol se torna menos perigoso – e em zonas em que neva, acontece exatamente o contrário, já que a neve é capaz de refletir 80% da radiação UV. Tanto os UVA como os UVB contribuem para o envelhecimento da pele e para a danificação do DNA, que pode causar cancro de pele. Além disso, os raios UVA conseguem até atravessar vidros, portanto o SPF deve também ser usado em casa, e 365 (ou 366) dias por ano.