Jardim do Éden
Neste paraíso, há uma Serpenti em vez da serpente, uma Lucia Silvestri em vez de uma Eva e não há uma maçã off limits, mas a tentação é igual: o fruto da criatividade da Bvlgari não é proibido, mas é na mesma o mais apetecido.
N ão sabemos o que veio primeiro, se a sedução pelo proibido ou a serpente persuasiva, mas na Bvlgari os dois conceitos são apanágio por igual: é fácil seduzirem com as suas peças – não é à toa que a Serpenti seja um ícone – e é fácil ser persuadido a fidelizar-se à marca, não só pelo design, mas também pela filosofia, que prima não só pela qualidade como pela ética. Além de ser membro do Responsible Jewellery Council (RJC) desde 2006, a empresa trabalha com matérias primas de fontes certificadas há vários anos – desde 2019 que 100% do ouro da Bvlgari vem destas fontes certificadas pelo RJC –, sendo que, em dezembro passado, foi uma das primeiras a renovar com sucesso a certificação RJC COP, cumprindo com os novos e exigentes padrões que se estendem pela primeira vez a novas áreas, como a das pedras coloridas (em particular rubis, esmeraldas e safiras), a prata, além do ouro e dos diamantes. Aqui, a única proibição é não ficar rendida às suas boas práticas tanto quanto ao seu espólio de joalharia: “Da mineração ao processo de fabrico, a Bvlgari trabalha para garantir que toda a cadeia de fornecimento use metais preciosos e pedras de origem responsável, com a mais alta consideração pela ética e pelo meio ambiente”, assegura a sua diretora criativa, Lucia Silvestri, com quem a Vogue falou sobre criatividade e limites, a nova coleção Viper, e o espírito da empresa onde está desde os seus 18 anos. “Acho que essas questões sempre foram obrigatórias, mas com certeza na sociedade de hoje estão a ganhar cada vez mais atenção. Houve uma mudança no conceito de luxo do consumidor, o foco [deixou de ser] apenas no produto, para [ ser] a filosofia por trás dele; a escolha de compra dos consumidores é agora mais do que nunca guiada por critérios éticos, sociais e ambientais. Há uns anos, pensar em luxo e sustentabilidade de uma vez só parecia um paradoxo; hoje, não só é possível, mas essencial. Hoje, os consumidores esperam que mais e mais marcas de luxo não apenas ofereçam produtos de alta qualidade, mas também sejam cidadãos corporativos exemplares”, remata. A nova coleção Serpenti
Viper usufrui em pleno desse espírito, que na verdade não é novo, apenas está mais vincado.
Viper surge no seguimento de uma emblemática gama, a Serpenti, que já existe desde o final dos anos 40 e que tem vindo a renovar-se ao longo dos anos, sem nunca defraudar a essência do símbolo da serpente, que nasceu em meados do século XX. Aliás, uma evolução que se adequa ao animal que lhe serve de motivo – sempre em transformação, sem nunca perder a sedução, a serpente muda a sua pele, mas nunca aquilo que é. Daí que se tenha tornado uma assinatura da Bvlgari: “A cobra é uma criatura cujas características únicas há muito fascinam a imaginação humana e que surge com destaque nos mitos e tradições folclóricas de todas as culturas do mundo; é um símbolo de renascimento, proteção, fertilidade e imortalidade”, explica Silvestri. “A serpente enquanto símbolo também é uma presença constante na história do design de joias, servindo tanto propósitos ornamentais quanto conciliadores. Para a Bvlgari, a Serpenti é o seu ícone mais lendário; um símbolo de poder, de sedução, mas também, e principalmente, de uma metamorfose sem fim. Assim como a cobra se transforma continuamente ao mudar a sua pele, o ícone da Bvlgari continua a sua evolução imparável que teve início no final dos anos 40. A nova coleção
Serpenti Viper é seu último passo evolutivo, apresentando uma construção modular mais do que nunca flexível que permite que as joias se envolvam naturalmente em torno do corpo como uma segunda pele dourada e sedutora para usar em todas as ocasiões”, revela a diretora criativa, acrescentando que a “Serpenti foi capaz de mudar a sua ‘pele’ coleção após coleção, continuamente inovando, atualizando-se e adaptando-se ao ambiente envolvente e à sociedade em constante mudança, sem perder essa sua essência e vibração original. De certa forma, essa habilidade lembra a abordagem que sempre adotei, principalmente desde a minha nomeação como Diretora Criativa, alimentando o ADN da Bvlgari em cada criação que faço, mas sempre inovando, tornando-a contemporânea.” Viper é o exemplo perfeito de aliança entre ADN e novidade, pode constatar-se a olho nu. Com sets de diamantes e disponível em três tonalidades de ouro, a linha inclui uma vasta seleção inédita de pulseiras, anéis, colares e brincos, que jogam com os tons dourados disponíveis, muitas vezes cruzando-os na mesma peça. Viper inclui ainda pendentes e brincos que fazem match. Lucia abre o véu dos bastidores e conta-nos um pouco mais: “A ideia da Serpenti Viper nasceu da Serpenti High Jewellery Creations. Queríamos criar uma versão que pudesse ser facilmente usada no dia a dia e em todas as
ocasiões, por isso trabalhámos no símbolo estilizando-o de uma forma que ainda lembrasse que tipo de animal é; mas, ao mesmo tempo, o símbolo não é tão proeminente e a joia também pode ser usada independentemente dele”, desvenda, acrescentando que “a nova coleção Serpenti Viper é a mais recente etapa na transformação da Serpenti. Abraçando a mudança e a evolução, interpretamos a assinatura emblemática com ousadia contemporânea e cosmopolita, injetando uma nova vibração em Serpenti Viper. É uma coleção muito lúdica, podes brincar com as diferentes tonalidades de ouro que disponibiliza, diferentes materiais (já que oferece referências tanto simples como com pedras) ou ainda misturá-la com outras coleções Bvlgari.” Usar o termo brincar é uma referência curiosa nesta resposta de Silvestri, porque passa a ideia de liberdade – mas quanta liberdade é possível ter-se com um símbolo com mais de 70 anos, que já tem as suas linhas delimitadas? Há limites à criatividade no que se pode fazer com ele, tendo em conta que há uma essência que não pode ser defraudada? A criativa nunca sentiu, até agora, “sinais proibidos” no modo como imagina uma nova linha para a casa. E certamente, não no que diz respeito a Serpenti, já que “as suas formas sinuosas são uma fonte inesgotável de inspiração.” Além disso, seria difícil para Silvestri defraudar ou desvirtuar o cartão de visita da marca – ela própria é um cartão de visita. Os anos de Lucia na Bvlgari trazem-lhe um conhecimento incomparável do ADN da empresa, a profundidade com que imprime Bvlgari nas suas criações surge de forma fácil e natural.
Afinal, a sua carreira, ali, começou cedo, com apenas 18 anos. Era estudante de biologia e o pai, funcionário da empresa, perguntou-lhe se não queria fazer a licença de maternidade da sua secretária. Os irmãos Bvlgari rapidamente perceberam a sua dedicação e talento, e a jovem ficou desde então nos quadros: “A minha entrada na Bvlgari foi uma feliz coincidência.
Candidatei-me a uma substituição durante a licença de maternidade enquanto estudava biologia e os irmãos Bvlgari viram a paixão e a harmonia que tenho para com as pedras; eles apoiaram-me, orientaram e ensinaram-me muito. Desde o início, e principalmente desde a minha nomeação como Diretora Criativa da marca, o meu objetivo sempre foi inovar e, ao mesmo tempo, destacar o ADN da Bvlgari. Desde então, tantos anos se passaram e muitas lembranças também. É difícil para mim escolher apenas três, mas com certeza entre eles está o momento em que fui nomeada Diretora Criativa da Bvlgari em 2013, cumprindo oficialmente a função que até então sempre tinha sido de Paolo Bvlgari.” Os anos de casa refletem-se no amor à camisola e na forma apaixonada e de com que fala da marca. É um amor fácil, parece-nos: não só pelas boas práticas, mas também na manutenção da manufatura, uma vez que como a Bvlgari já há poucas a prezar os métodos tradicionais e a importância do artesão.
Eque não é só na fonte que primam pela consciência: no respeito pelos recursos humanos, nunca menosprezaram a importância do artesanal, assumindo a sua relevância para que as suas propostas sejam sempre únicas. E ainda que o peso do artesanal seja diferente de peça para peça, “em cada criação Bvlgari, o toque e a supervisão humana são fundamentais e muito presentes”, assegura. E isso faz diferença no produto final, devido às várias características apenas possíveis com a mão humana à mistura, como “a mente, as Mani Intelligenti, a sensibilidade, a grande experiência desenvolvida e adquirida ano após ano, criação após criação, que permite compreender profundamente a melhor forma de trabalhar cada peça única”, defende Silvestri, assegurando que não é uma preferência ou uma questão de tendência, “é apenas uma das principais características da Bvlgari, que torna cada produto único. O alto nível de habilidade dos artesãos Bvlgari, o cuidado e a atenção que eles colocam em todas as criações não podem ser substituídos, não importa o quão rápido seja o mundo em que vivemos.” É por isso que também se esforçam para que este know-how nunca se perca: “Para a Bvlgari, transmitir o know-how geração após geração é fundamental”, sublinha a diretora criativa. “No nosso laboratório, há sempre diferentes gerações a trabalhar em conjunto para transmitir este importante know-how. Criar oportunidades para jovens profissionais e transmitir o conhecimento da marca para a próxima geração é para nós uma prioridade e, por isso, a Bvlgari apoia várias iniciativas neste sentido; um exemplo é a abertura, desde abril de 2017, da Bvlgari Jewellery Academy, um programa de formação interna para jovens artesãos com o objetivo de aprimorar o conjunto de habilidades profissionais dos funcionários e criar oportunidades de emprego. A Academia é parte integrante do fabrico de joias de última geração em Valenza. Os ourives profissionais estão a transferir o seu conhecimento e experiência de fabrico de joias Bvlgari para os jovens profissionais, alavancando a criatividade, partilha de conhecimento e valorização de talentos. De 2017 até hoje, a Bvlgari realizou 11 cursos académicos, recebendo cerca de 200 alunos e contratando 90% deles no final do curso”, admite Lucia Silvestri. Um ligeiro acrescento, então, se faz favor: este fruto não é só apetecido, deve ser ainda aplaudido.