Best Of: Videoclipes
Video Killed The Radio Star foi o primeiro videoclipe a passar na MTV, em agosto de 1981. Na altura acreditava-se piamente que a televisão tinha matado as estrelas de rádio mas, a esta distância, entre plataformas de streaming e canais online de difusão de música, parece que foi a tecnologia que matou tudo o resto. Se também tem saudades dos tempos em que a cereja no topo de um hit era um videoclipe, reveja todos estes. Fazem parte da história.
Quando os Blondie lançaram Heart Of Glass, em 1979, o mundo estava a entrar numa era disco de que só sairia muito tempo depois. As lantejoulas, o glamour, as bolas de espelhos… Tudo isso era sinónimo de uma certa irreverência — ou decadência — altamente desejada por uma juventude sedenta de coisas novas. Debbie Harry, a vocalista da banda, foi a poster girl perfeita dessa época de mudança. Não há nada de extraordinário no videoclipe, a cantora “apenas está” em cima de um palco, a interpretar a música, e no entanto tudo nele é inovador e refrescante. O mesmo acontece com Let’s Dance, de David Bowie, ou Thriller, de Michael Jackson, ambos de 1983, e ambos considerados revolucionários na história da música, cada um à sua maneira. Impossível fazer esta lista sem referir
I Want To Break Free (1984), dos Queen, um grito da emancipação de género feito com muito humor — Freddie Mercury estava muito à frente de todos nós — e Take On Me (1985), dos A-Ha, que elevaram o conceito de colaboração entre meios, com fabulosas ilustrações a darem vida aos protagonistas do seu teledisco. Os anos 80 seriam pródigos em boa música, e os U2 fizeram grande parte dela. Com Where The Streets Have No Name, de 1987, elevaram a fasquia: a gravação do videoclipe foi feita no rooftop de uma loja de bebidas na baixa de Los Angeles, o que atraiu mais de mil pessoas e obrigou a um aparato policial… que ficou registado para a posteridade. Para a posteridade ficaram, igualmente, as “polémicas” cenas de Like A Prayer, de Madonna — vamos acreditar que sabe do que estamos a falar — e as altas doses de sexualidade contidas em Wicked Game, de Chris Isaak. As duas canções, referentes a 1989, fecham uma década de excessos e euforia. Isso sente-se com o minimalismo inquietante de Nothing Compares 2 U, de Sinéad O’Connor, de 1990 — é impossível esquecer o olhar penetrante de O’Connor, como se nos estivesse a acusar de alguma coisa. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Em 1991 sai Losing My Religion, dos R.E.M., e Smells Like Teen Spirit, dos Nirvana, e tanto um como outro poderiam ter sido realizados agora. Nos dois sente-se um grito de revolta e de desespero; a estética, essa, é intemporal. November Rain, dos Guns N’ Roses, lançado em 1992, foi o videoclipe para acabar com todos os videoclipes — se nunca viu, esta é uma boa desculpa — tanto pelo investimento (permanece como um dos mais caros de sempre) como pelo storytelling. Não vamos dizer mais nada. Mas vamos dizer que sim, queremos sempre voltar a 1993 e a Crazy, dos Aerosmith, com Alicia Silverstone e Liv Tyler,
à tristeza encoberta de Waterfalls, das TLC, e à melancolia de Tonight, Tonight, dos The Smashing Pumpkins, ambos de 1995. Noutro registo, mais animado, está Wannabe, das Spice Girls, um golpe de génio que as pôs a dançar em cima de uma mesa de senhoras bem comportadas — e as empurrou para os lugares cimeiros dos tops de 1996. Foi nesse ano que Alanis Morissette se deixou filmar num carro, com vários alter egos, para mostrar Ironic, e que os No Doubt irromperam pela cena musical com Don’t Speak, que se tornou um hino ao desamor. O melhor ainda estava para vir. Em 1997 o mundo teve a honra de conhecer os Daft Punk com Around The World, um alien no meio de tudo o que se fazia na altura, e que parecia abrir caminho para o que estava para vir — falamos de, por exemplo, Clint Eastwood (2001), dos Gorillaz, de Seven Nation Army (2003), dos The White Stripes, de Night And Day (2007), dos Hot Chip, de Bad Romance (2009), de Lady Gaga, ou de Chandelier (2014), de Sia. Isto porque Around The World foi realizado por Michel Gondry, o homem por detrás de obras-primas cinematográficas como Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004) ou The Science of Sleep (2006). Pode não ter sido digno de Óscar, mas o videoclipe de …Baby One More Time (1998), que apresentou Britney Spears como digna sucessora de Madonna, foi nomeado pela Billboard como um dos melhores dos anos 90 — e, com certeza, por todos os que o viram, pela primeira vez, há 23 anos. Stan, de Eminen, foi um murro no estômago, não marcasse ele a entrada no novo milénio, e Weapon of Choice, dos Fatboy Slim, cuja realização esteve a cargo de Spike Jonze, é poesia para os sentidos. Como se vê, video didn’t kill the radio star, bem pelo contrário. Há artistas que nos ficaram na retina mais pela estética do que pelo som — os OutKast e o incrível Hey Ya!, de 2003, são um bom exemplo — e outros que foram apurando tanto a estética como o som — só não apuraram o feitio. Runaway (2010), de Kanye West, é das melhores canções dos últimos anos, e o vídeo não desilude, antes pelo contrário. Com direção artística da reputada Vanessa Beecroft, a cinematografia pertenceu a Kyle Kibbe. E a West, claro. Se Lemonade (2016) não fosse um filme estaria aqui. Não sendo possível, fica Single Ladies (2008), porque é quase impossível fazer um compêndio de música do século XXI sem incluir Beyoncé, lado a lado com Wrecking Ball (2013), de Miley Cyrus. E fechamos com This Is America (2018), de Childish Gambino, porque ainda não nos apareceu nada de tão genial desde então.