VOGUE (Portugal)

Canção do Mar.

Sentir um aroma, ouvir uma música, vestir um padrão e lembrar-se de uma viagem… quem nunca? Foi a pensar nessas experiênci­as sensoriais que nasceu este guarda-roupa estival, tão fluido quanto o oceano, tão simbólico quanto uma melodia.

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A designer Sofia de Betak lança uma coleção cápsula com a Mango e a banda sonora não podia ser mais estival.

A inspiração seria simples: a paixão pelo lifestyle itinerante e pelas viagens, nomeadamen­te os destinos costeiros, tão bem instigados pelo Mediterrân­eo em pensamento. A fórmula seria simples: vestidos, só vestidos. Em padrões, só padrões.

Boho e veraneante­s, como a beira-mar pede. A concretiza­ção seria, também, simples: materiais sustentáve­is, o caminho natural a seguir. “Nem sequer era uma questão”, comenta a designer à Vogue Portugal, bem ao jeito do que a dupla intervenie­nte tem vindo a defender. Mas nada neste resultado que juntou a Mango a Sofia de Betak, ou melhor, à sua alcunha e marca, Chufy, seria simples. E se é verdade que podemos falar de uma aparente simplicida­de – afinal, são só vestidos, midi, compridos, curtos, mas são só vestidos, nada mais fácil –, é preciso mergulhar na sua composição para nos aperceberm­os da complexida­de latente, que só se descobre depois de os ver e usar vezes sem conta, como quem ouve uma canção uma e outra vez e descobre batidas escondidas e sincopes no ritmo que avivam as memórias. Nesta fluidez de silhuetas e prints para todos os gostos, a simplicida­de esgota-se na teoria, porque a prática é mais complexa: a começar por conseguir escolher apenas um destes seis exemplares que compõem Chufy x Mango, a gama que junta a Mango Girl Betak, que é também diretora de Moda, consultora e designer argentina, numa parceria criativa com a marca espanhola.

A cumplicida­de não é nova, mas consolida-se, agora, com uma linha assinada pela influencer, disponível desde meados de maio: “Sempre foi mencionado em conversa, mas queríamos fazê-lo quando chegasse a hora certa, e foi isso”, começa por justificar Sofia de Betak sobre a demora de uma joint venture que parecia fadada a acontecer há muito. “Quando o mundo começou a andar novamente e as pessoas voltaram a querer viajar, mas sem se deslocarem para muito longe. Desfrutar dos prazeres simples e estar com quem mais gostam, este foi o momento perfeito.” E o mote perfeito foi o tempo quente, que se manifestou no acorde equilibrad­o entre a marca de Betak, Chufy (uma alcunha que vem da Argentina), e a Mango, e que ditou a cápsula composta apenas por vestidos em estampados boho, os protagonis­tas da coleção, traduzidos em opções florais, paisley e geométrico­s num estilo descontraí­do com detalhes como folhos, cordões e mistura de texturas. Os seis exemplares em materiais sustentáve­is, como algodão orgânico e poliéster reciclado, surgiram de um processo criativo conjunto entre a equipa de design da marca e a embaixador­a da Mango. A aliança é notória. “Sim [tem a ver com a simbiose entre a Chufy e a Mango]”, confirma Sofia. “Os prints são enérgicos, alegres e poderosos, queríamos que o espírito do lifestyle mediterrân­eo ganhasse vida através de cores e padrões. Sendo a Mango uma marca espanhola, pareceu natural usar o Mediterrân­eo como um rastilho criativo, visto que passo muito tempo aqui”. E é desse tempo que nasce também a influência das viagens sobre uma coleção que é, ela própria, uma viagem aos álbuns (fotográfic­os, mas talvez também musicais) de Chufy: “Foi uma recordação das minhas imagens favoritas dos verões mediterrân­eos dos anos 60 e 70, juntamente com algumas minhas; juntei muitos moodboards pertencent­es a diferentes épocas e destinos, desde a costa de Amalfi às Ilhas Baleares. No final, foi uma mistura de ambos”, revela sobre a inspiração para esta cápsula.

“OS PRINTS SÃO ENÉRGICOS, ALEGRES E PODEROSOS, QUERÍAMOS QUE O ESPÍRITO DO LIFESTYLE MEDITERRÂN­EO GANHASSE VIDA ATRAVÉS DE CORES E PADRÕES. SENDO A MANGO UMA MARCA ESPANHOLA, PARECEU NATURAL USAR O MEDITERRÂN­EO COMO UM RASTILHO CRIATIVO, VISTO QUE PASSO MUITO TEMPO AQUI.” Sofia de Betak

E que viagem se faz sem banda sonora? Só as que não ficam na memória. E esta tem uma playlist com curadoria da designer: Parole Parole, de Dalida com Alain Delon, (aliás, garante a Mango girl, muitos temas da francesa Dalida tocaram incessante­mente como pano de fundo enquanto imaginava esta coleção) ou qualquer uma que encaixe no género de nostalgia de verão acompanha bem com beira-mar, pôr-do-sol e um destes padrões à sua escolha. De preferênci­a, selecione um tema com algum ritmo, porque de Betak garante que “estes vestidos foram feitos para dançar. E comer, e rir.” Não é à toa que, quando lhe perguntamo­s sobre o álbum da sua vida, confirma que adora “música latina, cumba, salsa, merengue… sou latina, afinal. Grupo Ráfaga é a minha banda preferida se sair à noite para dançar.” Se for em casa, talvez se fique pelo vinil, o formato que prefere em detrimento do mp3, do streaming ou do CD, embora no conforto do lar a maioria das músicas talvez lhe cheguem do YouTube ou de um Spotify pejado de canções infantis – “antes de ser mãe, diria que [o artista que mais tocava era] Luis Miguel”, confessa, depois de aceder que o seu Spotify tem os temas para criança on repeat. Noutros tempos, até poderiam ser os acordes de uma guitarra ou de um piano, que sabe tocar, a preencher o ambiente, “mas não toco há muitos anos.” Também confessa que há uns anos que não vai ver artistas ao vivo: “Costumava ir a tantos concertos… nestes últimos anos é claro que tive que dar uma pausa, mas tinha bilhetes para ir ver Enrique Iglesias com Ricky Martin o ano passado! Fiquei tão desapontad­a ao ver que a digressão de duas paixões musicais tinha sido cancelada.”, lamenta, acrescenta­ndo que tem “algumas t-shirts de bandas... Rolling Stones são gigantes na Argentina, assim como bandas de rock locais. Eu também tenho uma paixoneta por Clash e por reggae”, revela sobre o seu background musical. Agora, o entretenim­ento musical é mais caseiro, com o marido, Alexandre de Betak (fundador da agência Bureau Betak e mente criativa por detrás dos desfiles mais espetacula­res e inesquecív­eis das melhores maisons da indústria) e a filha Sakura, de quase quatro anos. No lar doce lar, a criativida­de é familiar, aguçada pelo métier do cônjuge e, quem sabe, pela nova coleção Home da Mango: “Eu amo a decoração da casa! Seria incrível [fazer uma colaboraçã­o com a Mango], adoro que as escolhas de casa sejam visíveis na tua vida quotidiana, tudo tem de fazer sentido em conjunto e manter isso durante anos. Mas, em casa, a maioria das decisões de decoração são feitas pelo meu marido, que é um designer genial, eu apenas coloco os filtros finais”, confessa. Por isso, por agora, é possível que Sofia de Betak com a Mango, só no guarda-roupa. Mas também nos parece uma boa solução. E simples. Simples como Sofia de Betak singulariz­ar o modelo Dedalera, “porque é fluido e confortáve­l, mas elegante e refinado. Podes usá-lo tanto para ir à praia como a um casamento”. Singulariz­ar um modelo? Isto não nos parece nada simples. Aliás, parece-nos de uma complexida­de extrema decidir entre o rol de hipóteses apenas um que satisfaça a nossa sede de viagens, mesmo que este ano até nem nos apeteça – ou eventualme­nte não nos permita – ir para muito longe. Parece-nos de uma complexida­de extrema fazer o exercício mental entre aquela opção curta para um dia à beira-mar ou a versão comprida para a pool party ao final do dia. Parece-nos, no entanto, simples que aceitemos que o verão Chufy x Mango seja feito de padrões e só padrões, de vestidos e só vestidos, de sustentabi­lidade e só sustentabi­lidade nos tecidos; mas pedirem para escolher apenas um dos seis básicos para o tempo quente? Mais vale perguntare­m qual é a nossa música preferida de todos os tempos – uma e só uma. Como assim, uma e só uma? A vida – e o humor instável quotidiano – é muito complexa para uma soundtrack tão limitada, tanto quanto para um guarda-roupa tão redutor. Não vai dar para singulariz­ar. Podemos antes adicionar os seis ao Spotify e criar uma playlist com os prints todos para tocar em loop? É mais simples.l

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 ??  ?? Os bastidores do processo criativo. Ao lado e em baixo, a designer na campanha da marca para a linha Chufy x Mango, com os modelos Dedalera e Soller, respetivam­ente.
Os bastidores do processo criativo. Ao lado e em baixo, a designer na campanha da marca para a linha Chufy x Mango, com os modelos Dedalera e Soller, respetivam­ente.
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