A culpa não foi minha, tu é que querias festa.
A música pimba a gostar dela própria. Por Nuno Miguel Dias.
De “A menina dança?” ao “Nós pimba”, há todo um tratado da evolução das consciências em Portugal. Afinal, poderíamos concluir que, nos meios ditos “rurais” ou “retrógrados”, a brejeirice traduz um quotidiano onde o sexo é visto com toda a naturalidade do mundo. E que nos grandes meios urbanos, afinal, quem domina é o puritanismo a que um emprego de fato e gravata obriga. Mas a dura realidade é que a Música Pimba, ou a Música Tradicional Portuguesa Brejeira, une um Portugal com um só ideário: diversão! Daquela que faz esquecer, nem que seja por um momento, todos os problemas.
Quase um milénio de Portugal e continuamos na mesma. Quem pode, pode. Quem não pode, safa-se. Como pode, claro está. Naturalmente, é a música erudita (ou clássica), composta, interpretada e apreciada nos círculos mais altos da sociedade, a que conta com registos. Dos mais antigos à contemporaneidade, podemos facilmente saber de que influências beberam as nossas elites artísticas e de que forma deram largas à sua criatividade. Da Idade Média, de que se conhecem apenas as trovas de D. Dinis, ao Modernismo, passámos pelos períodos Renascentista, Barroco, Clássico e Romântico, como toda a Europa. E com tantos nomes maiores que não caberiam aqui. Já o Cancioneiro Popular, esse que nos interessa para este sucinto tratado, sobreviveu, a custo e sacrificando muito mais de metade dos seus autores, por via da tradição oral. Sem alguém que dominasse a pena com interesse suficiente no que o povo cantava para o documentar, há certamente tesouros perdidos para sempre e, com eles, um bom naco da nossa alma. A partir do momento, mais ou menos identificável no tempo, em que o ensino do português deixa o reduto da nobreza para se espalhar por gente que, fazendo ainda parte de uma classe privilegiada, se mistura das mais diversas formas com o seu povo, tanto por necessidade de profissão (médicos e empresários), como por interesse pessoal adstrito à necessidade de criar (romancistas e poetas) ou por mera inclinação boémia (festas populares), a Música Popular Portuguesa nasce finalmente. A tradição oral continua a ser determinante, mas os cantares antigos, dos perpetuados por ranchos folclóricos ao Cante Alentejano que ecoa na ceifa e na taberna, já não têm uma audiência meramente local. O fado é o rei e senhor de uma Lisboa onde já arribavam portugueses de paragens muito mais bucólicas e que, por saudade, buscavam aquele sentimento de tristeza manifesta e muito pouco velada, com um copo de vinho diante de si e, em dia de receber, talvez um pratinho de iscas. Entretanto, cai sobre este país o negro manto de uma ditadura que escurece ainda mais uns poucos milhões de almas que já há muito eram toldadas por uma espécie de nostalgia endémica que nasce a olhar para o mar, à espera sabe-se lá do quê, e que morre com um xaile preto a esconder um coque. Nesse grande ringue que é o quotidiano nacional, onde tantas vezes se lutava pela sobrevivência
“Se ela estiver um pouco mole Eu a descasco com mais cuidado Afinal é para agradar Agradar ao meu amado Mas se estiver verde e vigorosa Aí até dá gosto brincar Mas meu amor diz sempre assim Atenção! Não é para estragar.” Rosinha
estão, de um lado, o popularíssimo nacional-cançonetismo espalhado aos sete ventos por transístores e, mais tarde, pelos ecrãs de TV nas coletividades, um país inteiro de olhos postos no Festival RTP da Canção – e, no outro extremo, a Música de Intervenção, de forte cariz político, crítica do regime e tão progressista quanto respeitadora da matriz folclórica (Zeca Afonso foi, depois de Michel Giacometti, um dos maiores responsáveis pela recolha etno-musical), mas que chegava apenas à classe mais instruída ou desperta para o ideário revolucionário. De um ficaram nomes como Simone de Oliveira, António Calvário, Madalena Iglesias, Eduardo Nascimento e Carlos Mendes. De outro, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Fausto (Bordalo Dias), os Irmãos Salomé (Janita e Vitorino) e, claro, o Grande Zeca. Numa abordagem mais completa, muitos outros nomes teriam de ser referidos. Ainda assim, não seria possível não trazer à baila o nascimento, nos anos 50, do Rock Português pela mão de José Cid (os Babies) e Joaquim Costa, os anos 60 e o surgimento do yé-yé, com o Quinteto Académico, os Gatos Negros e os Chinchilas e, finalmente, menção honrosa para Linda de Suza, que levava às lágrimas a vastíssima comunidade emigrante portuguesa em França, muito antes de Tony Carreira ter ocupado o seu lugar, primeiro além e depois aquém fronteiras, até se tornar o incontornável e inquestionável fenómeno que hoje é.
Aculpa é do 25 de Abril. A partir dessa manhã de 1974, os portugueses não tinham mais de se preocupar com o Lápis Azul e com toda uma cultura condicionada pelo medo. Vem muito mais que a Liberdade. Vêm as ganas de recuperar o tempo perdido. Grândola, Vila Morena traz a boa nova da revolução consumada, mas é Paulo de Carvalho com E Depois do Adeus que dá ordem para avançar. A pop está na rua. Mais rockeira com os UHF, os GNR e os Xutos e Pontapés, mais glam com o corajoso António Variações, mais ligeira com os Heróis do Mar, a Salada de Frutas da Lena d’Água. As gerações anteriores deliciam-se com Marco Paulo na tradição cançonetista, mas quem nasceu em liberdade avança para os festivos Sitiados e Ena Pá 2000, ou para um leque que se apresenta tão vasto em termos de escolhas que pode ir dos Sétima Legião aos Moonspell, dos Madredeus aos Da Weasel, dos Primitive Reason aos Clã. É nesses frutíferos anos 90 que nasce o termo “Música Pimba”, pela mão de Emanuel (“E se elas querem um abraço ou um beijinho / Nós pimba nós pimba”). O conceito já existia. Só que era definido como Música Popular Portuguesa. Algumas vezes como Música Ligeira. Mas foi nessa década áurea que os artistas “populares” deixaram de ter atuações sazonais. Com o nascimento de mais duas estações televisivas que competiam com um fervor inaudito as valiosíssimas audiências, Iran Costa, o seu
Bicho e tantos outros ocupavam tardes inteiras dos nossos miúdos e graúdos que esperavam impacientemente pelo momento auge, que era quando o Macaco Adriano saia da jaula e pulava em torno das Ruths Marlenes e Romanas da vida. Longe estavam os anos da Revista à Portuguesa, onde a crítica ao regime ou a “malandrice”
“Oh! Prima, oh!
Rica prima
Faz tudo que eu não te ralho
Há mais de uma semana que não vejo o meu… Carapau frito é bom
Ai não tenho mais ilusões
Há mais de quinze dias que não vejo os meus… Coentros e rabanetes
Ai vai tudo é pr’ó maneta
Há mais d'um mês que não faço
Ai não faço uma…”
Quim Barreiros
tinham de ser altamente veladas para não perecerem às mãos da Censura do Regime Salazarista. Os cantores já podiam dar azo ao imaginário brejeiro que caracterizou o meio português sempre que pudemos ser nós-próprios. Metáforas à fartazana com duplo sentido, sexo em todo o lado, histórias de faca e alguidar, amores não-correspondidos, todo um rol de possibilidades que os mais eruditos repudiam, mas só até ao terceiro copo de vinho carrascão numa festa de agosto no interior. A partir daí, toda a compostura cai com os primeiros acordes, sempre dançantes, para dar lugar à única coisa que verdadeiramente interessa: diversão. Pura e dura. Assim sendo, o autor deste texto não concorda com a definição “Música Pimba”, por muito oficial que ela seja. Podia ser Música Popular Portuguesa Brejeira (MPPB), por exemplo. Só para não termos de a incluir na restante Música Popular Portuguesa, o que ficaria mal quando a nossa “irmã” Música Popular Brasileira (MPB) tem lá dentro nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Na MPPB há regras bem definidas. Ou talvez só uma: descomplicar. As melodias são básicas, a harmonização é pobre, os arranjos podem ir beber ao folclore ou à pop anglo-saxónica mais fácil e as letras querem-se com piada e, lá está, alto cariz sexual. Porquê? Porque fica no ouvido, porque se dança, e porque ninguém vai curar sobre a “excelsa qualidade daquele acordeonista” ou a “incrível prestação daquele baixista” depois de um concerto nas Feiras Novas de Ponte de Lima, nos Santos Populares da Freguesia da Pena, em Lisboa, ou nas Festas de Corroios. Notável é o facto de também neste género musical poder ser traçada uma fronteira entre dois subgéneros. É que, ultimamente, os artistas mais soft como Ágata, Emanuel, José Malhoa, Nel Monteiro e o agrupamento Zimbro (com o seu clássico
Apita o Comboio, obrigatório em qualquer casamento) foram dando lugar a versões mais hardcore, pela mão de nomes como Rosinha ou Ana Malhoa, sendo os ritmos folclóricos substituídos por outros de inspiração africana, do kuduro ao funaná. Só Quim Barreiros mantém o seu nível de brejeirice, que vai do cheirar o bacalhau da Maria dele ao pôr o carro na garagem da vizinha, continuando a ser o grande campeão de audiências em qualquer concerto que decida dar. E esqueçam as festas nos meios mais rurais do país e no seio das comunidades emigrantes portuguesas. Pimba Pimba em semanas académicas e numa noite de karaoke com os amigos. Confessem. Quem nunca? E sim, é divertido!
Está, pois, na hora de desmistificar o preconceito, seja ele o adstrito ao epíteto “Música Pimba” ou “Música Popular Portuguesa.” Porque há, de facto, um preconceito. Que urge combater abrindo os braços de par em par à simplicidade. E para isso damos aquele exemplo que pode parecer paradoxal. Mas mostraremos que não. Falámos com quem percebe do assunto, como ele próprio diria, à brava. Ele é, indiscutivelmente, um compositor. Dono de uma voz poderosa. Este texto ficaria manco se não falássemos com O Rei. Isto é para ler Toda Noite Hmmm Hmmm. Senhoras e senhores, Toy. Setubalense de gema, que é como quem diz, de alma e coração, foi numa coletividade local que deu os primeiros passos, com apenas cinco anos. Aos dez ingressa num grupo de teatro sadino e, após concluídos os estudos secundários, emigra para a Alemanha, onde foi torneiro mecânico, mas também produtor de diversos artistas, vocalista de uma banda de jazz e membro de outra banda alemã denominada Prestige: “Sou contabilista de formação. O saber nunca ocupou lugar, por isso não me chateia ter estudado algo que habitualmente não uso. A minha formação musical foi o meu pai que me ensinou a fazer Dó e Sol na guitarra. E um amigo dele que me deu umas ‘luzes’ na bateria. Tudo o resto aprendi sozinho”, esclarece. Está a ser humilde. Ainda a residir na Alemanha, e ainda como António Manuel Neves Ferrão, lança o tema Dias de Paz, pela Rádio Triunfo e, pela Ovação, o single Depois de Ti. Entretanto escreve os temas Portugal Sonhado, Tanto Mel, Tanto Amor e Lembro-te para o disco Sedução, de Marco Paulo. Regressa a Portugal em 1988 e passa a usar a sua alcunha da escola como nome artístico. É como Toy que constrói uma carreira de sucesso, num trajeto que começa com o 3.º lugar no Festival RTP da Canção (com o tema Mais e Mais), prossegue com um contrato com a Valentim de Carvalho, depois com a Espacial, e o início dos 90’s o sucesso do tema Estupidamente
Apaixonado leva-o a ser convidado para diretor musical de programas televisivos e a ser o autor do tema principal da novela Olhos de Água.
Em 2002, já a canção És Tão Sensual ribombava em tudo quanto era lugar, mesmo antes de nos ter entrado pela casa adentro com o programa Na Casa do Toy, onde o conhecemos com todos os seus amigos e família, sem segredos: “O meu dia ideal é acordar sem despertador, dar um mergulho no mar, almoçar com as pessoas que amo, passar a tarde com amigos que falem a mesma linguagem, sobre cultura e música, e acabar a noite feliz por saber que sou amado”, revela este apaixonado pelas suas origens e pelas suas gentes, a um nível bem mais profundo: “A forma descontraída com que a nossa gente reclama e reivindica ajudou-me a ser desinibido e corajoso nas composições e nas ações. A arte transformou-me num ativista humanista. As canções empurram-me para uma visibilidade que me deixa dizer o que penso em termos sociais para, na minha opinião, ser útil a essa sociedade onde me insiro, onde nos inserimos todos.”
Ou seja, o ideário de Toy vai muito além da música que faz. E fá-lo sem procurar rótulos (só os de vinho, preferencialmente os da Península de Setúbal, idealmente os da Casa Ermelinda Freitas e, para se sentir no paraíso, a acompanhar cabidela): “Se eu faço música pop, que é toda a que é para o povo… pode ser. Pop vem de popular e a folk de música folclórica. No caso português, se tem ritmo, cultura popular, cor e alegria ou nostalgia consoante o autor. Se também há nacional-cançonetismo, logo eu que sou tão patriota e nada nacionalista, também pode ser. Penso que, sendo um cantautor, serei um pouco de cada. Acima de tudo sou músico, ponto.” Sobre a sua já longa carreira, o sucesso e alguns desaires, Toy não abre mão da sua simplicidade e de algum despojamento: “Tudo tem valor. Há sempre coisas na vida que nos marcam mais, mas as que marcam menos também são importantes. Há um todo que nos completa. Faria tudo outra vez. O bom porque foi bom e o menos bom porque me ensinou a refletir e a mudar algo. E isto vai do plano pessoal ao plano profissional. O melhor elogio que recebi à minha música foram aplausos intermináveis. O pior? Nem me lembro. Por isso é que não tenho nenhum lugar preferido para tocar. Sou feliz onde me queiram, me amem e, sobretudo, onde me respeitem”, declara, com a ressalva de que, mesmo para as situações menos boas da vida, há que ver o mais engraçado: “Por exemplo, já me aconteceu mandarem água para cima de uma máquina de fumos completamente nova, pensando que estava a arder. E também já fiquei a olhar, do palco, para uma camioneta carregada com terra porque havíamos questionado a falta de terra nas ligações elétricas. Mesmo que seja obviamente difícil esquecer que no dia em que a minha mãe morreu dei um concerto à noite, porque não podia cancelar. Ou mesmo a noite em que tive uma congestão em pleno palco.” Sobre as suas influências, artistas preferidos e ícones portugueses: “Não consigo estar muito tempo sem ouvir Pink Floyd e Tom Jones. Mas se só pudesse ouvir uma música para o resto da minha vida escolheria a Smile, do Charlie Chaplin. Por cá, acho que o Zeca Afonso, o José Cid e o Rui Veloso são nomes maiores. Mas toda a nova vaga de fadistas me fascina, sendo que a Amália e o Carlos do Carmo serão sempre os maiores. Mas o Duo Ouro Negro e o Trio Odemira também me são queridos”, o que nos remete para os seus três discos, denominados Recordações, onde interpreta temas de outros artistas e que atesta uma cultura musical acima da média. Se for numa noite de diversão, voltamos à humildade. Imaginemos um karaoke: “Gosto de me divertir e, nessas circunstâncias, não vou dar largas ao potencial vocal. Às vezes sai uma balada espanhola ou um Tom Jones.” Dos sonhos, coloca por momentos a modéstia de lado: “Gostava de dar um concerto com uma grande orquestra, cantar em salas emblemáticas mundiais ou ter um êxito a nível mundial”, mas depressa regressa ao seu ambiente natural: “Não me posso queixar. Tenho saúde e vivo daquilo que gosto de fazer. Há tanta gente que não tem a mesma sorte”. Reconhece, porém, que, atualmente, e no meio onde conseguiu construir uma carreira, as
“Quando eu queria ser p’ra ti
Tu me disseste que era muito cedo Quando eu queria ser mulher p’ra ti Tu me disseste que era muito cedo Agora queres mas eu digo assim Chupa chupa chupa
Chupa no dedo.”
Ruth Marlene
coisas já não dependem só de uma voz bonita, poderosa e afinada: “Uma boa voz, sim. Mas se acompanhada de umas pernocas jeitosas, um palminho de cara, uma boa produção áudio e/ou vídeo, enfim, tudo é importante hoje em dia” e, à pergunta sacramental “Ainda consegue toda a noite?”, a resposta é a politicamente correta: “Depende”! Sim, da idade do coração, sabemos bem.
Convém não esquecer que, como expressão máxima da nossa cultura, a música portuguesa foi sempre o espelho da nossa sociedade. Pelo que temos de analisar, ainda que de forma empírica, algumas letras. Peguemos, pois, numa artista de bailarico consagradíssima no meio, cuja curta biografia no site de agenciamento Central de Artistas começa com “Rosinha, nasceu numa manhã fria de inverno a cinco de janeiro de 1971. Foi crescendo e aos dez anos de idade despertou em si o gosto pela música, inscreveu-se numa escola de música na localidade de Pegões Velhos e aí começou a dar os primeiros passos musicais.” Estamos convencidos. Adiante, com um momento de poesia para declamar com as devidas pausas e respirações: “No outro dia no meu quarto / Eu olhei com atenção / Vi uma racha tão grande / Desde o teto até ao chão / Chamei logo o meu amor / Para ver como arranjar / E ele lá me disse / Com jeito eu vou tapar / Eu ainda pensei / Chamar alguém para o fazer / Mas
“Tou maluco, tou pirado
Desde a hora em que te vi
Aquele fio dental
No lugar do bikini
Coraçãozinho à frente
Cordõezinhos amarelos
Foi a loucura que vi
Na praia de Carcavelos
Agora a toda a hora só vejo fio dental
De noite sonho, sonho e acordo a bater mal Fico à rasca, fico à rasca e TAU!!! Já foste!!! Ai…” Nel Monteiro
ele disse logo / Aí só eu vou mexer / Até da gozo / Ver bem como ele faz / Primeiro passa os dedos / Para ver se está capaz / Ele molha a racha / Para a massa melhor entrar / E depois com a talocha / é só esfregar / Na minha racha só quem mexe é meu amor / Ele sabe o que fazer, ai sabe sim senhor.” Repare-se na souplesse com que todo um imaginário sexual recorre a termos técnicos da construção civil, ao ponto de nunca mais olharmos para uma talocha da mesma forma. Mas há, sobretudo, uma inquestionável libertação feminina. Há um grito: “Eu quero, posso, mando e apetece-me efetuar coisas com uma talocha e ninguém tem de me criticar por isso, dancem mas é, se querem ver”, o que traduz empoderamento feminino num meio adverso. Onde reina o preconceito e as disposições mais antiquadas. Isto, meus amigos, é coragem. Ou, em linguagem MPPB, isto é “ter tomates”. Passámos de um Quim Barreiros machista, que acha que comprando uma panela de pressão terá livre acesso a determinado orifício, que pode mamar nos peitos da cabritinha só porque esta lhe pertence ou ordenar à Teresa que lhe chupe o gelado, argumentando que é gostoso e que sabe a framboesa, quando se sabe que o homem não tem a flexibilidade necessária para curar sobre o sabor das suas zonas anatómicas mais recônditas. Rosinha sobe muitos degraus num meio potencialmente hostil e declara que é ela que tem o poder. Ora é o seu gato que lhe lambe a passarinha (como resultado dá-se o facto de ficar toda molhadinha), que faz de coentrada porque sabe que ele (em princípio, o gato) gosta muito e a ela não lhe custa nada, chegando a confessar que o seu amor tem muitos cornos, justificando-o claramente: “Como sei que gosta de cornos às vezes também lhe arranjo, tenho um vizinho que mora perto e que ajuda, é um anjo”. Fascinante, certo?