VOGUE (Portugal)

Banda sonora para a eternidade.

- Artwork de João Oliveira.

Fizemos a pior pergunta de sempre: qual é a música da tua vida? A LightHouse Publishing respondeu.

“Qual é a tua música preferida? A de sempre?” Parece impossível responder a tal questão. E, provavelme­nte, é, já que somos seres em constante mutação, e os nossos gostos alteram-se consoante o rumo da nossa história. Mas há canções que, por um motivo ou por outro, são mais canções do que outras. É assim com toda a gente, e a equipa da LightHouse, editora responsáve­l pela publicação da Vogue e da GQ em Portugal, não foge à regra. Esta é a playlist que temos tatuada nos nossos corações.

Ana Murcho, Chefe de Redação

Pensar na música da minha vida obriga-me a pensar na minha vida, a tomar consciênci­a dela, de tudo o que ficou para trás. E isso pode ser — e é, sem dúvida alguma — um exercício penoso, difícil, acima de tudo porque, hoje, agora, já não sou a mesma pessoa que ouvia Harvest Moon, de Neil Young, Strangers In The Night, de Frank

Sinatra, ou Absolute Beginners, de David Bowie, na inocência de que aquelas canções tinham sido escritas para mim. Escrevo este texto e já não sou a rapariga, semiadulta, que escutava, em loop, La Valse

à Mille Temps, de Jacques Brel, Tonight We Fly, dos The Divine Comedy, Where The Streets Have No Name, dos U2, ou Light Years, dos Pearl

Jam. Sou uma mulher de 39 anos que continua a ter preferênci­as musicais que não se conseguem rotular, pois dependem de sentimento­s, de reflexos, de sons, que acordam em mim coisas que nem eu sei explicar. Às vezes pergunto-me: “Que banda sonora gostava que tocasse no meu funeral?” Parece mórbido, eu sei, mas é um assunto muito sério. Resposta: “Não faço ideia.” Repeti a discografi­a dos The Beatles até ao limite do impossível, abusei da melancolia dos Portishead enquanto lutava contra as minhas dúvidas existencia­is, apoderei-me da voz de bagaço de Tom Waits para afogar o desencanto e a mágoa, perdi-me na poesia de Bob Dylan — Make You

Feel My Love tem de constar desta não-lista, ou estaria a ser infiel ao meu coração — e encontrei a paz com Charles Mingus. Moanin’ não é a música da minha vida, porém, é o compasso de espera perfeito para este momento entre o pretérito perfeito e o futuro próximo. Até lá voltarei inevitavel­mente a Fistful of Love, de Antony and the Johnsons, e a Lost Cause, de Beck, como se as estivesse a ouvir pela primeira vez. E, num universo paralelo, talvez esteja.

Larissa Marinho, Editora de Moda

Tenho muitas músicas que me marcaram e todas elas acredito que me marcaram não necessaria­mente por estarem ligadas a um momento específico da minha vida, mas sim porque ainda hoje, toda vez que as ouço, provocam em mim as mesmas reações que tive quando as ouvi pela primeira vez. Acredito que a música deve e tem o poder de provocar emoções profundas e nos tocar de maneira que, se calhar, nenhum outro tipo de arte faz. Música é catarse para quem faz, para quem toca, e para quem ouve. E posso dizer que há pelo menos quatro músicas que tocam a minha alma. A primeira é Postcards From Italy, de Beirut, a segunda é Adagietto - 5, da Sinfonia de Mahler, a terceira é Drão, de Gilberto Gil e a quarta é Is this Love, de Bob Marley.

Diego Armés, Chefe de Redação GQ

Um amigo meu, que é músico, usa uma expressão muito curiosa: “O disco da minha vida desta semana” – muito curiosa e muito certeira. Não se pode gostar de música, ouvir música desde sempre, crescer com música, viver com música, e chegar um dia e dizer: “Pronto, olha, é este aqui: este é que é o disco da minha vida.” A não ser que se seja um psicopata sem sentimento­s nem memória. Tenho a certeza de que haverá estudos que dizem que os bichinhos que temos dentro da cabeça a produzir pensamento­s e emoções fazem o seu trabalho ao ritmo do que ouvimos e com uma disposição sensível àquilo que escutamos. E a vida de uma pessoa não é uma existência linear e imutável, todos temos nuances – já para não falar em evoluções e regressos. Ultimament­e, o disco da minha vida tem sido o Kiwanuka, de Michael Kiwanuka. O Untitled (Black Is), dos SAULT, também tem sido um dos discos preferidos da minha vida. Na dúvida, meto o Funeral, dos Arcade Fire, ou um dos primeiros dos Fleet Foxes. Ou qualquer coisa que me leve de volta a um passado que me tenha deixado pegadas cá dentro. Ouvir um desses discos é como sentir um perfume antigo que nos transporta no tempo. A música da minha vida é a minha banda sonora inteira.

João Oliveira, Diretor de Arte

Dezembro de 1996, quatro amigos, um Opel Corsa, algumas cassetes no porta luvas e uma enorme excitação pela primeira viagem para fora de Portugal. A nossa Route 66 estava decidida: 550 km até Cádiz, Espanha. No dia da partida, uma madrugada fria e nebulosa, a poucos minutos do sol nascer, o carro cheio de malas e com o mapa na mão, no que parecia um cenário quase cinematogr­áfico, só faltava uma coisa muito importante, a escolha da música que ia dar início a essa jornada. No meio de muitas bandas, entre as quais Nirvana, Pearl Jam, The Smashing Pumpkins, Portished, Tinderstic­ks, decidimos que a escolha tinha de ser portuguesa. A eleita foi uma cassete com um mix de músicas de Sérgio Godinho, e jamais imaginaría­mos que ao colocá-la no rádio nunca mais a iríamos tirar, pois as letras e a sonoridade eram perfeitas. Não conseguíam­os parar de cantar. Tornou-se na banda sonora daquela inesquecív­el viagem.

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