O helicóptero português que vai fazer do mundo um lugar seguro
AS MENTIRAS A QUE TEMOS DIREITO
Portugal é um país de poetas, fado, futebol e comentadores do dito, tem um Presidente dos afetos, um Big Brother, uma Cristina Ferreira e ainda bué de sardinha, praias e sol para atrair os “camones” e lhes sacar o guito. Dito de outra forma, Portugal é um país fantástico que se encontra na vanguarda desde os Descobrimentos e de nunca lá saiu.
Um exemplo paradigmático desta sempre renovada gesta foi agora dado pela Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, a qual ofereceu às crianças do pré-escolar chapéus equipados com hélices coloridas de 1,20 metros de diâmetro, classificando este equipamento, que rasga sem dor os preconceitos da imaginação, como uma forma lúdica de manter o distanciamento social.
As pitonisas do costume consideram que as crianças parecem tolinhas com este artefacto no cocuruto, mas tal avaliação mesquinha deve-se tão-só ao facto de não terem sido elas a terem a ideia. Chama-se inveja, adjetivo que ficou para todo sempre depois de Jorge Jesus ter citado Luís de Camões a este propósito.
No meu modesto entendimento, esta tática do helicóptero tem todas as condições para ser desenvolvida e aplicada também a adultos. Por exemplo, as câmaras da Grande Lisboa e do Grande Porto deviam oferecer estes equipamentos aos munícipes que utilizam os transportes públicos, na medida em que asseguraria de forma eficaz o cumprimento da distância de proteção em autocarros, metros e afins. É claro que também poderiam existir efeitos negativos na adoção desta prática, nomeadamente materializados no uso de palavras ofensivas para chamar a atenção de que a hélice alheia estaria a incomodar e/ou a invadir o espaço de segurança de um outro cidadão.
A par desta utilização comunitária, as hélices podem fazer surgir oportunidades ao nível da linguagem do engate. Reparem em piropos como estes que podem ser atirados a quem ostenta um helicóptero no seu pináculo corporal: gostaria de voar nas tuas asas; dás-me a volta à cabeça; concedes-me licença para que entre no teu espaço aéreo; se quiseres, podes aterrar no meu heliporto; assim como o já famoso: és como um helicóptero, gira e boa.
A multifuncionalidade desta invenção da edilidade de Arcos de Valdevez é evidente. Por exemplo, o PCP devia distribuí-la gratuitamente com a EP de entrada na Festa do Avante, opção que acabaria com a polémica à volta deste evento derivada do ajuntamento que vai criar. Aliás, no plano político seria útil em várias circunstâncias. Ferro Rodrigues poderia equipar-se com as hélices coloridas para manter uma distância segura de André Ventura e Joacine Katar Moreira para fazer conjunto com a saia do seu assessor. Já o Presidente Marcelo, após o banho matinal em Cascais, deveria recorrer a um destes equipamentos para que o ritual das selfies se processe de acordo com as regras do desconfinamento.
Este helicóptero arcuense reúne todas as condições para se tornar ícone das exportações portuguesas, fazendo negaças ao pastel de nata e sendo suscetível de ser usado por miúdos e graúdos. Feche os olhos e imagine Trump e Bolsonaro com helicópteros “made in” Arcos de Valdevez na cabeça? Seria um tremendo golpe de marketing, mostrando que estes dois líderes, ao contrário do que dizem algumas más-línguas, estão mesmo preocupados com a pandemia e fazem tudo para a combater. Trump até poderia batizar o seu helicóptero como Air Force 2 e Bolsonaro dar-lhe o nome de Messias, que por acaso também é um dos seus apelidos.
Na realidade, este helicóptero tem mais valências que um canivete suíço ou que as bugigangas do inspetor Gadget e urge que seja patenteado. Caso contrário, corremos o sério risco de daqui a dois ou três meses vermos este extraordinário equipamento à venda nas lojas dos chineses, nação que como sabemos está sempre disposta a capturar ideias brilhantes, transformando-as em contrafações baratas.
Afinal, tudo se resume num conceito: com o helicóptero português, o mundo pode ser um lugar mais seguro.
Tenha um ótimo fim de semana.