Os Estados são impotentes perante a desigualdade económica
Vendo as suas receitas diminuídas de forma extrema, pela incapacidade de recolher imposto e taxa, os Estados perderam os recursos financeiros para gerar emprego, criar empresas, apoiar a investigação e suportar a inovação. Os Estados, como grandes empresas públicas, são realidades que pertencem agora ao passado
Aúltima dimensão fundamental da vida e do mundo em que os Estados perderam o controlo é a da economia e do mercado. A darmos valor aos relatos que colhemos nas redes, a perda de controlo neste campo é tão grave como a incapacidade atual dos Estados para recensearem os seus cidadãos, evitarem a abstenção massiva em eleições, exercerem de forma efetiva os seus poderes na guerra, na manutenção da ordem e da Lei, e de garantirem os serviços básicos na Saúde, Educação e Infraestruturas. Escrito de outra maneira, é mais um sinal de que os Estados caminham para o colapso, incapazes de enfrentarem a nova conjuntura global, a da tomada da esmagadora maioria dos postos de trabalho por entidades superinteligentes.
O primeiro falhanço do Estado na dimensão económica é a da incapacidade de ser agente ativo na criação de emprego, de valor e de trocas comerciais. Vendo as suas receitas diminuídas de forma
extrema, pela incapacidade de recolher imposto e taxa, os Estados perderam os recursos financeiros para gerar emprego, criar empresas, apoiar a investigação e suportar a inovação. Os Estados, como grandes empresas públicas, são realidades que pertencem agora ao passado. O que resta, mostram os relatos, são os Estados em luta contínua para pagar aos seus funcionários e conseguirem receitas que suportem as suas logísticas.
Este, por si só, é um cenário negro, mas não menos crítica é a perda da capacidade de regulação da economia e do mercado por parte dos Estados. Recorde-se que os Estados tinham poder de fiscalização sobre os agentes económicos privados, procediam a acordos comerciais e tarifários com outros Estados e contribuíam para o papel decisivo de entidades reguladoras supranacionais, como eram os bancos centrais. Todo este poder perde-se agora um pouco por todo o mundo.
Com os Estados em colapso, não é possível criar frentes unidas que obtenham acordos e compromissos, que de algum modo controlem os agentes privados. Os Estados estão demasiado ocupados em assegurar a sua sobrevivência.
Os agentes privados atuam quase sem restrições ou controlos, salvo alguns pontuais impostos por algum Estado que tem algum trunfo para jogar na mesa de negociações, como o de controlar um território com matérias-primas valiosas. Mas, porventura, é nos mercados que mais se nota a ausência de intervenção estatal, como há poucos anos se verificava na imposição de regras de concorrência, de limitação de monopólios, ou no estabelecimento de políticas de preços.
Todo este mundo parece agora pertencer ao passado. O mercado funciona agora de um modo totalmente distinto. O mercado é, antes do mais, global, mas cirurgicamente localizado. Com o recurso intenso às tecnologias de venda e de entrega, os agentes económicos privados conseguem segmentar financeira e geograficamente os seus clientes, bem como gerir em pormenor os seus “stocks”.
As lojas deixaram praticamente de existir, a não ser nas cidades onde existe mão de obra humana e nas cidades-aeroportos, como já vimos. Os produtos são entregues diretamente aos consumidores individuais e coletivos. Depois, o mercado é ferozmente elitista.
A brutal perda de compra das mulheres e dos homens, devido à incapacidade de serem escolhidos para um posto de trabalho, gerou uma divisão radical dos mercados, muito mais acentuada daquela a que estávamos habituados.
A minoria humana com capacidade financeira continua a ter acesso aos bens e produtos que procura. A maioria dos homens e das mulheres só tem acesso aos bens básicos. Os Estados perderam quase todas as armas para combater a desigualdade, que se acentua violentamente no mundo inteiro.