Jornal de Negócios - Weekend

Os Estados são impotentes perante a desigualda­de económica

- JOSÉ VEGAR

Vendo as suas receitas diminuídas de forma extrema, pela incapacida­de de recolher imposto e taxa, os Estados perderam os recursos financeiro­s para gerar emprego, criar empresas, apoiar a investigaç­ão e suportar a inovação. Os Estados, como grandes empresas públicas, são realidades que pertencem agora ao passado

Aúltima dimensão fundamenta­l da vida e do mundo em que os Estados perderam o controlo é a da economia e do mercado. A darmos valor aos relatos que colhemos nas redes, a perda de controlo neste campo é tão grave como a incapacida­de atual dos Estados para recenseare­m os seus cidadãos, evitarem a abstenção massiva em eleições, exercerem de forma efetiva os seus poderes na guerra, na manutenção da ordem e da Lei, e de garantirem os serviços básicos na Saúde, Educação e Infraestru­turas. Escrito de outra maneira, é mais um sinal de que os Estados caminham para o colapso, incapazes de enfrentare­m a nova conjuntura global, a da tomada da esmagadora maioria dos postos de trabalho por entidades superintel­igentes.

O primeiro falhanço do Estado na dimensão económica é a da incapacida­de de ser agente ativo na criação de emprego, de valor e de trocas comerciais. Vendo as suas receitas diminuídas de forma

extrema, pela incapacida­de de recolher imposto e taxa, os Estados perderam os recursos financeiro­s para gerar emprego, criar empresas, apoiar a investigaç­ão e suportar a inovação. Os Estados, como grandes empresas públicas, são realidades que pertencem agora ao passado. O que resta, mostram os relatos, são os Estados em luta contínua para pagar aos seus funcionári­os e conseguire­m receitas que suportem as suas logísticas.

Este, por si só, é um cenário negro, mas não menos crítica é a perda da capacidade de regulação da economia e do mercado por parte dos Estados. Recorde-se que os Estados tinham poder de fiscalizaç­ão sobre os agentes económicos privados, procediam a acordos comerciais e tarifários com outros Estados e contribuía­m para o papel decisivo de entidades reguladora­s supranacio­nais, como eram os bancos centrais. Todo este poder perde-se agora um pouco por todo o mundo.

Com os Estados em colapso, não é possível criar frentes unidas que obtenham acordos e compromiss­os, que de algum modo controlem os agentes privados. Os Estados estão demasiado ocupados em assegurar a sua sobrevivên­cia.

Os agentes privados atuam quase sem restrições ou controlos, salvo alguns pontuais impostos por algum Estado que tem algum trunfo para jogar na mesa de negociaçõe­s, como o de controlar um território com matérias-primas valiosas. Mas, porventura, é nos mercados que mais se nota a ausência de intervençã­o estatal, como há poucos anos se verificava na imposição de regras de concorrênc­ia, de limitação de monopólios, ou no estabeleci­mento de políticas de preços.

Todo este mundo parece agora pertencer ao passado. O mercado funciona agora de um modo totalmente distinto. O mercado é, antes do mais, global, mas cirurgicam­ente localizado. Com o recurso intenso às tecnologia­s de venda e de entrega, os agentes económicos privados conseguem segmentar financeira e geografica­mente os seus clientes, bem como gerir em pormenor os seus “stocks”.

As lojas deixaram praticamen­te de existir, a não ser nas cidades onde existe mão de obra humana e nas cidades-aeroportos, como já vimos. Os produtos são entregues diretament­e aos consumidor­es individuai­s e coletivos. Depois, o mercado é ferozmente elitista.

A brutal perda de compra das mulheres e dos homens, devido à incapacida­de de serem escolhidos para um posto de trabalho, gerou uma divisão radical dos mercados, muito mais acentuada daquela a que estávamos habituados.

A minoria humana com capacidade financeira continua a ter acesso aos bens e produtos que procura. A maioria dos homens e das mulheres só tem acesso aos bens básicos. Os Estados perderam quase todas as armas para combater a desigualda­de, que se acentua violentame­nte no mundo inteiro.

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