A longa marcha das postas contra os “posts”
Paragrafino Pescada tem o mérito inquestionável de ser sobrinho de Virgolino Faneca, que ao longo de quatro anos escreveu neste suplemento. É licenciado em Estudos Artísticos pela Universidade de Salónica com uma pós-graduação em Ciências da Vida, obtida no Café da Geninha. O seu ídolo é o tio, embora admire a capacidade pantomineira de Donald Trump. Nunca se engana e raramente tem dúvidas. Quando as tem, pergunta ao Nuno Rogeiro ou à Siri do iPhone. Gosta de jogar Cluedo e percebe à brava de semiótica, embora ninguém lhe tenha ensinado. É solteiro e do signo Caranguejo (se é que esta informação interessa a alguém).
Existem coisas deveras irritantes. Uma delas está mesmo a pedir a intervenção de um advogado com coragem (que já tenho) para enfrentar o Facebook, ao qual pretendo exigir uma indemnização choruda por plágio. A base desta minha demanda judicial é à prova de bala. Reparem. De cada vez que emito a minha opinião, e faço-o amiúde, tanto neste espaço como no café da Conchita, senhora séria que gere uma casa de respeito, apesar de certas línguas, bífidas e viperinas, teimarem na existência de uma porta dos fundos pela qual, de vez em quando, ela se escapule com um ou outro cliente. Contudo, já atravessei essa porta e não tenho razões de queixa, antes pelo contrário.
Mas voltemos ao essencial. A minha opinião. Eu emito-a, e a reação habitual, seja oralmente ou por escrito, é do seguinte teor: – Grande posta, Pescada.
Ou, em alternativa:
– És grande, Pescada, e ainda mais quando te pões a atirar postas.
Já estão a ver o problema, certo? O Facebook roubou as minhas postas e embelezou-as como uma patine inglesa para camuflar a usurpação, transformando-as em “posts”. E agora toda a gente fala em “posts”, grande “post”, leste aquele “post” e afins, sendo que pelo caminho desdenham das minhas postas eruditas e/ou profundas, tecendo considerações que me magoam o ego e causam aflições ao nível dos joanetes derivado de dizerem que escrevo com os pés.
No entanto, há sempre pessoas mesquinhas e pencas de visão. Quando anunciei no café da Conchita a minha resolução de processar o Facebook, o Celestino, que se tem em conta de profundo pensador e eclético sabedor, disse-me:
– Ó Paragrafino, para teu conhecimento, existe uma marca denominada “post it”, que comercializa aqueles papelinhos amarelos e de outras cores, onde é suposto as pessoas escreverem mensagens e que funcionam como auxiliares de memória. Já equacionaste, porventura, a possibilidade de os “posts” do Facebook serem inspirados nos “post it” e não nas tuas postas?
Nas mesas em redor detetei risos escarninhos que teriam o condão de me deixar deprimido não fosse eu um hércules dos sentimentos. Deixo regozijarem-se em surdina e de repente ataco, mordaz:
- Pois, Celestino, é isso e dizeres que a Lua é parte de Marte e depois teres a veleidade de sonhares que um dia poderás ser presidente da UPVN (União e Progresso da Venda Nova) ou dos EUA (Estrelas Unidas de Avintes). Tem juízo, homem.
O Celestino viu o seu futuro hipotecado (a juntar à dupla hipoteca que tem sobre a casa) e saiu de fininho vergado à minha vitoriosa retórica. Os outros calaram-se e a Conchita, pestanuda, lançou-me um olhar embevecido, dando alento para retomar o meu solilóquio.
Fiquem a saber que as minhas postas têm um alcance mundial e nem precisam da ajuda de algoritmos. Por exemplo, fui o primeiro a referir que o príncipe William e a Kate Middleton não estão separados e só fizeram querer que sim para tirar os pombinhos Harry e Meghan da ribalta mediática, que o Jorge Jesus foi para o Flamengo porque tinha a ambição de experimentar treinar um clube do norte da Europa e que o Custódio tinha um caso com a Emília da retrosaria, sendo que esta é amiga de uma amiga que conhece uma empregada doméstica da dona Dolores e que assim teve conhecimento de umas intimidades da Georgina, a megera que cravou as garras em Cristiano.
No fundo, sou um Facebook em carne e osso. Ou melhor, o Facebook é uma imitação informática da minha pessoa e, por isso, todos os seus “posts” são semelhantes a pratos minimalistas, ao contrário das minhas postas, que surgem acompanhadas de brócolos, batatas, cenouras e ovo cozido, tudo regado com um fiozito de azeite que é o meu humor refinado.
Devo até revelar que já pedi ajuda ao Marinho e Pinto para esta demanda judicial, empreitada que aceitou de bom grado, na medida em que deixou de ser eurodeputado. Disse-me ele:
– Paragrafino, vamos meter um ponto final nesta pouca-vergonha do Zuckerberg, que usurpou as tuas ideias, da mesma forma vil que os tipos do PAN se apropriaram do meu lugar em Bruxelas. O gajo vai ver que não se brincam com os direitos de autor. A nossa arte do cerco vale muito mais do que a rede dele.
E assim vai ser. No entretanto, pedi apoio moral à Luciana Abreu, uma moça equilibrada, ao Pacheco Pereira, segundo o qual todos os males do mundo são culpa do mau jornalismo, ao Francisco J. Marques, que diz querer fazer jornalismo, mas não o deixam, e à Cristina Ferreira devido às audiências e porque sim.
Sim, eu sei que este é o tempo das sardinhas mas, por favor, suportem a causa das minhas postas, que faz bem à saúde decorrente de ter ómega 3.
Bom fim de semana e tenham o que quiserem.