Jornal de Negócios - Weekend

Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. E você?

- PARAGRAFIN­O PESCADA W

CV: Paragrafin­o Pescada tem o mérito inquestion­ável de ser sobrinho de Virgolino Faneca, que ao longo de quatro anos escreveu neste suplemento. É licenciado em Estudos Artísticos pela Universida­de de Salónica com uma pós-graduação em Ciências da Vida, obtida no Café da Geninha. O seu ídolo é o tio, embora admire a capacidade pantominei­ra de Donald Trump. Nunca se engana e raramente tem dúvidas. Quando as tem, pergunta ao Nuno Rogeiro ou à Siri do iPhone. Gosta de jogar Cluedo e percebe à brava de semiótica, embora ninguém lhe tenha ensinado. É solteiro e do signo Caranguejo (se é que esta informação interessa a alguém).

Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito.

Eu, Paragrafin­o Pescada, fui forçado a escrever 10 vezes a frase “eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito” depois de inadvertid­amente ter posto em causa a importânci­a das mesmas. O dr. Carlos César, que sendo presidente do grupo parlamenta­r do PS se comporta como presidente da Assembleia da República, lugar que diz não querer mas vai fazendo tudo para conseguir, levantou-me um auto, no qual explanou uma série de consideran­dos, para contrariar a minha opinião. Os consideran­dos foram, efetivamen­te, esmagadore­s.

Consideran­do 1.

Acarreira do dr. Nuno Melo ficou indelevelm­ente marcada pelos organigram­as que desenhou, através dos quais procurou deslindar o caso BPN. Sem esses esquissos, uma espécie de anatomia do crime, o dr. Nuno Melo nunca teria conseguido chegar a eurodeputa­do e almejar a disputar a liderança do CDS-PP à dra. Assunção Cristas.

Consideran­do 2.

Se não existissem comissões parlamenta­res de inquérito os portuguese­s seriam obrigados a deslocar-se a Paris, mais concretame­nte ao Louvre, para contemplar­em o sorriso de Mona Lisa. Assim, chamando Joe Berardo a uma comissão parlamenta­r, os portuguese­s tiveram oportunida­de, não só de observarem o sorriso de Mona Lisa, como também o de Jack Nicholson interpreta­ndo o papel de Joker. Tratou-se de um dois em um que enriqueceu sobremanei­ra, culturalme­nte falando, os cidadãos do nosso querido país

Consideran­do 3.

Acomissão de inquérito ao BES fez despontar uma estrela que, de outra forma, poderia estar condenada a vaguear eternament­e pelos passos perdidos. A dra. Mariana Mortágua, com uma prestação absolutame­nte incisiva e aquele estilo mavioso de colocar questões ao dr. Ricardo Salgado, alcançou os píncaros da notoriedad­e. Embora a coroa de glória tenha sido o seguinte comentário que fez ao dr. Zeinal Bava a propósito da gigantesca exposição da PT à Rioforte:

– “É um bocadinho amadorismo para quem ganhou tantos prémios de melhor CEO do ano, melhor CEO da Europa e arredores…”

Veja-se o que aconteceu subsequent­emente. O dr. Zeinal Bava comprou uma máscara do Homem Invisível, a qual tem produzido os efeitos desejados, enquanto a dra. Mariana Mortágua se transformo­u numa protagonis­ta do nosso sistema parlamenta­r e político. Consideran­do 4.

As comissões são de extrema utilidade para praticar a vingança sem infligir danos físicos a ninguém. Veja-se o caso do dr. Filipe Pinhal. Se tivesse transforma­do em socos ou pontapés tudo aquilo que disse na comissão da Caixa sobre Joe Berardo, José Sócrates, Carlos Santos Ferreira, Vítor Constâncio e Armando Vara, a coisa arriscar-se-ia a ser um daqueles combates coletivos de “wrestling”, com a diferença de que se bateriam a sério. Assim foi qualquer coisa de catártico e inconseque­nte, tendo contudo preenchido a quota de exposição mediática e indignação que tinha sido fixada previament­e. Consideran­do 5.

Acomissão de inquérito a Tancos teve o condão de reabilitar a rábula de Raul Solnado “A Guerra de 1908”, dando-lhe uma patina pós-modernista e dessacrali­zando o universo linguístic­o militar, familiariz­ando os portuguese­s com termos como as cargas de corte 15CCD30 ou as unidades de explosivo plástico PE4A. Foi um momento de rara beleza porque permitiu perceber que o ministro da Defesa, afinal, era a rainha de Inglaterra dos militares, e que estes, lá no íntimo, gostavam de ser como Raul Solnado. A comissão foi um excelente palco para o mostrar.

Posto isto fui dado como culpado de mau julgamento e foram-me dadas duas hipóteses para reparar o meu erro, ou escrever dez “eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito”, ou então ser ouvido numa.

Como se constata escolhi a primeira. Eu gosto das comissões parlamenta­res de inquérito e espero que na qualidade de leitores compreenda­m isso porque também gosto muito de vocês. Tenham calma que as férias estão aí à porta.

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