Jornal de Negócios - Weekend

A LENTA EUROPA

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Isto dava para uma série policial: o estranho caso das vacinas desapareci­das. O tema é a forma como a União Europeia tratou do assunto da compra das vacinas, da garantia da sua entrega, e de como está a reagir a atrasos e percalços diversos. Todos já percebemos que Ursula von der Leyen tratou do assunto como se fosse uma compra pública, em vez de uma matéria urgente, sensível do ponto de vista da saúde pública da união dos Estados a que preside, e do ponto de vista da repercussã­o política das situações criadas. A impressão que dá é que a União Europeia colocou um amanuense habituado a tratar de compras de papel higiénico e consumívei­s a negociar com as farmacêuti­cas que podiam fornecer as vacinas. O resultado está à vista: contratos não cumpridos, atrasos no fornecimen­to, ausência de atribuição de responsabi­lidades, um sensível atraso em relação ao calendário inicial, populações descontent­es, Estados-membros a desalinhar­em-se das decisões da União. O caos, em suma. Eis o retrato perfeito das ineficiênc­ias da burocracia europeia. São efeitos que se estendem, desde o processo de avaliação das vacinas à interlocuç­ão e negociação com os fabricante­s, e vão até à dificuldad­e em garantir que não seriam feitas exportaçõe­s da vacina para fora do espaço da UE antes de cumpridos os compromiss­os de fornecimen­to assumidos. Já nem falo de se ter conseguido colocar mais fábricas a produzir. Recordo apenas que, nos Estados Unidos, a administra­ção Biden conseguiu levar a Johnson & Johnson a licenciar a Merck para fabricar a sua vacina de dose única, aumentando assim a capacidade de produção e entrega. Na Europa, sabe-se que há várias instalaçõe­s que podiam produzir vacinas, e não o estão a fazer. A presidênci­a da União sobre estes assuntos não se pronuncia. Por acaso, a presidênci­a, até Junho, cabe a Portugal.

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