Corrida mundial pelos “chips” sem fim à vista
A guerra geopolítica atual faz-se também no campo dos “chips”. A escassez de semicondutores está a aumentar a tensão entre os Estados Unidos e a China. A Europa não quer ficar de fora do mapa e estabeleceu como meta produzir um quinto dos processadores e transístores a nível internacional. Eis o novo mundo industrial
As novas guerras transfronteiriças desenrolam-se no território dos circuitos integrados – dos chamados “chips”. Dos automóveis aos “laptops”, são muitos os setores afetados (os microprocessadores estão em todo o lado) e a rutura já é visível em Portugal: a fábrica da Autoeuropa em Palmela teve de interromper a sua produção. As notícias somam-se e sucedem-se, e a corrida mundial pelos “chips” não tem fim à vista. A escassez, sabe-se, leva a guerras, e é isso que está a acontecer entre gigantes asiáticos e países ocidentais, que preparam cheques milionários para assegurarem a produção nacional de “chips”.
“Neste momento, a guerra entre os Estados Unidos e a China tem que ver essencialmente com o domínio da tecnologia dos processadores, tudo o resto é fumo”, assinala Luís Sarmento, investigador em ciências da computação.
Também a Europa está a acelerar o passo para acompanhar a procura galopante de semicondutores e pretende assegurar 20% da produção mundial, aponta o novo documento “2030 Digital Compass”, uma espécie de bússola digital para os próximos dez anos. Esta sexta-feira, Pedro Siza Vieira, ministro do Estado, da Economia e da Transição Digital, preside ao Conselho de Competitividade, esperando um “debate importante” sobre a redução da dependência estratégica europeia.
Num mundo inundado por “chips” sobressaem portentos empresariais como a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), produtora para marcas como a Apple, e a sul-coreana Samsung Electronics – que já acionou os alarmes mundiais, antecipando novas falhas de produção. A pandemia e o confinamento aceleraram a procura mundial por “laptops”, “webcams” e monitores, e os fabricantes de “chips” não têm mãos a medir – literalmente. Mas o “stay at home” é apenas uma causa da escassez, existem outras. Os “chips” estão em todo o lado: dos carros autónomos aos sistemas de ar condicionado. A crescente procura fez subir o valor das ações ligadas à indústria dos semicondutores”, como indica o Negócios no artigo “Chips: a escassez de uns é a riqueza de outros”.
Preocupado com a dependência em relação ao mercado asiático e em especial com a crise dos semicondutores no setor automóvel, o presidente norte-americano, Joe Biden, deu luz verde a um pacote de ajudas de 37 mil milhões de dólares para acelerar a produção de “chips” no país. Empresas como a Ford e a General Motors têm vindo a abrandar a produção ou mesmo a parar as suas fábricas. Segundo a consultora AlixPartners LLP, a escassez de microprocessadores poderá levar os fabricantes automóveis a registar uma quebra global de receitas de 61 mil milhões de dólares já este este ano.