GRÁFICOS DA CIDADE E DAS COISAS
Gráficos, símbolos ou tabelas para falarem das pequenas histórias humanas.
E não da grande estatística. Gráficos que são situações ou narrativas. Gráficos literários entre o imaginário e a cidade real. Um projecto conjunto com o Teatro Viriato.
POR VEZES BASTA UMA FRASE DIAS, SEMANAS E MESES (NUMA DÉCADA)
“Mais criam dias que meses”, diz a sabedoria popular. E é isso. O dia como unidade em que podemos tocar. O dia é a referência, não a semana nem o mês. O dia como oportunidade; nunca a semana nem o mês nem o ano; porque são coisas bem longínquas. Oportunidade, eis a definição: aquilo que desaparece rapidamente, mas não tão rapidamente que não te permita ainda assim agires dentro dela. Um dia é uma oportunidade, uma semana ou um mês, não. Apressa-te, senhor; apressa-te, senhorita.
LINGUAGEM E SILÊNCIO NA VIDA SOCIAL
Estou na rua: pessoas e pessoas que não páram e não se calam; lembro-me então da extraordinária frase de Pascal Quignard: “a vida humana apoia-se na linguagem como a flecha se apoia no vento”. E sim: se tirássemos neste momento as palavras, a possibilidade de linguagem, as pessoas ficariam a olhar umas para as outras na rua; a olhar com atenção, com um olhar que ajuíza – avaliando os outros, medindo os actos de cada um. Seria intenso e perigoso. Flechas, é preciso defendermo-nos delas; e é com elas que atacamos. Atacar e defender: falar, ouvir. Meios de distracção. Assim não vês com atenção. Mas talvez o melhor seja ser cego: “a vida humana apoia-se na linguagem como a flecha se apoia no vento”.