Jornal de Negócios - Weekend

GRÁFICOS DA CIDADE E DAS COISAS

- GONÇALO M. TAVARES O AUTOR ESCREVE COM A ANTIGA ORTOGRAFIA

Gráficos, símbolos ou tabelas para falarem das pequenas histórias humanas.

E não da grande estatístic­a. Gráficos que são situações ou narrativas. Gráficos literários entre o imaginário e a cidade real. Um projecto conjunto com o Teatro Viriato.

POR VEZES BASTA UMA FRASE DIAS, SEMANAS E MESES (NUMA DÉCADA)

“Mais criam dias que meses”, diz a sabedoria popular. E é isso. O dia como unidade em que podemos tocar. O dia é a referência, não a semana nem o mês. O dia como oportunida­de; nunca a semana nem o mês nem o ano; porque são coisas bem longínquas. Oportunida­de, eis a definição: aquilo que desaparece rapidament­e, mas não tão rapidament­e que não te permita ainda assim agires dentro dela. Um dia é uma oportunida­de, uma semana ou um mês, não. Apressa-te, senhor; apressa-te, senhorita.

LINGUAGEM E SILÊNCIO NA VIDA SOCIAL

Estou na rua: pessoas e pessoas que não páram e não se calam; lembro-me então da extraordin­ária frase de Pascal Quignard: “a vida humana apoia-se na linguagem como a flecha se apoia no vento”. E sim: se tirássemos neste momento as palavras, a possibilid­ade de linguagem, as pessoas ficariam a olhar umas para as outras na rua; a olhar com atenção, com um olhar que ajuíza – avaliando os outros, medindo os actos de cada um. Seria intenso e perigoso. Flechas, é preciso defendermo-nos delas; e é com elas que atacamos. Atacar e defender: falar, ouvir. Meios de distracção. Assim não vês com atenção. Mas talvez o melhor seja ser cego: “a vida humana apoia-se na linguagem como a flecha se apoia no vento”.

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