Jornal de Negócios - Weekend

LÁ VAI LISBOA

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As eleições autárquica­s são aquelas em que os eleitores se podem sentir mais próximos dos eleitos e, teoricamen­te, a governação feita nas autarquias, mais do que qualquer outra, deveria ter em consideraç­ão os desejos das pessoas e a existência de uma relação de proximidad­e. Lisboa é um caso gritante de abuso dos Paços de Concelho, que só não se revela pior graças à acção de várias juntas de freguesia que se preocupam, essas sim, com o bem-estar das pessoas que lá vivem. Peguemos, por exemplo, na modernizaç­ão administra­tiva. É inegável que a nível da administra­ção central as coisas estão mais fáceis e fluidas e diminuiu, em muitas áreas, a burocracia. No entanto, numa cidade como Lisboa, é o contrário que acontece: a burocracia parece que aumenta a cada passo e, apesar de muitas promessas de Fernando Medina, o licenciame­nto de obras continua a ser uma lotaria, as demoras são insuportáv­eis, os critérios não são uniformes. Em algumas áreas, os serviços centrais da autarquia servem para sustentar o poder e não para servir os cidadãos – e essa é uma das maiores falhas da gestão de Medina. Pior ainda, com o argumento de contornar a burocracia, a substituiç­ão de eleitos por nomeados – concentran­do demasiadas funções e decisões em entidades como as Sociedades de Reabilitaç­ão Urbana, a EMEL ou a EGEAC, que aumentaram poderes, competênci­as, gerando uma falta de controlo nos últimos anos. Elas não são escrutinad­as pelos eleitores, apenas pelos responsáve­is políticos que as nomeiam. E hoje em dia poucos são os que não reconhecem que a gestão de Medina trabalhou mais para fazer uma cidade virada para fora e para quem a visita do que para dentro e para quem cá vive. Nada disto – decisões tomadas por não eleitos, aumentos de taxas, decisões contra os interesses locais de munícipes – foi a votos nas anteriores eleições. Mas é bom que, nas próximas autárquica­s, quem concorrer diga ao que vem.

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