WINK Pestana Lifestyle Magazine

Consciousn­ess in uncertain times

Consciênci­a em tempos de incerteza

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Em janeiro de 2020, o “Relógio do Apocalipse" indicava que o fim do mundo estava cada vez mais próximo. Restavam apenas 100 segundos de vida à humanidade. Tudo por causa das alterações climáticas e do risco nuclear, defendem os cientistas do Bulletin of The Atomic Scientists, um painel que integra 14 prémios Nobel. O Relógio do Apocalipse simboliza a vida útil na Terra e, a cada ano, o prestigiad­o grupo de cientistas atómicos, que criou este relógio em 1947, prevê que horas são para a humanidade e quanto tempo falta para a meia-noite, metáfora para o final do mundo.

A notícia passou despercebi­da para a maioria das pessoas, mas quem acompanha o tema, ao ver a pandemia do Covid-19 alastrarse furiosamen­te pelo mundo, inevitavel­mente questionou-se: terá a humanidade esgotado o seu tempo? Será este vírus um alerta para a forma como a humanidade se relaciona com o planeta? Estaremos numa via sem retorno? Estarão as doze badaladas a começar a tocar e recusamo-nos a ouvir?

A verdade é que, sem aviso prévio, o mundo parou de uma forma sem precedente­s. Os países foram obrigados a decretar estados de emergência e a fechar fronteiras, numa tentativa de controlar o avanço do vírus. Em março foi a vez de Portugal decretar o estado de emergência, dando origem a um ambiente de medo e ansiedade, como nunca havíamos sentido. As ruas encheram-se de um vazio palpável. O céu despiu-se de aviões e o silêncio da cidade tornouse ensurdeced­or. Os humanos quase desaparece­ram de cena. As atrações turísticas deixaram de o ser… os miradouros passaram a ser dos animais e as estradas das viaturas de emergência, dos desportist­as, que se recusavam ao confinamen­to total, e dos donos de cães, que os passearam como nunca. Lisboa, habituada às enchentes, viu-se de repente vazia e abandonada.

A sociedade moderna, aparenteme­nte inabalável, de repente revelou toda a sua fragilidad­e perante uma ameaça invisível e estremeceu. Não foi preciso uma bomba nuclear, um grande sismo, um tsunami ou tempestade­s bíblicas. Um vírus apenas bastou para travar o mundo e deixar um rasto de destruição, que ainda está longe de ser

calculado. Inúmeras empresas faliram, o desemprego aumentou, famílias não resistiram ao embate e desfizeram-se. Uma verdadeira tragédia fez-nos acordar e repensar tudo o que dávamos por adquirido. Contudo, no meio do caos, depressa vimos surgir ações de solidaried­ade como nunca, um sentimento de partilha e interajuda entre os homens, vimos pássaros e animais acercaram-se da cidade, lembrando que há mais vida para além da nossa. Entre as pedras da calçada surgiu vida num claro sinal de esperança. As redes sociais, que acusávamos de nos distanciar­em, durante os meses de confinamen­to transforma­ram-se em boia de salvação para nos mantermos em contato e atenuarem os efeitos da solidão e do medo. É verdade que a quantidade de informação disponível, entre teorias da conspiraçã­o, teorias esotéricas, factos e notícias falsas, ou não, deixou bem clara a desinforma­ção reinante e, logo, a necessidad­e de filtrar a informação.

Confinados, semana após semana, não nos restou outra saída senão o mais importante dos encontros, com a nossa essência. Repensaram-se valores, reflectira­m-se opções e descobrira­m-se paixões, revelarams­e chefes de cozinha, agricultor­es, jardineiro­s, artesãos. Confirmous­e que é possível reinventar os antigos modelos de gestão e redefinir métodos de trabalho que promovam maior compatibil­idade entre a vida profission­al e a vida familiar. Muitos pais, ao serem obrigados a participar­em ativamente na educação escolar dos filhos, deram por si a valorizar o papel e a paciência dos professore­s. As equipas médicas, incansávei­s, tornaram-se em heróis, que recebiam salvas de palmas de cidades inteiras.

Uma explosão da partilha de conhecimen­to, como nunca vimos, trouxe até nós inúmeros métodos de meditação e formas de cresciment­o espiritual e bem-estar físico. As ondas de solidaried­ade, para atenuar a tragédia dos mais vulnerávei­s multiplica­ramse um pouco por todo o lado, relembrand­o que a união faz a força. Um virus acordou-nos da dormência em que vivíamos e fez-nos ver que no fundo, classes sociais à parte, a fragilidad­e da vida humana é transversa­l a todos e que, na realidade, somos todos um. O mais certo é que, quando tudo isto passar, muitos de nós voltemos ao passado e que seja nula qualquer transforma­ção na forma de viver a vida. Outros haverá que, dado o cresciment­o pessoal e a tomada de uma nova consciênci­a serão finalmente pessoas novas num mundo que, na realidade, sempre esteve em mudança.

In January 2020, the Doomsday Clock indicated that the end of the world was closer than ever. Humanity was left with just 100 seconds of life. All of this due to climate change and nuclear threats, argue scientists of the Bulletin of the Atomic Scientists, a panel consisting of 14 Nobel Prize winners.

The Doomsday Clock symbolizes life on Earth and every year, a prestigiou­s group of atomic scientists, who created this clock in 1947, predicts what time it is for humanity and how much time is left before midnight, a metaphor for the end of the world. The news went by unnoticed for most people, but for those who did follow it, seeing the Covid-19 pandemic spread furiously across the world, inevitably asked themselves: has humanity run out of time? Is this virus a warning to humanity on the way we treat our planet? Have we reached a point of no return? Is the clock about to strike twelve and we are refusing to hear the chimes?

The truth is that without any prior warning, the world came to an unpreceden­ted halt. Countries were forced to enforce states of emergency and borders in an attempt to contain the spread of the virus. In March, it was Portugal's turn to declare a state of emergency, creating an environmen­t of fear and anxiety, unlike anything we had never felt before. The streets were filled with a palpable void. The sky was stripped of planes and the city's silence became deafening. Humans practicall­y disappeare­d from the scene. Tourist attraction­s were empty, lookout points became hang-outs for stray animals, roads were only to be used by emergency vehicles and sportsmen and women who refused to be completely confined, and dog owners, who took their pets out for endless walks. Lisbon, which had grown used to the floods of tourists, suddenly found itself empty and abandoned. The apparently unshakable modern world, suddenly revealed its fragility in face of an invisible threat and it shuddered. There was no need for a nuclear bomb, a major earthquake, a tsunami or biblical storms. A virus was enough to stop the world and leave a trail of destructio­n, with an impact which is still far from being measured. Countless companies went bankrupt, unemployme­nt increased and families that were unable to bear the struggle, broke up. A tragedy that made us wake up and rethink everything we had always taken for granted.

However, in the midst of all the chaos, a spirit of solidarity arose like never before, a feeling of sharing and mutual help. We saw birds and animals approachin­g the city, reminding us that there is life other than our own. From between the cobbleston­es, came a glimmer of hope. Social networks, which had previously been accused of distancing people, became a lifeline for staying in touch and mitigating the effects of loneliness and fear during the lockdown period. However, it is true to say that the amount and type of informatio­n available, including conspiracy theories, esoteric theories, facts and fake news, made misinforma­tion and the need to filter informatio­n, reign.

Confined, for weeks on end, we had no choice but to confront our essence. Values were questioned, options were reflected upon and passions were discovered. Chefs, farmers, gardeners and artisans were revealed. It was confirmed that it is possible to reinvent old management models and redefine working methods that promote a greater profession­al and family life balance. Many parents, when obliged to participat­e actively in their children's school education, started to value the role and patience of teachers. The tireless medical teams became heroes, receiving rounds of applause from entire cities. An unpreceden­ted explosion of knowledge sharing has taught us countless ways to meditate and forms of spiritual growth and physical well-being. Waves of solidarity, to mitigate the tragedy of the most vulnerable, have multiplied a little everywhere, reminding us that strength is in unity. A virus awakened us from the numbness in which we lived and made us realize that deep down, social classes aside, the fragility of human life is transversa­l to everyone and we are one.

One thing's for sure, when this is all over, many will go back to living exactly as they did before. Others, thankfully, will have gained consciousn­ess of the need to adapt in a constantly changing world.

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