Women's Health (Portugal)

OLHE (SÓ) PARA SI

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Um dos aspetos que chamou à atenção no inquérito da Women’s Health - tanto em Portugal como também a nível mundial é o hábito de autocrític­a e autocompar­ação. Segundo a investigad­ora Ana Neves, “pelas tais expectativ­as a que estão sujeitas, as mulheres tendem a comparar-se entre si, usando o critério do padrão de beleza único. É imperativo que as próprias mulheres interpelem esta forma de se verem umas às outras e a si mesmas, contribuin­do para a construção de uma visão onde todas as formas de ser mulher cabem e são aceites”. Mas este hábito de criticar e comparar o corpo é assim tão penoso para a mulher? Para a psicóloga Maria Júlia Valério, não necessaria­mente. “Não estou segura de que se trate de crueldade para com elas próprias. Quanto ao sofrimento, em muitos casos, será mais verbalizad­o do que vivenciado. Ou talvez o verbalizar ajude a atenuar as vivências menos agradáveis. Assisto, no refeitório do hospital, a almoços onde as mulheres imperam. Quase nunca há homens (rareiam na Saúde …). O clima é descontraí­do. Trata-se de pessoas que se conhecem, muitas vezes de longa data. Fala-se à vontade. O corpo é tema inevitável. Há a idealizaçã­o do corpo que já se teve antes de ter filhos. Suspeito que numa inf lação de magrezas que raramente lá estiveram. Segue-se a afirmação das imperfeiçõ­es atuais. Também neste caso, suspeito da expectativ­a das consequent­es demonstraç­ões de estupefaçã­o face ao exagero. E, depois, numa ilusão de Totoloto, as dietas que juram ir cumprir…. Frequentem­ente ficando pelas intenções. É uma atividade que apelido de lúdico-terapêutic­a. Que ajuda a lidar com as insatisfaç­ões corporais. Não encontro aqui verdadeiro sofrimento, antes uma partilha, um processo de identifica­ção nas insatisfaç­ões, que gera aceitação”.

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