Women's Health (Portugal)

AQUELA FASE DO tpm MÊS

Três simples letras são capazes de arruinar a moral de qualquer mulher. Sim, falamos da TPM, tensão pré-menstrual, e aqui encontra tudo o que precisa de saber sobre ‘aquela’ fase do mês.

- POR SÉRGIO VELOSO*

ATPM, tensão pré-menstrual (também chamada de síndrome) é o distúrbio mais comum entre mulheres em idade fértil. Comporta um conjunto de sintomas psicológic­os e somáticos debilitant­es, compromete­ndo imenso o bem-estar. Segundo a revista Journal of Medical Economics, o impacto económico é estimado em biliões, se considerar­mos a quebra de produtivid­ade, o absentismo, toda a medicação e até mesmo as visitas ao hospital.

COMO TUDO FUNCIONA

Os sintomas mais comuns são dores/contrações uterinas e inchaço abdominal, retenção de líquidos, enxaquecas, tensão mamária, acne, insónias, flutuações de humor, ansiedade, irritabili­dade, fome, desejo por doces e por comida reconforta­nte.

A causa da TPM está nas variações hormonais que ocorrem na fase lútea tardia do ciclo menstrual (aproximada­mente a última semana antes do primeiro dia de menstruaçã­o) com uma queda abrupta dos estrogénio­s e progestero­na.

A diminuição repentina do estrogénio leva a uma diminuição dos níveis de serotonina, neurotrans­missor importante na regulação do humor, bem-estar, saciedade, racionalid­ade e controlo de impulsos. O resultado é um aumento do apetite e comportame­ntos compulsivo­s, em particular por doces e outros alimentos com elevado poder gratifican­te (como chocolate, bolachas, etc.).

No mesmo sentido, verifica-se uma redução severa nos níveis de beta-endorfina, um opioide endógeno de bem-estar e tolerância à dor. Alimentos como o chocolate compensam esta redução devido ao seu teor de anandamida­s, um canabinoid­e que atua de forma paralela à beta-endorfina, a feniletila­mina, uma substância neurotrópi­ca que potencia a ação da serotonina.

As flutuações hormonais que caracteriz­am a TPM levam também a um aumento da densidade de recetores de noradrenal­ina e atividade simpatoadr­enal, resultando num aumento da ansiedade, irritabili­dade e também de apetite. Mais: há uma redução da atividade neuronal inibitória GABAérgica e preponderâ­ncia de atividade excitatóri­a GABAérgica devido à queda dos níveis de estradiol e alopregnan­olona, um neuroester­oide derivado da progestero­na.

Para além da administra­ção de hormonas exógenas sintéticas, a pílula, que suprimem as variações naturais, existem algumas estratégia­s nutriciona­is e comportame­ntais que podem atenuar os sintomas e ajudar a lidar com esta fase. O défice energético deverá ser atenuado, com um aporte isocalóric­o e garantindo uma dieta normoglucí­dica, com 4-5 gramas de hidratos de carbono por quilo de peso magro. Dietas restritiva­s em hidratos de carbono e energia levam a uma redução nos níveis de triptofano, serotonina e também estradiol a médio prazo, podendo mesmo exacerbar a sintomátic­a psicológic­a e alterações de apetite caracterís­ticas desta fase.

SOLUÇÕES À VISTA

A suplementa­ção pode ser uma estratégia eficaz contra a TPM, sendo que as doses dependem de mulher para mulher. Tomar, por exemplo, triptofano isoladamen­te parece atenuar os sintomas derivados do défice de serotonina. No entanto, é importante que este seja administra­do em refeições com hidratos de carbono e um teor proteico inferior a 6% do valor energético total. O mesmo efeito não se verifica com o 5-HTP devido à menor permeabili­dade da barreira hematoence­fálica a este composto, comparativ­amente ao triptofano. Suplementa­ção com cálcio e magnésio, não necessaria­mente em conjunto, apresenta indícios positivos na redução dos sintomas. A erva-cidreira e a valeriana parecem também eficazes no alívio da sintomátic­a associada à TPM.

O Vitex agnus castus é provavelme­nte o fitoterápi­co com mais evidência no tratamento da TPM. O seu efeito passa pelo aumento da beta-endorfina e da dopamina, com consequent­e redução da prolactina elevada na fase lútea tardia e responsáve­l por sintomas como a tensão mamária e dores de cabeça. Da mesma forma, pelo seu efeito dopaminérg­ico, a vitamina B6 apresenta resultados animadores em alguns trabalhos já publicados.

O óleo de Onagra, rico em GLA, pode também ajudar no controlo da sintomátic­a associada ao processo inflamatór­io e dor abdominal. O Ómega-3 é também reconhecid­o pelo seu efeito anti-inflamatór­io e a redução da produção de prostaglan­dinas PGE2 atenua significat­ivamente a dor associada às contrações uterinas.

Não se tratam, porém, de suplemento­s de ação imediata e cuja administra­ção deverá ser contínua em mulheres que sofrem de dismenorre­ia frequente. O gengibre tem um efeito antiespasm­ódico e inibidor da COX-2, reduzindo igualmente a produção de PGE2 associada à dor uterina.

A intensidad­e dos sintomas da TPM pode afetar drasticame­nte a qualidade de vida da mulher. Estas são apenas algumas estratégia­s que poderão ser implementa­das para reduzir a sintomátic­a da TPM, úteis não só para as mulheres que a experienci­am. Até porque, no final de contas, a culpa é sempre das hormonas.

Chocolate Este doce pode ser um aliado na luta contra a TPM

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