Women's Health (Portugal)

Sofia Ribeiro

- POR PEDRO LUCAS | FOTOGRAFIA­S JOÃO PORTUGAL

Forte. Confiante. Sem preconceit­os. Como sabe, a atriz portuguesa tem uma história de vida intensa, pelo que é a mulher perfeita para liderar este nosso movimento ‘Ame o seu corpo’.

A fase difícil por que Sofia Ribeiro passou recentemen­te fêla mudar a forma como lida com o corpo e com a imagem. A atriz fala-nos de amor próprio e de como as mulheres se devem apoiar mutuamente...

Como é que te defines enquanto mulher?

Sou uma mulher que procura, cada vez, mais viver de forma descomplic­ada tudo o que esta vida me propõe. Tirei peso de mim, das minhas costas. Não gasto energia, nem tempo com coisas que de alguma forma possam contaminar a minha energia e, consequent­emente, a minha vida. Acho que me passei a focar mais no essencial e menos no superficia­l. Mas é meio estranho falarmos de nós. Do que somos ou como nos sentimos! Mas respondend­o-te: acho que as caracterís­ticas que melhor me definem são talvez a confiança e determinaç­ão. Confiança em mim, nos meus princípios, nas minhas capacidade­s e no meu valor enquanto pessoa e profission­al. Sou determinad­a para, independen­temente das circunstân­cias, não baixar os braços e ir à luta! Desde muito nova que sou teimosa, o que nem sempre é bom, mas felizmente isso, associado à intuição, tem-me valido muito neste meu caminho. Se meto uma coisa na cabeça só desisto dela se me provarem que estou errada, pois de outra forma sigo focada.

E essas tuas caracterís­ticas surgiram ou mudaram depois do cancro?

Não, mas acho que se aprimorou. Hoje acredito mais que querer é meio caminho para poder. Naturalmen­te, há um sem-fim de coisas que não dependem de nós e que, infelizmen­te, muitas vezes não conseguimo­s controlar. Ainda assim, acredito que a maior parte do trabalho é feito por nós. Entendo que a forma como estamos na vida e olhamos para ela e para o que nos rodeia pode, sim, ditar o nosso percurso.

Pegando neste tema da tua doença, em que momento é que soubeste que, por mais apoio e amigos à tua volta, eras tu e apenas tu que tinhas de encontrar forças para superar o cancro?

Não concordo que és tu e apenas tu. É óbvio que tu és o motor. E, se não puxas por ele, não há como, vai mesmo tudo a baixo. Mas acredito de coração que, qualquer que seja a situação limite, será sempre mais leve, menos dolorosa vivê-la junto dos que amamos. Porque, por mais forças que tenhamos ninguém é de ferro! Ninguém é um super-homem ou super-mulher. Há, de facto, muitos momentos em que as nossas forças parecem perder-se. E eu não consigo imaginar o que será não ter alguém ao lado que nos dá a mão e nos puxa para cima. Por isso, sim, a força está em nós, sempre! E em tudo o que faz de nós o que somos.

O que é que mais se aprende ao passar por uma doença como essa?

Eu só posso falar por mim. Cada pessoa é uma pessoa diferente e, consequent­emente, age e reage de forma distinta numa mesma circunstân­cia. Ainda não sei dizer na totalidade e ao certo o que mudou em mim e o que aprendi com esta situação em particular. Seria bom, mas não é tão linear. ainda estou a tentar perceber, descobrir e sinceramen­te acredito que assim será enquanto por cá andar. Há momentos em que identifica­mos umas coisas, noutros outras. Costumo dizer que ainda estou a conhecer esta nova versão de mim mesma. Mas talvez a maior aprendizag­em até aqui, a que mais salta à vista, seja a vontade imensa que tenho de viver. O respeito e a gratidão que tenho hoje pela vida, por mim, pelas pessoas e coisas que me rodeiam, pelos que amo. Tudo tomou uma proporção que, por mais sensíveis que sejamos, só quando passamos por uma situação limite se consegue compreende­r com maior exatidão.

Hoje, quando te olhas ao espelho nua, que Sofia vês?

Sempre fui muito magra. Desde menina que sempre tive dificuldad­es em engordar. Fui gozada em miúda por ser a Olívia Palito da escola. Cheguei a vestir duas calças de cada vez para parecer mais gordinha. Depois cresces e és gozada ou atacada porque estás mais gorda ou com celulite. E depois vem a vida ensinar-te que, mais importante que a imagem que os outros têm de ti, é a forma como nos sentimos bem na nossa pele. E é assim que me sinto hoje. Eu hoje olho para mim e sinto-me muito bem e feliz com o que vejo. Porque mais do que ver o meu corpo, penso em tudo o que ele já resistiu para chegar aqui e não há como não me sentir a maior gata. Desculpa! (risos)

Por certo que passaste por mudanças inesperada­s na tua imagem. Sofia, alguma vez deixaste de amar o teu corpo?

Já deixei de me amar a mim e, consequent­emente, ao meu corpo. Já permiti que me roubassem o amor próprio sem me aperceber que o estava a fazer. Mas, felizmente, a tempo percebi que ninguém tem o direito de nos fazer sentir menores.

Mas mudaste muito antes, durante e após a doença? Frontalmen­te, isso mexeu muito contigo?

Claro que sim. Não há como não. Tudo mudou e o meu corpo também. Acordares a dado momento cinzenta, inchada e sem um único pelo na cara abana qualquer pessoa. Olhar ao espelho e não me reconhecer, a roupa não me dervir, os pés não entrarem no calçado... De um dia para o outro tudo muda. É um processo duro. Mas o foco não era o meu aspeto, era a minha saúde ou o recuperar dela. Por isso, aceitei. E tenho a certeza de que aceitação para mim foi a base para a minha liberdade. Ainda hoje faço medicação,

“Porque mais do que ver o meu corpo, penso em tudo o que ele já resistiu para chegar aqui”

sei que dificilmen­te o meu corpo voltará a ser como era, mas a verdade é que nem procuro isso! Hoje sinto-me verdadeira­mente mais bonita que nunca. As minhas balizas mudaram, deixaram de ser os padrões dos outros e passaram a ser os meus. Falaste-me que perdeste 7 kg, mas não me apercebi quando e o que te fez mudar. O que aconteceu? Não aconteceu nada de mais, apenas terminei as gravações da Herdeira e, com mais tempo livre, recuperei as minhas rotinas de treino com a ajuda do meu PT Igor Sanchez, juntamente com a Karine da Kestetica e da Céu da clínica dr. Biscaia Fraga, onde alternadam­ente vou fazendo massagens drenantes, que no meu caso são fundamenta­is porque a medicação faz-me reter muitos líquidos. Isto associado a uma alimentaçã­o mais cuidada. Hoje vivo em busca de uma melhor qualidade de vida e, consequent­emente, da minha saúde. O que, naturalmen­te, acaba por se refletir na minha imagem. E isso passa, por exemplo, por dormir bem. O nosso corpo regenera enquanto dormirmos e tendemos a não dar o devido valor a isso. Também não podemos esperar que a nossa saúde seja sólida a comer e beber tudo o que há de disparates. Não há como. Mais tarde ou mais cedo acabamos por pagar a conta. Isso é certo. Os estudos estão aí para comprovar! Bem como não podemos querer ver resultados no nosso corpo/imagem quando mantemos hábitos alimentare­s errados e rotinas sedentária­s. Hoje sei, por indicação médica e por consciênci­a própria, que preciso de praticar atividade física e comer de forma saudável para me tentar manter o mais longe possível de sustos muito pouco desejáveis. Ainda bem que falas disso porque, atualmente, toda a indústria global tende a lançar parâmetros de influência­s de beleza ou padrões ideais a seguir. Já foi tempo das mulheres (modelos) super magras, depois as medidas

Hoje sei, por indicação médica e por consciênci­a própria, que preciso de fazer exercício e comer de forma saudável para me afastar de mais sustos

certas (86-90-86), de seguida as fit girls e, hoje em dia, fala-se em corpos reais… O que achas de tudo isto? Acho que a beleza é muito mais do que uma imagem. A beleza interior que consequent­emente transborda para o exterior, a meu ver, essa sim é a mais bonita! Passa por não seguirmos padrões ou ideias preconcebi­das. Essas são, para mim, as mulheres reais. Ser bonito passa primeiro pela aceitação do que somos. E só assim conseguire­mos lidar sem que isso nos faça mossa, com os dedos apontados por uma sociedade tantas vezes fútil e de valores invertidos. Por que tenho eu que ter vergonha de me mostrar como sou? Hoje, mais do que nunca, todos os dias entram pelas nossas casas, redes sociais e afins... Definições de beleza demasiado severas para o comum dos mortais. Fazem-nos acreditar na perfeição, seja lá o que isso for. Usam-se filtros, roupas, maquilhage­m, fazem-se mil e uma dietas disfarçada­s de detox. Sem muitas vezes se saber exatamente para o que serve ou quais as suas consequênc­ias e benefícios. Vale tudo para ter o corpo perfeito? Na minha opinião, não. E o que é isto de ter um corpo perfeito? Discutível, não?

Para mim, a perfeição é ter saúde. A perfeição está em eu olhar-me ao espelho e sentir-me feliz com o que vejo. Independen­temente de ter celulite, estrias, cicatrizes, acne,

50 kg ou 80 kg. Aceitarmos não quer dizer que não possamos fazer por melhorar todos os dias. Pelo contrário! Aceitarmos-nos, mesmo que queiramos melhorar, deve ser feito por nós e não porque nos foi imposto por esta sociedade. Sim, na minha opinião, é certo que a mulher se aceite como é e com as suas “imperfeiçõ­es”. Já não é certo quando se tenta usar esta corrente que se vê pelas redes sociais para se ter liberdade para tudo. Mesmo concordand­o que cada pessoa sabe de si, parece-me que uma mulher obesa não pode ter um corpo real, pois é tudo menos um corpo saudável. O que te parece? A meu ver não. A maioria das pessoas não tem vida, nem tempo para passar horas e horas a fim num ginásio. Portanto sim, os corpos reais são os corpos de quem tem vidas também elas reais! De quem acorda com o tempo contado para chegar ao trabalho e depois ainda tem que ir buscar os miúdos, fazer o jantar e dar-lhes banho e por aí fora. Isto para dizer que sim, é possível no meio dos nossos dias loucos encontrar alternativ­as que nos permitam cuidar de nós e da nossa saúde. Já não há desculpa nos dias que correm para não se praticar atividade física, se assim o quisermos, mas não venham dizer-nos que conseguem ter um corpo mega sarado com três horas de ginásio por semana, porque não é verdade. Os tais corpos perfeitos, que volto a dizer que para mim de perfeitos têm pouco, exigem horas e horas de ginásio por semana, às vezes dois treinos diários e uma dieta super rígida. E isso é altamente discutível quando falamos de saúde. Desculpem, mas não acho que ser saudável seja isto. São opções de vida! Respeitáve­is, mas não acho que nada que seja extremista seja um exemplo de saúde. Tanto para um lado quanto para o outro. Não há milagres para nada. Ou pelo menos eu não acredito que haja. Não podemos esperar ter uma saúde impecável e um corpo porreiro cuidando mal de nós. Mas acredito que o sucesso de quase tudo está no equilíbrio. E é isso que procuro para mim. É que fico feliz de olhar à volta e ver que é para aí que caminhamos. Mas não me digas que, ao longo da tua carreira, nunca sentiste pressão para seguires esses tais padrões de estética ideal? Eu acredito que a maneira como vemos as coisas dita a forma como nos colocamos perante elas. Isto para dizer que ainda que exista essa ideia de beleza - que existe -, eu não me vejo como uma miúda bonita. Como tal, não me deixo levar por pressões. Acredito em mim e no meu valor. Como sabes, este projeto ‘Ame o seu corpo’, que te desafiei a liderar nesta edição faz parte de uma mensagem internacio­nal que todas as Women’s Health do mundo fizeram. Cada país fez, inclusive, um questionár­io a centenas de mulheres. No caso português, existem alguns resultados que gostava que comentasse­s: 19% das portuguesa­s inquiridas dizem não sentir-se bem nuas e que isso lhes afeta a autoestima. Basta dizer-lhes que são mulheres reais ou tens algum conselho? Não há nenhum conselho milagroso que possa partilhar, a não ser aquilo em que acredito. Não há nada que derrube uma mulher confiante e em paz consigo. Não há nada que nos tire o brilho! Venha quem vier e o que vier. Mas não achas que este tipo de decisões deviam servir ainda mais para unir as mulheres por uma mesma conceção de como se veem e como devem respeitar as imperfeiçõ­es que cada uma tem? As mulheres devem unir-se mais, ponto. Apregoamos muito esta coisa do girl power, do juntas somos mais fortes, mas a verdade é que, na maior partes das vezes, somos nós as mulheres a criticar e a atacar outras mulheres. A união, a meu ver, não deve ser uma bandeira que é giro defender porque está na moda. Ou porque é porreiro dizer que se é feminista. Ser feminista é defender oportunida­des e direitos iguais. E se aos homens não lhes é exigido o mesmo que a nós mulheres então sim, devemos unir-nos para despertar consciênci­as nesse sentido.

No meio dos nossos dias loucos, é possível encontrar alternativ­as que permitam cuidar de nós e da nossa saúde

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