Uma voz pelas mulheres.
Tem 20 anos, uma carreira profissional promissora, um corpo de fazer suspirar e uma maturidade de causar inveja a muitos. Júlia Palha é mais do que uma bomb girl, é o espelho da esperança que devemos depositar nas gerações futuras.
Corria o ano de 1994 e a RTP estreava um programa dedicado ao mundo da moda cujo nome para sempre ficaria na memória… e nas fitas de medição. 86-60-86 era apresentado por Sofia Aparício, a it girl da altura, e estes números facilmente passaram a ser vistos como as medidas ‘ideais’ do corpo feminino – mesmo que apenas no sentido figurado. Júlia Palha ainda não era nascida quando esta magazine de moda foi para o ar. Hoje, com 20 anos, a jovem atriz apresenta uns saudáveis 88-61-91*, números que se assemelham ao desejado de há duas décadas, mas que são agora alvo fácil de crítica. Não apenas os de Júlia, mas todos. O que mudou desde então? Muita coisa, é um facto, mas, sobretudo, uma maior proximidade, quase sempre meramente digital, com as pessoas (incluindo celebridades), a passagem do que outrora foi liberdade de expressão para um livre-arbítrio à crítica e a falta de compaixão pelo terceiro. Tudo isto já existia, bem sabemos, mas o mundo digital veio inflamar a situação. E Júlia foi a mais recente celebridade a sofrer na pele aquela que é uma realidade transversal a qualquer outra pessoa, seja conhecida ou não. “As mulheres e os homens vão ser sempre vulneráveis [à crítica] e, por muito que se lute cada vez mais por uma maior aceitação e amor-próprio, numa altura em que se cultiva tanto a imagem e a estética, vai ser sempre muito difícil sentirmo-nos a 100% connosco, com o nosso corpo e mente. Mas acho que esta energia maior de invejas, ciúmes e, consequentemente, de ataque, não facilita em nada. Temos que olhar umas para os outros e admirarmo-nos. Não o contrário”. Depois de ter sido alvo de uma “análise” à escolha de uma peça de roupa e à forma como esta lhe assentava no peito, Júlia recorreu às redes sociais para lamentar “a vergonha alheia” que ouviu. “Que mundo é este em que sou acusada de não poder usar um vestido porque ‘demasiado peito’? Em que uma mulher fala do corpo de outra de forma sexista, referindo-se ao meu peito como uma ‘prateleira’ onde ‘tem vontade de pousar as chaves e a cerveja’? Estamos a trabalhar para quê? Para uma igualdade de género? Para uma maior aceitação? Ou para uma cena dos Malucos do Riso patrocinada pelo Ikea”, escreveu na sua conta de Instagram. Mas, o que magoou mais, o comentário em si, focado no tamanho do seu peito, ou o facto de ter sido feito por uma mulher? “Ambos”, diz-nos. Consciente de toda a pressão que a sua profissão de atriz impõe e da importância que a imagem corporal tem nesse meio, Júlia confessa que lida com isso “como qualquer ser humano lida. Há dias bons e dias maus. Cada um tem os seus. Em geral lido muito bem, e tudo o que seja negativo passa-me ao lado, mas não minto, há dias em que uma palavra parva chega a magoar. Chega a fazer com que me ponha a mim própria em questão”. Quando questionada se se sente bem com o seu corpo, Júlia foi assertiva: “Sim. E basta”. Mas, como mulher – leia-se: ser humano – e, sobretudo, como jovem adulta que é, Júlia tem as suas inseguranças. Todas temos. Júlia fica melindrada com comentários nocivos. Todas ficamos. “Tenho inseguranças. Vou ter sempre. (...) Já tive muitos complexos com o meu peito. As minhas amigas tiveram todas [peito] primeiro do que eu. Eu tive tardíssimo, mas quando tive, foi logo muito. E não foi fácil, ‘do dia para a noite’, com apenas 14 ou 15 anos começar a levar com comentários, com pessoas a perguntar se era [silicone] posto, com a atenção que
“Que eu nunca me deixe levar pelo hipoteticamente bonito”
chamava sempre que usava algo mais justo. E foi uma grande batalha e levou tempo para que me aceitasse tal qual como sou. Antes escondia, disfarçava... Hoje gosto de mim assim e quem não gosta ‘que vá dar banho ao cão’”. E é aqui que entra o lado mais maduro de Júlia Palha. Confessa as suas inseguranças, olha para elas com naturalidade –“faz parte e acho isso giro” – e recorre a gatilhos para se sentir melhor: “Nada como pôr uma boa música e arranjar-me em frente ao espelho não resolva num dia de ‘baixa autoestima’”. Mas Júlia vai mais além. Aquilo que é uma forma de se sentir bem consigo mesma é também uma ode ao movimento #oMeuCorpo que a Women’s Health lançou: “Por isso, é que gosto tanto de escrever e partilhar no Instagram sobre amor, amor-próprio e amor para com os outros. Gosto de relembrar como somos todos de carne e osso e é importante respeitar o próximo”. E nós não podíamos estar mais de acordo.
TRAMPOLIM PROFISSIONAL
O nome de Júlia Palha é ainda uma novidade para algumas pessoas. A sua carreira profissional começou a ser construída há apenas cinco anos, mas o currículo é já de louvar. Começou na moda, fez três filmes – John From, Coelho Mau e Gelo na Lua –, seis novelas e séries e um programa de televisão. “Dou por mim e o tempo correu. Tem sido projeto atrás de projeto. E é com a maior das felicidades que, mesmo sabendo que ainda tenho muitos objetivos e metas por alcançar, posso dizer que me sinto muito realizada a nível profissional”. Tal como tantas outras adolescentes, Júlia sonhou com várias profissões, mas foi um amor à primeira vista pela representação que a levou ao estrelato. “Já quis ser veterinária, gestora... Quando comecei a fazer moda, queria ser top model, a Sara Sampaio e a Cara Delevingne eram os meus grandes ídolos na altura. A representação surgiu com o primeiro filme que fiz, John From. Digamos que foi aí que descobri a minha verdadeira paixão. (...) Disseram-me uma vez: ‘Tu és demasiado transparente’. E com razão. E sou. E nunca quero deixar de ser. Gosto de sentir. E é uma profissão em que sentimos muita coisa”. E foi essa paixão que a fez deixar para segundo plano o curso de Comunicação Empresarial. “Cheguei a entrar para a faculdade, mas com o ritmo de trabalho com que ando acabei por perceber que era praticamente impossível conciliar. Acho que não tenciono terminar. O meu foco agora é ser atriz. Por isso, quando tiver uma ‘pausa’ quero ir para fora e estudar algo que me possa ajudar a concretizar esse objetivo”.
A carreira de Júlia no mundo da representação está a acontecer de forma quase supersónica e isso, sabe, apenas aumenta a pressão e os desafios. E, mais uma vez, o corpo – ou tudo o que se cria em torno dele – é um obstáculo. “Ultrapassar a barreira de ser considerada apenas mais uma carinha bonita é um dos maiores desafios que nos apresentam neste mundo de hoje. Tenho consciência de que ainda não sou nem 1/10 daquilo que serei um dia. E cada dia de trabalho é uma nova aprendizagem que me fará chegar onde quero e provar que tenho talento”, salienta a atriz. Sobre o futuro, perguntámos a Júlia como se vê daqui a dez anos. “Não sei nem quero saber o que mundo me reserva”, atira. “Gosto mais de viver da incerteza, da novidade. Tudo de forma intensa. Desde que daqui a dez anos esteja feliz e realizada a nível profissional, posso estar em qualquer lado. Mas, sem dúvida, vejo-me enquanto atriz e, se tudo bater certo, vou realizar um dos meus sonhos”. E que sonhos são esses? “Fazer uma novela para a Globo e fazer um filme em Hollywood. Depois disso, posso morrer feliz”.
DIGITAL Q.B.
As redes sociais são agora uma espécie de diário público e, ao mesmo tempo, o primeiro motor de pesquisa para muitas pessoas. Em alguns casos, são em simultâneo mais uma ferramenta de trabalho. Mas sentem-se as celebridades obrigadas a alimentar de determinada forma as redes sociais? “Cada vez mais. Não sei
“Tenho e posso prometer aqui que vou ter sempre consciência do que sou. Humana. Não sou, nunca fui e nunca vou ser superior a ninguém”
se está certo ou errado. Sei que faz parte. E se faz parte, se me põe em contacto com quem gosta e admira o meu trabalho, faz todo o sentido”. Porém, e ao contrário do que muitas outras caras conhecidas fazem, Júlia pouco ou nada publica sobre a sua vida privada. É um objetivo ser o mais low profile possível? “Digamos que sim”, diz-nos, confessando que “o que eu sou nas minhas redes sociais sou eu. Sem rodeios. Mas alguém que não tem os seus segredos e o seu mundo à parte, para mim, deixa de ser tão interessante. Além de que valorizo muito o meu espaço e a minha privacidade”.
Numa altura em que as redes sociais determinam estatutos, modo de estar, formas de relacionar e até mesmo maneiras de viver, aumentando desmesuradamente o número de reféns a esta realidade, ouvir de uma jovem de 20 anos que zela pela sua privacidade é um tanto ou quanto estranho, especialmente tratando-se de uma figura pública que começa a dar os primeiros passos neste meio que é tudo menos privado. Júlia parece bem mais madura do que uma jovem da sua idade. Pés bem assentes na terra é o seu segredo e começou a lutar por isso desde cedo. “Começar a trabalhar e a ter responsabilidades aos 15 anos deu-me outra cabeça. Sou muito organizada e responsável. A Rita Pereira uma vez disse-me esta frase que nunca vou esquecer: ‘Tu até podes nunca ser a melhor, mas ganha consciência disso e compensa com profissionalismo’. Tenho e posso prometer aqui que vou ter sempre consciência do que sou. Humana. Não sou, nunca fui e nunca vou ser superior a ninguém. A minha profissão é toda ela muito mediática e dá-me muita visibilidade. Mas isso não me faz sentir acima de ninguém. A minha mãe e amigos mais próximos são o meu pilar para me manter fiel aos meus valores e de pés bem assentes na terra”, conta.
PELAS MULHERES
Qual o segredo de Júlia para a boa forma física em que está? “Viver em função do que me diz o corpo. Muitas vezes acordo e digo: ‘Acabou! Vou comer menos mal esta semana, vou acordar um bocadinho mais cedo e vou para o ginásio’. E vivo em função dos sinais do meu organismo. E também da intensidade dos meus projetos, quando estou com muito trabalho é mais difícil ser focada”. À boleia da imprevisibilidade da sua profissão e da ausência de uma rotina, Júlia confessa que nem sempre consegue ser muito constante. “Tenho fases mais focadas em comer saudável e ir ao ginásio, tenho fases de maior desleixo”. Porém, há hábitos dos quais não abdica: “Bebo muita água, cortei com os refrigerantes e com a ‘comida de plástico’, é muito raro ir a um [restaurante] de fast-food. Tento comer mais alimentos biológicos, sem glúten, sem lactose”. No entanto, Júlia Palha tem no exercício físico uma das ferramentas fundamentais para o equilíbrio físico e mental. “Treino porque sei que preciso”, revela, e fá-lo duas a três vezes por semana. “Não sei o que mais gosto, mas sei, sem qualquer dúvida o que mais detesto: cardio! Ainda não descobri qual o desporto que me faça ser uma sporty girl nata. Quero algo que me dê vontade de ir treinar todos os dias, com o maior dos gozos. Tenho pensado em voltar a experimentar ballet”.
Ser capa da Women’s Health significa para Júlia a sua “primeira vez numa revista internacional e é uma revista que me diz muito. É uma revista que faz os possíveis para ajudar as mulheres a sentirem-se bem com elas próprias. É uma enorme honra e, acima de tudo, um marco nesta etapa da minha vida em que só quero acordar e gritar todos os dias: eu gosto de mim como sou! Que eu nunca me esqueça disto e que nunca deixe os padrões guiarem-me. Que eu nunca me deixe levar pelo hipoteticamente bonito. Que eu e todas as mulheres nunca deixemos fugir a nossa essência, pois é o que nos torna a todas diferentes e especiais”.
“Não escondo os meus sonhos: Fazer uma novela para a Globo e fazer um filme em Hollywood. Depois disso, posso morrer feliz”