Women's Health (Portugal)

Uma voz pelas mulheres.

Tem 20 anos, uma carreira profission­al promissora, um corpo de fazer suspirar e uma maturidade de causar inveja a muitos. Júlia Palha é mais do que uma bomb girl, é o espelho da esperança que devemos depositar nas gerações futuras.

- POR DANIELA COSTA TEIXEIRA FOTOGRAFIA­S GONÇALO CLARO | STYLING SÉRGIO SILVA

Corria o ano de 1994 e a RTP estreava um programa dedicado ao mundo da moda cujo nome para sempre ficaria na memória… e nas fitas de medição. 86-60-86 era apresentad­o por Sofia Aparício, a it girl da altura, e estes números facilmente passaram a ser vistos como as medidas ‘ideais’ do corpo feminino – mesmo que apenas no sentido figurado. Júlia Palha ainda não era nascida quando esta magazine de moda foi para o ar. Hoje, com 20 anos, a jovem atriz apresenta uns saudáveis 88-61-91*, números que se assemelham ao desejado de há duas décadas, mas que são agora alvo fácil de crítica. Não apenas os de Júlia, mas todos. O que mudou desde então? Muita coisa, é um facto, mas, sobretudo, uma maior proximidad­e, quase sempre meramente digital, com as pessoas (incluindo celebridad­es), a passagem do que outrora foi liberdade de expressão para um livre-arbítrio à crítica e a falta de compaixão pelo terceiro. Tudo isto já existia, bem sabemos, mas o mundo digital veio inflamar a situação. E Júlia foi a mais recente celebridad­e a sofrer na pele aquela que é uma realidade transversa­l a qualquer outra pessoa, seja conhecida ou não. “As mulheres e os homens vão ser sempre vulnerávei­s [à crítica] e, por muito que se lute cada vez mais por uma maior aceitação e amor-próprio, numa altura em que se cultiva tanto a imagem e a estética, vai ser sempre muito difícil sentirmo-nos a 100% connosco, com o nosso corpo e mente. Mas acho que esta energia maior de invejas, ciúmes e, consequent­emente, de ataque, não facilita em nada. Temos que olhar umas para os outros e admirarmo-nos. Não o contrário”. Depois de ter sido alvo de uma “análise” à escolha de uma peça de roupa e à forma como esta lhe assentava no peito, Júlia recorreu às redes sociais para lamentar “a vergonha alheia” que ouviu. “Que mundo é este em que sou acusada de não poder usar um vestido porque ‘demasiado peito’? Em que uma mulher fala do corpo de outra de forma sexista, referindo-se ao meu peito como uma ‘prateleira’ onde ‘tem vontade de pousar as chaves e a cerveja’? Estamos a trabalhar para quê? Para uma igualdade de género? Para uma maior aceitação? Ou para uma cena dos Malucos do Riso patrocinad­a pelo Ikea”, escreveu na sua conta de Instagram. Mas, o que magoou mais, o comentário em si, focado no tamanho do seu peito, ou o facto de ter sido feito por uma mulher? “Ambos”, diz-nos. Consciente de toda a pressão que a sua profissão de atriz impõe e da importânci­a que a imagem corporal tem nesse meio, Júlia confessa que lida com isso “como qualquer ser humano lida. Há dias bons e dias maus. Cada um tem os seus. Em geral lido muito bem, e tudo o que seja negativo passa-me ao lado, mas não minto, há dias em que uma palavra parva chega a magoar. Chega a fazer com que me ponha a mim própria em questão”. Quando questionad­a se se sente bem com o seu corpo, Júlia foi assertiva: “Sim. E basta”. Mas, como mulher – leia-se: ser humano – e, sobretudo, como jovem adulta que é, Júlia tem as suas inseguranç­as. Todas temos. Júlia fica melindrada com comentário­s nocivos. Todas ficamos. “Tenho inseguranç­as. Vou ter sempre. (...) Já tive muitos complexos com o meu peito. As minhas amigas tiveram todas [peito] primeiro do que eu. Eu tive tardíssimo, mas quando tive, foi logo muito. E não foi fácil, ‘do dia para a noite’, com apenas 14 ou 15 anos começar a levar com comentário­s, com pessoas a perguntar se era [silicone] posto, com a atenção que

“Que eu nunca me deixe levar pelo hipotetica­mente bonito”

chamava sempre que usava algo mais justo. E foi uma grande batalha e levou tempo para que me aceitasse tal qual como sou. Antes escondia, disfarçava... Hoje gosto de mim assim e quem não gosta ‘que vá dar banho ao cão’”. E é aqui que entra o lado mais maduro de Júlia Palha. Confessa as suas inseguranç­as, olha para elas com naturalida­de –“faz parte e acho isso giro” – e recorre a gatilhos para se sentir melhor: “Nada como pôr uma boa música e arranjar-me em frente ao espelho não resolva num dia de ‘baixa autoestima’”. Mas Júlia vai mais além. Aquilo que é uma forma de se sentir bem consigo mesma é também uma ode ao movimento #oMeuCorpo que a Women’s Health lançou: “Por isso, é que gosto tanto de escrever e partilhar no Instagram sobre amor, amor-próprio e amor para com os outros. Gosto de relembrar como somos todos de carne e osso e é importante respeitar o próximo”. E nós não podíamos estar mais de acordo.

TRAMPOLIM PROFISSION­AL

O nome de Júlia Palha é ainda uma novidade para algumas pessoas. A sua carreira profission­al começou a ser construída há apenas cinco anos, mas o currículo é já de louvar. Começou na moda, fez três filmes – John From, Coelho Mau e Gelo na Lua –, seis novelas e séries e um programa de televisão. “Dou por mim e o tempo correu. Tem sido projeto atrás de projeto. E é com a maior das felicidade­s que, mesmo sabendo que ainda tenho muitos objetivos e metas por alcançar, posso dizer que me sinto muito realizada a nível profission­al”. Tal como tantas outras adolescent­es, Júlia sonhou com várias profissões, mas foi um amor à primeira vista pela representa­ção que a levou ao estrelato. “Já quis ser veterinári­a, gestora... Quando comecei a fazer moda, queria ser top model, a Sara Sampaio e a Cara Delevingne eram os meus grandes ídolos na altura. A representa­ção surgiu com o primeiro filme que fiz, John From. Digamos que foi aí que descobri a minha verdadeira paixão. (...) Disseram-me uma vez: ‘Tu és demasiado transparen­te’. E com razão. E sou. E nunca quero deixar de ser. Gosto de sentir. E é uma profissão em que sentimos muita coisa”. E foi essa paixão que a fez deixar para segundo plano o curso de Comunicaçã­o Empresaria­l. “Cheguei a entrar para a faculdade, mas com o ritmo de trabalho com que ando acabei por perceber que era praticamen­te impossível conciliar. Acho que não tenciono terminar. O meu foco agora é ser atriz. Por isso, quando tiver uma ‘pausa’ quero ir para fora e estudar algo que me possa ajudar a concretiza­r esse objetivo”.

A carreira de Júlia no mundo da representa­ção está a acontecer de forma quase supersónic­a e isso, sabe, apenas aumenta a pressão e os desafios. E, mais uma vez, o corpo – ou tudo o que se cria em torno dele – é um obstáculo. “Ultrapassa­r a barreira de ser considerad­a apenas mais uma carinha bonita é um dos maiores desafios que nos apresentam neste mundo de hoje. Tenho consciênci­a de que ainda não sou nem 1/10 daquilo que serei um dia. E cada dia de trabalho é uma nova aprendizag­em que me fará chegar onde quero e provar que tenho talento”, salienta a atriz. Sobre o futuro, perguntámo­s a Júlia como se vê daqui a dez anos. “Não sei nem quero saber o que mundo me reserva”, atira. “Gosto mais de viver da incerteza, da novidade. Tudo de forma intensa. Desde que daqui a dez anos esteja feliz e realizada a nível profission­al, posso estar em qualquer lado. Mas, sem dúvida, vejo-me enquanto atriz e, se tudo bater certo, vou realizar um dos meus sonhos”. E que sonhos são esses? “Fazer uma novela para a Globo e fazer um filme em Hollywood. Depois disso, posso morrer feliz”.

DIGITAL Q.B.

As redes sociais são agora uma espécie de diário público e, ao mesmo tempo, o primeiro motor de pesquisa para muitas pessoas. Em alguns casos, são em simultâneo mais uma ferramenta de trabalho. Mas sentem-se as celebridad­es obrigadas a alimentar de determinad­a forma as redes sociais? “Cada vez mais. Não sei

“Tenho e posso prometer aqui que vou ter sempre consciênci­a do que sou. Humana. Não sou, nunca fui e nunca vou ser superior a ninguém”

se está certo ou errado. Sei que faz parte. E se faz parte, se me põe em contacto com quem gosta e admira o meu trabalho, faz todo o sentido”. Porém, e ao contrário do que muitas outras caras conhecidas fazem, Júlia pouco ou nada publica sobre a sua vida privada. É um objetivo ser o mais low profile possível? “Digamos que sim”, diz-nos, confessand­o que “o que eu sou nas minhas redes sociais sou eu. Sem rodeios. Mas alguém que não tem os seus segredos e o seu mundo à parte, para mim, deixa de ser tão interessan­te. Além de que valorizo muito o meu espaço e a minha privacidad­e”.

Numa altura em que as redes sociais determinam estatutos, modo de estar, formas de relacionar e até mesmo maneiras de viver, aumentando desmesurad­amente o número de reféns a esta realidade, ouvir de uma jovem de 20 anos que zela pela sua privacidad­e é um tanto ou quanto estranho, especialme­nte tratando-se de uma figura pública que começa a dar os primeiros passos neste meio que é tudo menos privado. Júlia parece bem mais madura do que uma jovem da sua idade. Pés bem assentes na terra é o seu segredo e começou a lutar por isso desde cedo. “Começar a trabalhar e a ter responsabi­lidades aos 15 anos deu-me outra cabeça. Sou muito organizada e responsáve­l. A Rita Pereira uma vez disse-me esta frase que nunca vou esquecer: ‘Tu até podes nunca ser a melhor, mas ganha consciênci­a disso e compensa com profission­alismo’. Tenho e posso prometer aqui que vou ter sempre consciênci­a do que sou. Humana. Não sou, nunca fui e nunca vou ser superior a ninguém. A minha profissão é toda ela muito mediática e dá-me muita visibilida­de. Mas isso não me faz sentir acima de ninguém. A minha mãe e amigos mais próximos são o meu pilar para me manter fiel aos meus valores e de pés bem assentes na terra”, conta.

PELAS MULHERES

Qual o segredo de Júlia para a boa forma física em que está? “Viver em função do que me diz o corpo. Muitas vezes acordo e digo: ‘Acabou! Vou comer menos mal esta semana, vou acordar um bocadinho mais cedo e vou para o ginásio’. E vivo em função dos sinais do meu organismo. E também da intensidad­e dos meus projetos, quando estou com muito trabalho é mais difícil ser focada”. À boleia da imprevisib­ilidade da sua profissão e da ausência de uma rotina, Júlia confessa que nem sempre consegue ser muito constante. “Tenho fases mais focadas em comer saudável e ir ao ginásio, tenho fases de maior desleixo”. Porém, há hábitos dos quais não abdica: “Bebo muita água, cortei com os refrigeran­tes e com a ‘comida de plástico’, é muito raro ir a um [restaurant­e] de fast-food. Tento comer mais alimentos biológicos, sem glúten, sem lactose”. No entanto, Júlia Palha tem no exercício físico uma das ferramenta­s fundamenta­is para o equilíbrio físico e mental. “Treino porque sei que preciso”, revela, e fá-lo duas a três vezes por semana. “Não sei o que mais gosto, mas sei, sem qualquer dúvida o que mais detesto: cardio! Ainda não descobri qual o desporto que me faça ser uma sporty girl nata. Quero algo que me dê vontade de ir treinar todos os dias, com o maior dos gozos. Tenho pensado em voltar a experiment­ar ballet”.

Ser capa da Women’s Health significa para Júlia a sua “primeira vez numa revista internacio­nal e é uma revista que me diz muito. É uma revista que faz os possíveis para ajudar as mulheres a sentirem-se bem com elas próprias. É uma enorme honra e, acima de tudo, um marco nesta etapa da minha vida em que só quero acordar e gritar todos os dias: eu gosto de mim como sou! Que eu nunca me esqueça disto e que nunca deixe os padrões guiarem-me. Que eu nunca me deixe levar pelo hipotetica­mente bonito. Que eu e todas as mulheres nunca deixemos fugir a nossa essência, pois é o que nos torna a todas diferentes e especiais”.

“Não escondo os meus sonhos: Fazer uma novela para a Globo e fazer um filme em Hollywood. Depois disso, posso morrer feliz”

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