Só mais UNS MINUTOS...
Mais do que um dos maiores prazeres da vida, dormir é um dos pilares da sobrevivência. E nós, mulheres, estamos a dever umas valentes horas à cama.
Foi há cerca de dois anos que a Universidade Loughborough, no Reino Unido, divulgou os resultados de um estudo que fez correr tinta um pouco por todo o mundo e suspirar de alívio o sexo feminino. Na investigação, os cientistas garantiram que as mulheres precisam, em média, de mais 20 minutos de sono do que os homens, não só pelas diferenças estruturais dos seus cérebros, mas também por culpa da carga hormonal, emocional e social de que são alvo. Para entender toda a complexidade do sono da mulher, a Women’s Health esteve à conversa com Helena Hachul, médica ginecologista, especialista em Medicina e Biologia do Sono e membro da Associação Brasileira do Sono. A nossa qualidade de sono já viu melhores noites.Stress, problemas financeiros, questões políticas, zangas coma cara-metade, complicações laborais… tudo contribui para tirar o sono, mas, ao que parece,éa mulher quem mais anda às avessas com a cama.“As queixas de sono são mais frequentes em mulheres do que em homens, pois têm uma rotina habitualmente diferente, apesar de todo o empenho social por igualdade”, começa por explicar Helena Hachul. Em causa, diz, está “a dupla ou até tripla jornada (trabalham, estudam e cuidam da casa)” que têm no seu dia-a-dia, condição social que, “somada às variações hormonais (do ciclo menstrual e da menopausa e problemas hormonais que podem ocorrer, como alteração de prolactina, tiroide, ovários poliquísticos, etc.), pode influenciar a qualidade de sono na mulher”.
Com esta sobrecarga, a mulher tem uma predisposição natural para a insónia e privação de sono. “Tem pouco tempo para dormir e, no tempo que tem, não consegue por estar preocupada com tudo o que tem de fazer no outro dia”, diz. Mas se o impacto da sobrecarga social tende a ser cada vez menor na qualidade do sono da mulher – e muito graças ao novo conceito de família, no qual os homens são cada vez mais participativos –, o mesmo não se pode dizer quanto às oscilações hormonais e, claro, quanto às diferenças estruturais entre o cérebro do homem e da mulher – e isto, sim, é um fator a pesar bastante na balança do sono.
As mulheres têm mais ligações entre os dois hemisférios cerebrais, algo que, por si só, explica o seu lado mais emocional e o impacto que isso tem na qualidade do sono – ou na falta dele. Os homens, por seu turno, têm um cérebro mais apto para questões motoras e espaciais, não dando grande espaço para o poder das emoções, concluiu o estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Além das ligações emocionais, o cérebro das mulheres trabalha mais do que o dos homens (desculpem lá qualquer coisinha). De acordo com a investigação da Universidade Loughborough, no Reino Unido, esta capacidade feminina deve-se à sua habilidade multitasking, que faz que o cérebro delas trabalhe mais tempo e mais intensamente durante o dia, sendo, por vezes, difícil de ‘desligar’ – nem mesmo quando já se está na cama e até mesmo quando se deita com sono. Procurar um médico é sempre a aposta mais certeira e, segundo Helena Hachul, tal deve acontecer “independentemente da idade e quando o sono não é restaurador, se tem dificuldade em iniciar ou manter o sono e isso traz repercussões no dia-a-dia”.
Quanto aos tratamentos, existem atualmente terapias fitoterápicas ou “alternativas com acupunctura, massagem, yoga, fisioterapia e meditação”, revela a médica. No que diz respeito à toma de fármacos, a especialista alerta para a importância de um aconselhamento e acompanhamento médico, visto que podem “causar tolerância e dependência”.