COMO VIVER MAIS TEMPO
A procura por uma vida mais longa tem vindo a ser objeto de interesse, especialmente por quem atinge a meia-idade. E que melhor lugar para encontrar a longevidade do que as ‘zona azuis’ onde residem as populações mais duradouras do planeta?
A resposta à questão mais pertinente, especialmente por quem atinge a meia-idade.
UUm céu alaranjado funde-se com as águas azul-turquesa da costa íngreme. A brisa carrega uma mistura de aromas amadeirados, de peónias e ciprestes. A paisagem sonora podia vir de uma aplicação de meditação, se não fosse pelo cacarejar das galinhas e o zurrar dos burros. Para Thea Pakiros, dona de um hotel e de um restaurante, estas vistas e estes sons são o pano de fundo ideal para passeios ao fim da tarde em Nas, na região costeira de Ikaria, na Grécia, a ilha que é o seu lar. O que chama a atenção neste lugar não é apenas a paisagem que faz deste um dos destinos mais instagramáveis. Ikaria está também presente no radar de vários investigadores por ser uma zona azul – um dos cinco destinos globais onde existe uma concentração desproporcional de pessoas centenárias. O que aqui se tenta descobrir é se uma vida saudável e longa pode ser simplificada numa equação de estilo de vida.
Unindo-se a Ikaria, surgem as regiões de Okinawa, no Japão, a península de Nicoya, na Costa Rica, a cidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA), e a Sardenha, em Itália. O termo ‘zona azul’ foi criado em 2004 pelo cientista Gianni Pes, aquando da sua pesquisa sobre a ilha da Sardenha, tendo o estudo sido publicado na revista científica Experimental Geontology. Depois desta descoberta, outros académicos analisaram os padrões alimentares, as dinâmicas relacionais e as convenções sociais destas populações, tentando deduzir uma fórmula para envelhecer com saúde.
“Os habitantes destes lugares não estão apenas a viver mais 12 anos”, afirma Dan Buettner, um jornalista norte-americano que tem dedicado a sua carreira ao estudo da longevidade e é autor do livro Blue Zones. “Biologicamente falando, estas pessoas são uma década mais jovens em todas as etapas do seu caminho”, diz. E isso deve-se a elevados níveis de energia e a uma vitalidade com que até os mais preocupados com o bem-estar apenas conseguem sonhar.
A PROCURA DE UMA GERAÇÃO
“Desde que existimos como seres humanos sempre quisemos viver mais”, diz Mark Jackson, diretor do Welcome Centre for Cultures and Environments of Health, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. O texto inspirador do século XIX The art of prolonging life, em que Christoph Wilhelm Hufeland descreve uma vida longa como arte medicinal. Durante o período entre guerras, a ideia de que podia ser-se saudável e feliz na velhice se se investisse na meia-idade acabou por singrar no seio da classe média – uma premissa que ganhou ainda mais peso com os avanços da medicina e da saúde públicas, quando alguns livros de autoajuda prometiam o segredo da juventude. Desde então, os avanços científicos geraram grandes progressos no entendimento da fisiologia da longevidade. Tanto os telómeros (cromossomas finais do ADN que têm sido comparados ao pavio de uma bomba – quanto mais longos forem, melhor) como o gene ApoE (um tipo de lipoproteína relacionada com o Alzheimer e doenças cardiovasculares) foram descobertos nos anos 90 do século passado, e o Y2K marcou o início do Projeto Genoma Humano. Nos anos seguintes, investigadores dedicaram-se ao estudo do genoma para encontrar variantes individuais que afetassem a longevidade, levando a manchetes sobre a descoberta do suposto gene da longevidade – mas houve precipitação. “Embora os genes afetem o tempo de vida e quão bem vivemos, apenas cerca de 15% da expectativa de vida é determinada pela genética”, diz Peter Joshi, investigador especializado em esperança de vida da Universidade de Edimburgo, na Escócia. “O estilo de vida e o meio ambiente têm um papel bem maior”.
Foram esses hábitos ambientais que atraíram a atenção de Dan, que, com Gianni, começou a identificar as regiões com maior população de centenários com o objetivo de descobrir o que o resto do mundo podia aprender com eles. Adotou o termo ‘zonas azuis’ e, nos 15 anos seguintes, desenvolveu-o, transformando-o num sinónimo de lugares com as expectativas de vida mais altas do planeta. Os estudos científicos foram revistos cuidadosamente e vários investigadores foram recrutados para estudar os comportamentos que contribuem para uma vida longa e saudável. Vamos aprofundar as aprendizagens principais.
COMA COM CONVICÇÃO
Um dos pontos-chave em comum entre os residentes das zonas azuis do Japão à Costa Rica é a tendência para uma alimentação baseada em alimentos vegetais e naturais não processados. Estima-se que entre 90% e 100% da dieta destas pessoas seja à base de plantas. “Os cinco pilares da alimentação das zonas azuis são grãos integrais, verduras, tubérculos (batatas e outros), castanhas e feijões”, explica Dan. É importante notar que os habitantes não encomendam menus inteiros pela internet numa tentativa de viver com bem-estar. Os hábitos alimentares permaneceram como os principais suportes dessas comunidades tipicamente remotas e culturalmente homogéneas durante gerações. Na península de Nicoya, que depois de acordarem cedo interrompem o jejum com tortilhas de milho caseiras