Fomos analisar a nova era das relações.
Mudam-se os tempos mudam-se… os amores? Não. O que muda é a forma como os casais combatem – ou disfarçam – a distância física. E a tecnologia tem ajudado a aligeirar a saudade, seja no âmbito familiar ou no prazer a dois.
AA forma como nos relacionamos mudou. Os Parabéns são cantados em uníssono mesmo que a família se divida por diferentes países, as reuniões de trabalho acontecem em direto na casa de cada trabalhador e as paixões mantêm-se mesmo através do ecrã. Nada disto é novidade, e a pandemia por que agora passamos veio provar que a tecnologia pode ser um grande apoio quando a distância física é uma necessidade maior.
A psicóloga Alexandra Leonardo, que integra o Serviço de Genética Médica no Hospital de Santa Maria e a equipa do Terapia a Dois - Centro de Estudo e Terapia de Casal e do Adulto assume que, como terapeuta, sentiu necessidade de pôr à prova a eficiência das tecnologias para a relação terapêutica com os seus clientes. “Fiquei positivamente surpreendida com o resultado”, admite à WH, concluindo que “as tecnologias podem efetivamente ser aliadas das relações”, desde que haja um racional esforço por parte do casal.
“Uma relação à distância tem muito mais hipóteses de ter futuro se fizer parte de um projeto de vida a dois, numa relação estabelecida e com uma boa estrutura”, começa por referir a psicóloga Susana Jones, técnica superior no Centro Hospitalar Barreiro
Montijo e colega de Alexandra Leonardo no Centro Terapia a Dois. “Se os casais fizerem por manter uma relação próxima, com ajuda das tecnologias e, quando estão juntos, vivam em família e usufruam do estar em casal, o prognóstico pode ser positivo”.
PRIMEIRO PASSO: DEFINIR O OBJETIVO DO AFASTAMENTO
Em qualquer relação, a comunicação será a base para que se evolua por um mesmo objetivo. Por isso, há que “distribuir responsabilidades familiares e logísticas do casal, mesmo que meramente simbólicas ou pontuais”, explica Susana Jones, que dá como exemplo a participação na tomada de uma decisão que diga respeito aos filhos. “A dinâmica do casal vai necessariamente mudar”, acrescenta Alexandra Leonardo. E a aposta na tecnologia é a solução mais óbvia. Quantos jantares não são acompanhados por videochamada? Uma coisa é certa: durante o confinamento, nenhuma data importante ficou por celebrar.
Voltemos a salientar: o essencial é a comunicação. “É o modo como os envolvidos conseguem conversar, negociar e encontrar as suas distâncias e proximidades. Conversar e divertir-se na exploração da distância, criando momentos de proximidade, de intimidade e de partilha emocional” refere Maria Joana Almeida, psicóloga clínica e terapeuta sexual em Lisboa.
O AMOR E O SEXO SÃO UMA DANÇA A DOIS
“A sexualidade é uma das componentes que distingue a relação de casal das outras, por isso, é natural que os casais recorram a diferentes formas de intimidade. Na nossa cultura, a grande maioria dos casais tem o acordo da monogamia, por isso, é perfeitamente expectável que recorram a estas práticas para manterem o sentimento de exclusividade que, por sua vez, confere uma sensação de maior segurança a cada um na relação”, aponta Alexandra Leonardo. E este é um esforço válido por parte de qualquer relação saudável e madura. “Manter a intimidade, a cumplicidade e, sobretudo, encontrar formas de não se deixar de se conhecer, é um desafio” salienta a psicóloga.
Quanto a regras e limitações, será cada casal a defini-las conjuntamente. “A necessidade de proximidade física pode ir evoluindo com o tempo, mas não tem de ser necessariamente assim para todos”, reconhece Maria Joana Almeida, que é também membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. O importante é que se divirtam e sintam confortáveis nesta exploração de “novas formas de aproximação”, explica Susana Jones, que deixa o alerta: “e ter o cuidado de apagar algumas fotos ou vídeos mais íntimos, para não correr riscos face às crianças ou mesmo piratas informáticos".
“Um casal criativo consegue encontrar formas de dar e receber prazer respeitando as vontades de cada um, mas é preciso saber comunicar acerca disto”, salienta a psicóloga Alexandra Leonardo. Maria Joana Almeida reforça a ideia ao referir a necessidade de respeito “pela curiosidade, o conforto e bem-estar dos envolvidos, além da essencial aceitação de que uma pessoa pode não desejar fazer determinada prática sexual.
PORQUE NÃO?
Se tais momentos forem respeitados e bem definidos, a terapeuta sexual considera que “cada casal deve sentir-se à vontade para explorar os caminhos e meios com que se derem melhor. Desde e-mails românticos, como cartas de amor, a fotografias e vídeos sexualmente explícitos. Desde que queiram experimentar e pisar o risco, qualquer coisa é válida, desde que consentida”.
Esta é a palavra-chave a não esquecer: consentimento. Qualquer tipo de pressão sobre um elemento do casal tem tendência a não correr bem. “Uma coisa é tentar que o outro adira a algo que gostaríamos de experimentar. Outra coisa é, perante o desagrado, ou não conforto do outro sobre isso se torne algo que afasta o casal porque o elemento que quer não entende ou não aceita” a opinião contrária, reconhece Susana Jones.
Tudo o que soe a ameaças, pressões, exigências ou humilhações, deve fazer soar o alarme. “O medo de perder a relação pode levar algumas pessoas a sentirem-se encurraladas e sem poder de escolha” reconhece Maria Joana Almeida, que conclui: “Nem todas as relações são saudáveis e a violência no namoro pode ter muitas formas. É preciso pedir ajuda e a opinião de pessoas que nos são próximas e nos dão uma perspetiva de fora”.
Um casal criativo consegue encontrar formas de dar e receber prazer respeitando as vontades do outro