Uma semana sem… PLASTICO
TENTEI VIVER UMA SEMANA SEM PLÁSTICO. ALERTA SPOILER: NÃO CONSEGUI. E, HONESTAMENTE, ESTOU BEM COM O MEU FALHANÇO. ESTE DESAFIO FOI UMA LIÇÃO E MOSTROU-ME QUE HÁ MUITO POR ONDE MELHORAR NESTA LUTA CONSTANTE POR UM PLANETA MELHOR, MAS, ACIMA DE TUDO, QUE O FUNDAMENTALISMO NÃO NOS LEVA A LADO ALGUM.
Considero-me uma pessoa com estilo de vida consciente e amigo do ambiente. Faço reciclagem, uso sacos reutilizáveis, compro frutas e vegetais a um produtor local, como pouca carne, uso máquina de café manual, cozo as leguminosas na panela de pressão, faço o pão em casa, uso tábuas de madeira para cortar os alimentos, não uso roupa de origem animal ou com tintas testadas em animais e os grandes eletrodomésticos cá de casa são de consumo inteligente. Talvez tenha sido por isso que achei que viver uma semana sem plástico seria simples. Mas estava enganada. Maldita ideia. E pior: quis ser fundamentalista. Entre os dias 19 e 25 de outubro não iria andar de carro, comer e usar nada que estivesse embalado ou contivesse plástico. Radicalismo máximo. Estupidez total.
O PLANEAMENTO
Apesar de ter uma decoração bastante mininalista, vivo rodeada de plástico. E só dei conta disso quando comecei a planear o desafio. Das consolas de jogos aos comandos dos televisores, do teclado do computador aos eletrodomésticos, da embalagem dos alimentos às bases de refeição em cima da mesa. Não há divisão que não tenha algo feito com este material. O que raio ando eu a comprar?, perguntei a mim mesma, incerta do que me esperava.
Para tentar ser bem-sucedida, fiz uma lista do que poderia usar e comer. De fora ficaram os tachos, frigideiras, recipientes, utensílios e eletrodomésticos com plástico. A nível de alimentos, quase tudo na despensa e congelador entrou na lista dos proibidos: massa, arroz, bebidas vegetais, manteiga de amendoim, leguminosas secas, sementes de cânhamo, bolachas, cereais, aveia, quinoa, café e alimentos congelados por doses em sacos de plástico. A esta lista juntei a manteiga, o queijo, os tremoços, alguns chás, o seitan e a mostarda. Quanto à higiene, é mais fácil enumerar o que ficou na lista dos permitidos: cotonetes de cartão e algodão, o desmaquilhante em lata e as toalhitas de limpeza em algodão que a Mariana me deu há uns meses. Uso cosméticos em boião de vidro, mas as tampas são em plástico (vai-se lá perceber porquê).
Quanto à roupa... um drama! Só há uns cinco anos é que comecei a olhar para as etiquetas. Apesar de tentar comprar roupa só de algodão, o mais certo é trazer uma mistura de algodão com poliéster, tão certo como eu arrancar as etiquetas laterais, qual Hulk a rasgar a camisola. E foi por isso que não consegui ser precisa quanto aos materiais usados na roupa que vesti. Dá-se aqui o primeiro falhanço (sim, isto também conta na luta contra o plástico).
Já com a lista dos permitidos e proibidos feita, fui às compras. Por falta de espaços com opção a granel aqui nas redondezas (o pouco que iria comprar não compensaria uma viagem de carro de 40 km ida e volta e consequente poluição, já que os espaços com melhor oferta estão em Lisboa) e já que comprar online não iria resultar (não chegaria a tempo), fui ao supermercado a que costumo ir e que tem um espaço pequeno a granel. Tinha tudo para correr bem, mas não. Não foi nada fácil fugir ao plástico! Todo o arroz e leguminosas secas estão embalados em plástico e são poucas as massas em cartão. Bolachas e manteiga sem plástico nem vê-las. Os produtos de limpeza da casa são vendidos em plástico, à exceção de algumas esponjas e esfregões. Carne e peixe, igualmente em plástico (seja numa cuvete ou num saco). Fui à secção a granel na esperança de algo livre deste
Os sacos reutilizáveis de que os supermercados dispõem para os frescos são uma aposta na luta contra o plástico.
material, e porque não passaria uma semana sem leguminosas, e vejo que os dispensadores são enchidos com pequenas embalagens de plástico (as mesmas que estão à venda para o consumidor e que eu compro para cozer em casa). Fiquei furiosa e não comprei qualquer alimento a granel.
Ainda do supermercado trouxe um champô sólido, dois sabonetes e um boião de metal da Nivea. Por faltar o desodorizante e a pasta dentífrica, dei um salto ao centro comercial que fica a dois minutos e consegui o que queria no Celeiro. Comprei também papel higiénico em embalagem em papel e, para lavar a loiça, um sabão com uma esponja feita em pasta de celulose e fibra vegetal na Zara Home. E não, não consegui nada para a limpeza da casa.
No que diz respeito ao lixo, pedi ajuda à Ana Milhazes, do Lixo Zero Portugal. Por telefone, e no meio de alertas sobre o risco do fundamentalismo que estava a levar a cabo no desafio, falou-me da compostagem. Na urgência de encontrar uma solução, recorri ao Instagram. Em poucos minutos vi a luz ao fundo do túnel: a Inês, jornalista da TSF e entusiasta da ecologia, quis ficar com as minhas ‘sobras verdes’ (cascas de ovos, frutas e vegetais que fui colocando em frascos de vidro ao longo da semana, algo que, confesso, irei continuar a fazer). Quanto ao lixo da casa de banho, mantive os sacos biodegradáveis feitos de amido de milho que já uso. O papel foi posto num saco de papel e os boiões de vidro ficaram para a coleção cá de casa. E pouco mais lixo fiz.
AS LIÇÕES
Não consegui viver sem plástico. Aqui me confesso. Sei que as dificuldades que senti foram culpa do fundamentalismo, que é ridículo... até quando queremos salvar o planeta! Toda esta semana levou-me a vários momentos de reflexão, sobretudo nas muitas tentativas de fugir ao plástico em que falhei, como aquela em que fui à mercearia com um saco de pano e a menina da caixa 'veste' um saco de plástico para pegar nas cenouras por uma questão de higiene; ou quando estava a desembalar um dos sabonetes que comprei e este vinha também embalado em plástico sem que houvesse qualquer menção a tal na embalagem de papel.
É possível viver sem plástico?, questionei várias vezes ao longo do desafio. Acho que não, mas sei que é possível reduzir ao máximo - e o desafio mostrou-me isso. Numa situação normal, o contetor do plástico aqui de casa ficaria cheio assim que chegasse do supermercado. Não ficou. Senti-me orgulhosa e com vontade de continuar - mas sei que tenho de 'estudar' mais. Não precisamos de tanto plástico na nossa vida e temos de travar o seu consumo. A nossa missão começa aqui, a consumir menos e a rejeitar o plástico que não nos é útil, que não pode ser reutilizado ou reciclado. Mas também é urgente colocar um pé no travão da produção, sobretudo quando é usado plástico virgem ou, por exemplo, quando este serve apenas para abrilhantar o cartão (dificultando o processo de reciclagem) ou simplesmente para dar continuidade à preguiça da indústria. Para quê uma palhinha de plástico por cada pacotinho de bebida quando já há alternativas em cartão? Apesar de ter falhado esta semana, sei que, a partir de agora, serei capaz de fazer compras mais inteligentes. E sei que as pessoas também o serão. Mas quero deixar claro que, nesta caminhada, cada pequeno passo conta. Cada um a seu ritmo e face às suas possibilidades pode fazer a diferença. Sem julgamentos, mas sempre juntos por um planeta melhor.