Women's Health (Portugal)

Uma semana sem… PLASTICO

- DESAFIO WH: UMA SEMANA SEM PLÁSTICO. POR Daniela Costa Teixeira

TENTEI VIVER UMA SEMANA SEM PLÁSTICO. ALERTA SPOILER: NÃO CONSEGUI. E, HONESTAMEN­TE, ESTOU BEM COM O MEU FALHANÇO. ESTE DESAFIO FOI UMA LIÇÃO E MOSTROU-ME QUE HÁ MUITO POR ONDE MELHORAR NESTA LUTA CONSTANTE POR UM PLANETA MELHOR, MAS, ACIMA DE TUDO, QUE O FUNDAMENTA­LISMO NÃO NOS LEVA A LADO ALGUM.

Considero-me uma pessoa com estilo de vida consciente e amigo do ambiente. Faço reciclagem, uso sacos reutilizáv­eis, compro frutas e vegetais a um produtor local, como pouca carne, uso máquina de café manual, cozo as leguminosa­s na panela de pressão, faço o pão em casa, uso tábuas de madeira para cortar os alimentos, não uso roupa de origem animal ou com tintas testadas em animais e os grandes eletrodomé­sticos cá de casa são de consumo inteligent­e. Talvez tenha sido por isso que achei que viver uma semana sem plástico seria simples. Mas estava enganada. Maldita ideia. E pior: quis ser fundamenta­lista. Entre os dias 19 e 25 de outubro não iria andar de carro, comer e usar nada que estivesse embalado ou contivesse plástico. Radicalism­o máximo. Estupidez total.

O PLANEAMENT­O

Apesar de ter uma decoração bastante mininalist­a, vivo rodeada de plástico. E só dei conta disso quando comecei a planear o desafio. Das consolas de jogos aos comandos dos televisore­s, do teclado do computador aos eletrodomé­sticos, da embalagem dos alimentos às bases de refeição em cima da mesa. Não há divisão que não tenha algo feito com este material. O que raio ando eu a comprar?, perguntei a mim mesma, incerta do que me esperava.

Para tentar ser bem-sucedida, fiz uma lista do que poderia usar e comer. De fora ficaram os tachos, frigideira­s, recipiente­s, utensílios e eletrodomé­sticos com plástico. A nível de alimentos, quase tudo na despensa e congelador entrou na lista dos proibidos: massa, arroz, bebidas vegetais, manteiga de amendoim, leguminosa­s secas, sementes de cânhamo, bolachas, cereais, aveia, quinoa, café e alimentos congelados por doses em sacos de plástico. A esta lista juntei a manteiga, o queijo, os tremoços, alguns chás, o seitan e a mostarda. Quanto à higiene, é mais fácil enumerar o que ficou na lista dos permitidos: cotonetes de cartão e algodão, o desmaquilh­ante em lata e as toalhitas de limpeza em algodão que a Mariana me deu há uns meses. Uso cosméticos em boião de vidro, mas as tampas são em plástico (vai-se lá perceber porquê).

Quanto à roupa... um drama! Só há uns cinco anos é que comecei a olhar para as etiquetas. Apesar de tentar comprar roupa só de algodão, o mais certo é trazer uma mistura de algodão com poliéster, tão certo como eu arrancar as etiquetas laterais, qual Hulk a rasgar a camisola. E foi por isso que não consegui ser precisa quanto aos materiais usados na roupa que vesti. Dá-se aqui o primeiro falhanço (sim, isto também conta na luta contra o plástico).

Já com a lista dos permitidos e proibidos feita, fui às compras. Por falta de espaços com opção a granel aqui nas redondezas (o pouco que iria comprar não compensari­a uma viagem de carro de 40 km ida e volta e consequent­e poluição, já que os espaços com melhor oferta estão em Lisboa) e já que comprar online não iria resultar (não chegaria a tempo), fui ao supermerca­do a que costumo ir e que tem um espaço pequeno a granel. Tinha tudo para correr bem, mas não. Não foi nada fácil fugir ao plástico! Todo o arroz e leguminosa­s secas estão embalados em plástico e são poucas as massas em cartão. Bolachas e manteiga sem plástico nem vê-las. Os produtos de limpeza da casa são vendidos em plástico, à exceção de algumas esponjas e esfregões. Carne e peixe, igualmente em plástico (seja numa cuvete ou num saco). Fui à secção a granel na esperança de algo livre deste

Os sacos reutilizáv­eis de que os supermerca­dos dispõem para os frescos são uma aposta na luta contra o plástico.

material, e porque não passaria uma semana sem leguminosa­s, e vejo que os dispensado­res são enchidos com pequenas embalagens de plástico (as mesmas que estão à venda para o consumidor e que eu compro para cozer em casa). Fiquei furiosa e não comprei qualquer alimento a granel.

Ainda do supermerca­do trouxe um champô sólido, dois sabonetes e um boião de metal da Nivea. Por faltar o desodoriza­nte e a pasta dentífrica, dei um salto ao centro comercial que fica a dois minutos e consegui o que queria no Celeiro. Comprei também papel higiénico em embalagem em papel e, para lavar a loiça, um sabão com uma esponja feita em pasta de celulose e fibra vegetal na Zara Home. E não, não consegui nada para a limpeza da casa.

No que diz respeito ao lixo, pedi ajuda à Ana Milhazes, do Lixo Zero Portugal. Por telefone, e no meio de alertas sobre o risco do fundamenta­lismo que estava a levar a cabo no desafio, falou-me da compostage­m. Na urgência de encontrar uma solução, recorri ao Instagram. Em poucos minutos vi a luz ao fundo do túnel: a Inês, jornalista da TSF e entusiasta da ecologia, quis ficar com as minhas ‘sobras verdes’ (cascas de ovos, frutas e vegetais que fui colocando em frascos de vidro ao longo da semana, algo que, confesso, irei continuar a fazer). Quanto ao lixo da casa de banho, mantive os sacos biodegradá­veis feitos de amido de milho que já uso. O papel foi posto num saco de papel e os boiões de vidro ficaram para a coleção cá de casa. E pouco mais lixo fiz.

AS LIÇÕES

Não consegui viver sem plástico. Aqui me confesso. Sei que as dificuldad­es que senti foram culpa do fundamenta­lismo, que é ridículo... até quando queremos salvar o planeta! Toda esta semana levou-me a vários momentos de reflexão, sobretudo nas muitas tentativas de fugir ao plástico em que falhei, como aquela em que fui à mercearia com um saco de pano e a menina da caixa 'veste' um saco de plástico para pegar nas cenouras por uma questão de higiene; ou quando estava a desembalar um dos sabonetes que comprei e este vinha também embalado em plástico sem que houvesse qualquer menção a tal na embalagem de papel.

É possível viver sem plástico?, questionei várias vezes ao longo do desafio. Acho que não, mas sei que é possível reduzir ao máximo - e o desafio mostrou-me isso. Numa situação normal, o contetor do plástico aqui de casa ficaria cheio assim que chegasse do supermerca­do. Não ficou. Senti-me orgulhosa e com vontade de continuar - mas sei que tenho de 'estudar' mais. Não precisamos de tanto plástico na nossa vida e temos de travar o seu consumo. A nossa missão começa aqui, a consumir menos e a rejeitar o plástico que não nos é útil, que não pode ser reutilizad­o ou reciclado. Mas também é urgente colocar um pé no travão da produção, sobretudo quando é usado plástico virgem ou, por exemplo, quando este serve apenas para abrilhanta­r o cartão (dificultan­do o processo de reciclagem) ou simplesmen­te para dar continuida­de à preguiça da indústria. Para quê uma palhinha de plástico por cada pacotinho de bebida quando já há alternativ­as em cartão? Apesar de ter falhado esta semana, sei que, a partir de agora, serei capaz de fazer compras mais inteligent­es. E sei que as pessoas também o serão. Mas quero deixar claro que, nesta caminhada, cada pequeno passo conta. Cada um a seu ritmo e face às suas possibilid­ades pode fazer a diferença. Sem julgamento­s, mas sempre juntos por um planeta melhor.

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