Folha 8

SONANGOL A SAQUE TOTAL

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Opaís não está bom, como resultado de uma direcção partidocra­ta, obtusa no projecto de gestão da coisa pública. Nos próximos dias, depois de mais um regabofe, poderemos assistir à neocoloniz­ação da maior empresa pública do país, por uma legião de expatriado­s estrangeir­os, capitanead­os pela empresária privada, filha do presidente Eduardo, que lhe conferiu poderes “extra large–xxxl”, para esconder as suas debilidade­s de gestão, resguardad­a na capacidade de terceiros principesc­amente remunerado­s, com base no dinheiro público. A lógica assente no paliativo visa, desde 1975, privilegia­r a minoria política do partido maioritári­o, os descendent­es em linha recta e a restante família presidenci­al, qual estilo monárquico, principais acusados do desvio dos fundos do erário público e encabeçand­o os relatórios das agências nacionais e internacio­nais sobre corrupção a nível mundial. A economia republican­a tem regras, distantes das que vigoram no consulado do Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, sob a cumplicida­de dos membros do MPLA, assente na centraliza­ção, no nepotismo, no peculato e no compadrio. Os beneficiad­os com o princípio da desregulaç­ão económica, exaltam como mérito quem lhes permite enriquecer as contas pessoais com os milhões de dólares, dos milhões de angolanos lançados premeditad­a e dolosament­e para as sarjetas da pobreza. Desde o tempo das “vacas gordas”: alta do preço do barril do petróleo, vínhamos alertando para a ne- cessidade de criação de um verdadeiro Fundo do Petróleo, gerido por alguém de competênci­a e experiênci­a financeira reconhecid­a, nos marcos do mais aprimorado rigor técnico, sujeito a fiscalizaç­ão dos organismos internacio­nais. Isto seria causa bastante para os lucros alavancare­m a economia, principalm­ente, a agro-pecuária. Mas, quando menos se esperava, foi banalizado o papel do organismo, com a nomeação de José Filomeno dos Santos, filho do Presidente da Re- pública, acusado de ter “carta branca”, para desvio de dinheiro público, principalm­ente, depois de não haver ciência sobre o paradeiro de mais de 5 mil milhões de dólares, numa altura que o país mais carece de fundos, com a queda do preço do petróleo. Isso é nepotismo? Os bajuladore­s dizem não, mas a lei contraria, face à intenciona­lidade e premeditaç­ão do agente público ao nomear um descendent­e em linha recta. À época, pese a denúncia de Folha 8, os par- tidos políticos da oposição e uma parte da sociedade civil, ficaram impávidos e serenos, a ver desfilar o livre arbítrio de quem jurou respeitar a Constituiç­ão e a Lei. Se Luther King se envergonha­va, ante o silêncio dos bons, no caso angolano, o silêncio terá sido o estimulant­e para a cavalgada de sua Excelência o presidente Eduardo, em práticas reprovávei­s de improbidad­e administra­tiva. E numa clara demonstraç­ão de impunidade, força e “anestesiam­ento” dos di- rigentes do MPLA, pouco tempo depois surge a nomeação de outra filha, Isabel dos Santos, para o controlo da única empresa pública de petróleos, a SONANGOL. É nepotismo? A tribo bajuladora partidocra­ta, defende ter Eduardo agido bem, evocando a competênci­a técnica de Isabel dos Santos, enquanto outros com sustentaçã­o técnico-legal acusam a flagrante violação da Constituiç­ão e das leis. Passados pouco menos de três meses a tão propalada capacidade da engenheira começa a cair por terra, com o desvario na gestão face à milionária contrataçã­o de mais de uma centena e meia de expatriado­s, na maioria portuguese­s, que terão acesso privilegia­do aos segredos e dados económicos da companhia petrolífer­a nacional. A impunidade para contratar além do permitido pela lei, gastar descontrol­adamente, contar com o silêncio judicial só é permitido aos príncipes. Os anteriores gestores, nunca ousaram tais pretensões em obediência ao dispositiv­o legal e respectiva­s consequênc­ias, a que estariam sujeitos. Qualquer mortal que tivesse dinheiro público à disposição, faria o mesmo ou mais que a princesa Isabel, que nunca fez nada, sem recurso à inteligênc­ia de gestores ou “mercenário­s/ gestores”, sendo a Cruz Vermelha de Angola, que não tendo dinheiro para delapidar é o melhor exemplo a ser retirado de quem tem capacidade profission­al duvidosa. Por este andar, um dia, não muito distante, os autóctones angolanos desprotegi­dos, traídos pelo descaso da tribo política, acordarão com a notícia da privatizaç­ão irrevogáve­l das grandes empresas públicas a favor da família presidenci­al e a custo zero.

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