PRIMEIRO PROBLEMA: FALTA DE TRANSPARÊNCIA
Na contratação dos 120 portugueses não existe qualquer indício de que tenham sido seleccionados os melhores. Desconhece-se que tenha sido lançado um concurso público internacional para recrutamento de técnicos estrangeiros para a Sonangol. Se isto tivesse acontecido, certamente a nacionalidade dos recrutados seria mais variada. O processo demonstra que Isabel e os seus gestores e assessores portugueses provavelmente enveredaram pela prática do compadrio ou da arbitrariedade no recrutamento desta força de trabalho. Importa esclarecer que não se trata de levantar a questão da contratação de estrangeiros para cargos na Sonangol. Não deixa de ser chocante, no entanto, que após 40 anos de independência e de governo do MPLA, e 37 anos de José Eduardo dos Santos no poder, o sistema educacional angolano seja exposto como incapaz de produzir quadros angolanos que mereçam ser recrutados para colaborarem na reestruturação da Sonangol. Mais chocante ainda é o facto de a Sonangol gastar, há décadas, dezenas de milhões de dólares anuais na formação de quadros no exterior do país. Maka Angola conhece o caso de 50 funcionários que, depois de formados no Ocidente, passaram três anos a receber salários sem colocação, tendo alguns requerido licença sem vencimento ou desvinculação para outros sectores da função pública ou do sector privado. As culpas agora podem ser todas jogadas para a casaca de Manuel Vicente, que também adorava a consultoria externa em detrimento da boa gestão dos quadros nacionais. Tudo para que os angolanos inteligentes, sérios e patriotas não se opusessem ao saque em curso. É preciso lembrar que, até 2012, quando foi pontapeado para cima como vice-presidente, Manuel Vicente era con- siderado por destacados analistas angolanos e portugueses como um dos melhores gestores africanos, para além de outras laudas inebriantes. Atente-se a um pormenor: grande parte do batalhão actual de consultores de Isabel dos Santos, os tais reestruturadores, são jovens portugueses estagiários que diariamente surpreendem os técnicos da Sonangol com a sua gritante inexperiência. Vieram para Angola aprender, e estão a fazê-lo de forma histórica, exercendo o controlo sobre a nossa maior fonte de riqueza. Alguns estagiários, de forma ingénua, não se coíbem de distribuir os seus cartões-de-visita, em que honestamente se apresentam como estagiários. As medidas iniciais de Isabel dos Santos na Sonangol comprovam a renovação da mentalidade de confiança absoluta na consultoria externa (mesmo que seja maioritariamente de estagiários). Essa mentalidade continua a desprezar a necessidade de políticas de gestão sérias, transparentes e lícitas, que permitam o recrutamento, a elevação do profissionalismo e ascensão dos melhores quadros angolanos, assim como o mais eficaz aproveitamento de estrangeiros de reconhecida competência e capacidade técnica
para o bem da nação angolana. Outrossim, é pública a informação de falência técnica da Sonangol, admitida pelo próprio presidente José Eduardo dos Santos, quando recentemente afirmou que a empresa, desde Janeiro, já nem sequer entrega receitas para o OGE. Assim sendo, estamos perante o caso de uma empresa falida que começa o seu processo de reestruturação com uma contratação que consumirá milhões de dólares por ano, sem antes ter procedido a despedimentos. Tendo em conta que se trata da empresa pública que gere a maior fonte de rendimentos que deveria ser do povo angolano, a nova administração bem poderia antes disso apresentar publicamente um plano de recuperação financeira e de gestão. Tendo em conta os factos apresentados, a verdade, porém, é outra: as medidas tomadas e o comportamento da equipa de Isabel dos Santos revelam que não há nem haverá transparência, boa gestão e eficiência na Sonangol. Mudam-se apenas os ladrões.