Folha 8

SEGUNDO PROBLEMA: A RENDIÇÃO FORMAL DA SOBERANIA NACIONAL

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A Sonangol está a celebrar este ano 40 anos de existência. Angola conquistou a independên­cia de Portugal há 40 anos, e agora Isabel dos Santos entrega a Sonangol nas mãos dos portuguese­s, sem explicar com que argumentos favoráveis. Porquê? Depois de praticamen­te estar a perder as suas batalhas de afirmação empresaria­l como a todo-poderosa D. Isabel de Portugal, país onde investiu centenas de milhões de dólares saqueados a Angola, a filha do presidente rende-se, entregando a Sonangol. Contrariam­ente ao recital de baboseiras liderado pelo sociólogo João Paulo Ganga, que defendeu a nomeação de Isabel dos Santos como um acto de defesa da soberania nacional contra Portugal, a realidade demonstra justamente o contrário. João Paulo Ganga e outros defensores dessa teoria deixaram implícito que, hoje, a soberania nacional se resume apenas à defesa dos interesses da família presidenci­al, mesmo que isso represente, dada a ignorância dos angolanos, a entrega da Sonangol aos seus parceiros portuguese­s. A Sonangol é praticamen­te a alavanca da soberania nacional, por representa­r mais de 90 por cento das receitas em divisa para o país, com as exportaçõe­s de petróleo. A Sonangol é o ceptro do poder presidenci­al, é a economia nacional. Foi o que projectou a diplomacia angolana, por meio dos petro-dólares. Muitas das reuniões da administra­ção da Sonangol têm sido lideradas por um estranho à empresa do Estado. Trata-se do português Mário Filipe Moreira Leite da Silva, de 43 anos. É o gestor dos negócios privados e da fortuna de Isabel dos Santos. Numa reunião recente, Isabel dos Santos chegou com duas horas de atraso e, apesar da sua presença, o seu gestor particular continuou a dirigir a reunião e a despachar ordens. E há quem ainda diga que Isabel é administra­dora não-executiva. Se não é, então Mário Leite da Silva desempenha o papel de administra­dor executivo sem mandato. Esta promiscuid­ade entre a gestão dos negócios privados de Isabel dos Santos e os negócios do Estado, ou seja, do povo angolano, é também um acto de tortura psicológic­a contra todos os cidadãos que condenaram a nomeação ilícita da filha do presidente para o cargo de presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol. Já nem sequer se pode falar em conflito de interesses, em nepotismo. O presidente abusa e ninguém faz nada. A filha abusa e ninguém faz nada. Até ver. Só falta José Eduardo dos Santos entregar a reestrutur­ação das Forças Armadas Angolanas à China, com o seu filho José Paulino do Santos “Coreon Dú” como chefe do Estado-Maior. A reestrutur­ação da Polícia Nacional ficaria ao bom cuidado da República Democrátic­a do Congo, nomeando-se, para o efeito, o seu genro Sindika Dokolo, como comandante da Polícia. Alguém duvida?

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