Folha 8

A BALADA DA MULHER ANGOLANA DESGRAÇADA

- POR GIL GONÇALVES

A Dite ficou sem casa, sem nada Escapou de ser enforcada Coitada A Dite está desolada

Como o seu futuro será Ninguém saberá Nos caminhos incertos andará Mas sempre sonhará

Este mundo é uma perdição Oh, não chores mais, não Muitos mais males te acontecerã­o Não, não chores mais não

Que fazer sem dinheiro Até acabar num pardieiro Corruptos sempre no lugar cimeiro A Igreja e o seu deus sempre primeiro

Já fiz quilapis, sem dinheiro Agora é que vai ser porreiro Nunca nenhum plano se executou Nunca nenhuma lei funcionou

Vale mais tarde do que nunca Mas acordar tarde tudo se trunca Quando a corrupta Igreja acabar Então sim haverá lugar para amar

Quem tem, tem Quem não tem come dendém Onde há desdém Não se vive bem

Uma desgraça nunca vem só A pobreza mete dó A miséria está comovente E a fome muito insolente

Quando se perde a esperança Deixa-se de acreditar em nada Resta da família a lembrança Antes da derrocada

A intolerânc­ia está muito presente Quem comanda está ausente Não quer saber da gente Nada sente

Neste profundo sofrimento Perde-se o alento Na tristeza do olhar desatento À espera de algum alimento

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