Folha 8

SÓ MESMO A… TIRO

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Recordam-se que, entre outros, a rapper norte-americana Nicki Minaj não ligou aos apelos e veio actuar em Angola, o país onde uma em cada seis crianças morre antes de completar cinco anos? Recordam-se que a anfitriã, a princesa herdeira Isabel dos Santos, compensou-a com o módico cachet de cerca de 2 milhões de dólares? Os pais destas crianças que, ao contrário do que pensa o paizinho da princesa herdeira Isabel, são angolanas, ficaram felizes porque – segundo o regime – a presença de Nicki Minaj ajudou a alimentar muita gente. E é verdade. O clã presidenci­al alimenta-se muito bem. Thor Halvorssen, presidente da Human Rights Foundation, bem disse que a corrupção e nepotismo do regime angolano são uma realidade há 40 anos. Mas não adianta. As crianças morrem à fome? Morrem. Mas o que é que isso interessa? Se os governos europeus e norte-americano idolatram José Eduardo dos Santos, consideran­do-o um ditador… bom, porque carga de chuva Nicki Minaj não poderia ir sacar uma massas, indiferent­e ao sofrimento dos angolanos? A história nem sequer é nova. Há três anos já a Human Rights Foundation (HRF), organizaçã­o de defesa dos direitos humanos sediada em Nova Iorque, acusava a cantora norte-americana Mariah Carey de ter aceitado um cachet de um milhão de dólares para dar um concerto para a “cleptocrac­ia de pai e filha” no poder em Angola. Na altura, a HRF argumentou que, ao actuar num espectácul­o de beneficênc­ia para a Cruz Vermelha de Angola, a cantora estava a aceitar “dinheiro da ditadura”. Thor Halvorssen, presidente da Human Rights Foundation, também divulgou na altura um comunicado no qual descreveu a actuação de Mariah Carey em Angola como “o triste espectácul­o de uma artista internacio­nal contratada por um implacável estado policial para entreter e branquear uma cleptocrac­ia de pai e filha que acumulou biliões em rendimento­s ilícitos”. Recorde-se que, em 2011, Mariah Carey confessou publicamen­te o seu embaraço por ter cantado, em 2008, para o ditador líbio Muammar Khadafi e respectiva família. “Fui ingénua e não sabia por quem estava a ser contratada” afirmou então a artista, acrescenta­ndo que “a lição” a tirar do episódio é a de que os artistas “têm de ser mais consciente­s e responsáve­is”. Nick Minaj fez-se fotografar embrulhada numa bandeira angolana (“Angola, amo-te”, escreveu), ou ao lado de uma Isabel dos Santos em pose informal. “Nada de especial… Ela é apenas a oitava mulher mais rica do mundo”, escreveu a cantora.

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