O SILÊNCIO TAMBÉM FALA
Aadopção do silêncio pelo Presidente da República José Eduardo dos Santos, como forma de encarar os problemas que sobre ele recai a responsabilidade directa, tem sido muito contestada por várias individualidades ligadas a diversos sectores da sociedade. E têm razão! Vamos apenas nos centrar em José Eduardo dos Santos no plano militar, enquanto Comandante-em-chefe das Forças Armadas Angolanas, para rever algumas acções criminosas em que o presidente optou pelo consentimento silencioso. Quando Hilbert Ganga foi morto por Desidério Patrício, soldado da Unidade de Guarda Presidencial (UGP), isto no dia 13 de Novembro de 2013, José Eduardo, o chefe do soldado, nada falou e nem sequer uma nota de condolência a sua Casa Militar ou Civil endereçou à família enlutada, provavelmente por não ter sido um militante do seu partido. Para o presidente, talvez Hilbert fosse um terrorista a soldo, pago com os milhões desviados da saúde ou com o excedente do petróleo dos últimos 14 anos. E a “missão subversiva” de Ganga consistia apenas em afixar panfletos exigindo justiça e paz no país, tão nobre missão que recebeu como recompensa uma bala do guarda do presidente. Mas se ouvia tão alto o silêncio ensurdecedor do senhor que até muitos per- guntavam se o presidente acha que o angolano é um povo surdo, para além de os jovens serem frustrados, como acredita e declarou recentemente. O silêncio estrondoso era tanto que até o assassino foi declarado inocente pelo tribunal militar, e, como sabemos, o Sr. permaneceu calado. Concordância não é só se expressar afirmativamente, e os juízes tinham de absorver mesmo o indiciado por ouvir o silêncio. Igualmente mortos por forças leais ao Sr. Presidente foram os cidadãos Alves Kamulingue e Isaias Cas- sule. Os assassinatos se registaram em 2012. Agentes do Serviços Secretos e da Polícia Nacional executaram os dois jovens. Grosso modo, nada se ouviu do senhor. As famílias destes hoje sofrem com as dificuldades da vida pois os assassinados eram quem sustentavam os respectivos lares. Mas o senhor presidente não se interessa com a coesão familiar, harmonia no lar, educação à criança e muito mais. Se se importasse, certamente se pronunciaria, tal como fazem os verdadeiros chefes de Estado. Em 2003, depois de espan- cado, Cherokee, alcunha de Arsênio Sebastião, na altura com 26 anos, foi afogado por agentes da UGP por negar-se a parar de cantar uma música crítica ao regime. Como vemos, também aqui Eduardo dos Santos não se pronunciou. Rufino! 14 anos. Porcamente assassinado. Uma bala na cabeça. Militares mais uma vez. Alguns políticos porcos vieram dizer publicamente que foi um acidente, outros que o menino estava armado. Tudo isto apenas é reflexo da política porca levada a cabo por um regime de porcos que só tem feito porquices. O chefe do curral sempre em silêncio. O seu silêncio tumular e conivente. Porém, perdeu tempo para se pronunciar sobre o caso 15+Duas, do qual sou integrante, isto no dia 2 de Julho do ano passado. Inclusive nos comparou com os assassinados no 27 de Maio de 1977. Martin Luther King dizia que o que preocupa não é o grito dos maus mas o silêncio dos bons. Uma reflexão se impõe aqui: quem se cala é bom? O silêncio de José Eduardo dos Santos responde esta pergunta.