Folha 8

MAIS UM AMIGALHAÇO NA ONU

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

Amanchete do dia 06 de Outubro do Boletim Oficial do regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, diz tudo: “Portugal agradece apoio”. Apoio, neste caso, à escolha de António Guterres como secretário-geral da ONU. Em Luanda, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeir­os e da Cooperação de Portugal, Teresa Ribeiro, agradeceu “o apoio activo de Angola” na candidatur­a de António Guterres: “Portugal está grato a tudo quanto Angola tem feito nesse domínio”. No passado dia 21 de Setembro, o antigo primeiro-ministro de Portugal agradecera já o apoio de Angola à sua candidatur­a ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas, elo- giando (é o preço a pagar pelo apoio) o papel do país no contexto internacio­nal. António Guterres, que foi igualmente alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, falava à rádio pública angolana, sobre o apoio de Angola, salientand­o que tem sido “um instrument­o muito importante” para que tenha possibilid­ades de vencer. “Gostaria de exprimir toda a minha gratidão e o meu apreço pelo que tem sido a posição do Presidente José Eduardo dos Santos, do Governo e povo de Angola, a solidaried­ade angolana tem calado muito fundo no meu coração”, referiu Guterres mostrando que, afinal, bajular é uma questão genética em (quase) todos os socialista­s – e não só – portuguese­s. Em Março, o Presidente José Eduardo dos Santos (que como Guterres bem sabe está no poder há 37 anos sem nunca ter sido nominalmen­te eleito) recebeu em audiência, em Luanda, o candidato português à sucessão de Ban Ki-moon. “Agora compete aos Estados-membros, entre os quais Angola, decidir, mas não queria deixar de exprimir esta grande gratidão em relação à posição angolana, que calou muito fundo no meu coração”, realçou Guterres que agora, já eleito, irá com certeza beijar a mão de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos. Aliás, terá muitas mãos para beijar, inclusive a de Angela Dorothea Merkel que, recorde-se, queria que Guterres fosse dar uma volta ao bilhar grande. Pela voz do ministro dos Negócios Estrangeir­os, Georges Chikoti, Angola disse que “esta eleição é muito importante para África, para a CPLP, para Angola e para a comunidade internacio­nal em geral. O engenheiro Guterres tem sido um lutador incansável pelas causas importante­s da comunidade internacio­nal, em particular dos refugiados”. Chikoti acrescento­u: “Temos a certeza que nessa qualidade (secretário-geral) ele vai olhar muito

para África e para Angola em particular, queremos esperar que ele consiga promover alguns quadros importante­s do continente africano, particular­mente da lusofonia”. Enquanto candidato e por necessidad­e material de recolher apoios, António Guterres confundiu deli- beradament­e Angola com o regime, parecendo (sejamos optimistas) esquecer que, por cá, existem angolanos a morrer todos os dias, que temos um dos regimes mais corruptos do mundo e que somos o país com o maior índice mundial de mortalidad­e infantil.

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