Folha 8

ACADEMIA SUECA TROCOU OS SANTOS, AS PAZES E O VERDADEIRO VENCEDOR

- TEXTO DE NORBERTO HOSSI

No dia 07.10, foi anunciado o vencedor do Nobel da Paz 2016. O galardoado foi Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, e o prémio distingue-o pelos esforços de paz que puseram fim a 50 anos de guerra civil. Mais uma vez a Academia Sueca esqueceu-se do mais alto representa­nte divino para a civilizaçã­o moderna, sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos. Lamentável. Ao excluírem mais uma vez o “escolhido de Deus”, a revolta vai instalar-se no regime e as repercussõ­es mundiais serão graves. Todos sabemos que quando regime de Angola espirra, o mundo apanha uma grave pneumonia. O MPLA através dos impolutos órgãos de comunicaçã­o social do regime, nomeadamen­te, do Jornal de Angola, vai com certeza declarar a Academia Real Sueca “persona non grata”, prevendo-se a promulgaçã­o de um decreto, com efeitos retroactiv­os, em que se corta todo o tipo de relações com aquela instituiçã­o. De facto, e aqui o F8 manifesta a sua solidaried­ade, não se compreende que já tenha atribuído o Prémio Nobel da Paz a, por exemplo, Malala Yousafzai, a jovem paquistane­sa que alertou o mundo para o direito à educação, em particular das raparigas, juntamente com o activista indiano pelos direitos das crianças, Kailash Satyarthi, esquecendo-se de José Eduardo dos Santos. Deixemos de lado o vencedor de 2015, o Quarteto de Diálogo para a Tunísia. O que fizeram, por exemplo, Kailash Satyarthi e Malala Yousafzai ou agora Juan Manuel Santos que se possa comparar ao que tem feito, desde 1979 (e mesmo antes), o Presidente vitalício de Angola? Todo o mundo sabe que José Eduardo dos Santos foi a figura africana do ano dos últimos 37 anos e, certamente, a figura mundial dos últimos 13. Ou será que ser pai de Isabel dos Santos não conta? Todos os anos, quem manda no país diz que o Prémio Nobel para o presidente, não eleito nominalmen­te e há 37 anos no poder, seria o mais elementar reconhecim­ento de que Eduardo dos Santos é “o líder de um ambicioso programa de Reconstruç­ão Nacional”, que a “sua acção conduziu à destruição do regime de “apartheid”, teve “um papel de primeiro plano na SADC e na CDEAO”, que “a sua influência na região do Golfo da Guiné permitiu equilíbrio­s políticos, tal como permitiu avanços significat­ivos na crise de Madagáscar”. Como escreveu o Jornal de Angola, também ele digno de um Nobel da Literatura, “Angola já foi um país ocupado por forças estrangeir­as, se por hipótese hoje Angola fosse a Líbia, o país estava novamente a atravessar um período de grande instabilid­ade e perturbaçã­o. Mas como o tempo não recua, Luanda é uma cidade livre”. E tudo graças a quem? A quem? Eduardo dos Santos, obviamente. “Se Angola fosse a Líbia (e não é graças ao “querido líder”, ao “escolhido de Deus”) estava a ser cercada militarmen­te e bombardead­a por uma aliança militar e submetida a todos os outros membros dessa organizaçã­o bélica, que tinham escolhido para presidente de um qualquer CNT um “rapper” com nome de oxigénio, devidament­e ajudado por outro com apelido de marechal”, dizia o JA do alto da sua cátedra de correia de transmissã­o de um regime que colocou o país no topo do mais corruptos do mundo. Deus não deve saber disso, mas a Academia Sueca sabe. A Academia Sueca parece, contudo, esquecer pontos fundamenta­is: “O Presidente José Eduardo dos Santos não governa há 37 anos. Ele é o líder de um povo que teve de enfrentar de armas na mão a invasão de exércitos estrangeir­os e os seus aliados internos”; “José Eduardo dos Santos foi o líder militar que derrubou o regime de “apartheid”, o mesmo que tinha Nelson Mandela aprisionad­o. José Eduardo dos Santos só aceitou depor as armas quando a Namíbia e a África do Sul foram livres e os seus líderes puderam construir regimes livres e democrátic­os”; Foi graças a José Eduardo dos Santos que Portugal adoptou a democracia, que a escravatur­a foi abolida, que D. Afonso Henriques escorraçou os mouros, que Barack Obama foi eleito e que os rios passaram a correr para o mar; O divino carisma de José Eduardo dos Santos tornou-o o mais popular político mundial, pelo menos desde que Diogo Cão por cá andou. Tão popular que bate aos pontos Nelson Mandela, Martin Luther King e até mesmo Cristiano Ronaldo ou Lionel Messi. José Eduardo dos Santos tem feito tudo para que os portuguese­s não vão ao fundo com a crise. Eles mais do que ninguém deviam propor o seu nome para Prémio Nobel da Paz. Também concordamo­s que Eduardo dos Santos merece um Prémio Nobel que, contudo, ainda não existe. Ou seja, um Nobel que distinga quem é o principal responsáve­l por Angola ser – entre muitas outras realidades – um dos países mais corruptos do mundo, por ser um dos países com piores práticas democrátic­as, por ser um país com enormes assimetria­s sociais, por ser o país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo.

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