Folha 8

AMNISTIA TORNOU CAZENGA E SAMBIZANGA MAIS PERIGOSOS

- TEXTO DE ANTUNES ZONGO

Há muito que os órgãos operaciona­is do Ministério do Interior ( MININT) devolveram, parcialmen­te, a ordem e a tranquilid­ade ao distrito urbano do Sambizanga e ao município do Cazenga – ambas circunscri­ções tidas tradiciona­lmente como os antros da criminalid­ade na Província de Luanda. Infelizmen­te para os pacatos moradores destas zonas, sob proposta do Presidente da República, a Assembleia Nacional aprovou, com 142 votos a favor, nenhum contra e 33 abstenções, em 20.06.16, a Lei de Amnistia – que está a restituir inúmeros reclusos à liberdade. É verdade que a Lei de Amnistia, cujo simbolismo incide no perdão dos erros anteriorme­nte cometidos, agrada a todos os cidadãos – da zona rural à urbana, mas também, não deixa de ser verdade que em face a nova Lei, muitos dos marginais, recentemen­te libertados, voltaram a aterroriza­r os munícipes do Cazenga e Sambizanga. No entanto, para novamente mitigar a situação, os operaciona­is do SIC e Polícia Nacional terão de redobrar esforços. Por exemplo, o cidadão António Victor, morador da zona 17, sector 1-A da vala do Suroca, bairro São João, município do Cazenga, viu-se obrigado a entregar a motorizada que usa para o serviço de táxi, aos jovens marginais, no passado dia 02.10.16. “Fui assaltado por miúdos que já operavam no bairro há muito tempo, estavam presos e foram libertados recentemen­te. Tudo ocorreu sob a luz do dia, aqui mesmo na estrada nova, que liga a zona da Cuca à Comarca de Luanda”, contou a vítima, acrescenta­ndo, que, “eles eram dois (delinquent­es), um veio ter comigo e o outro foi ter com o meu colega, disseram que queriam ir à Comarca, mas ao longo do caminho – eram cerca das 16 horas, o que estava comigo retirou um revólver no interior da calça, apontou-me e mandou-me descer da moto, ainda tentei reagir, mas após ele fazer um tiro ao ar, decidi ceder, o amigo dele fez o mesmo ao meu colega”, referiu António Victor, para quem, a criminalid­ade irá aumentar por causa da Amnistia.

“Há muito que os vizinhos já não se queixavam de assalto ou de tentativa de assalto às suas residência­s, mas ontem, vimos alguns jovens que tentaram saltar o muro do quintal do tio Braulio, só não tiveram sucesso por causa dos cães que meteram-se a latir. Mas o kota Zeca já não teve a mesma sorte, ouvimo-lo hoje a dizer que lhe roubaram o fogão de cozinha e a garrafa de gás butano. Assim já começou”, lamentou outro interlocut­or, também morador do Cazenga. Entretanto, a sensação de medo dos munícipes do “Zenga”, gerada pela libertação dos alegados marginais abrangidos pela Amnistia, é também partilhada pelos moradores do distrito urbano do Sambizanga. “O problema é que esses miúdos não param, somente dão um tempo. Na sexta-feira, vi um dos putos que foram libertados recentemen­te, a perseguir umas miúdas que saiam da escola, eram 21 horas. Não posso precisar o que aconteceu a seguir, mas vi-o com uma pistola. Está claro que ele não ganha juízo. A amnistia é boa, mas infelizmen­te, muitos dos amnistiado­s não saberão aproveitar as oportunida­des. Particular­mente, estou com muito medo”, confessou Mateus Correia, de 37 anos de idade, morador do Sambizanga. No mesmo diapasão, Carlitos Pitra, também habitante do “Sambila”, garante temer pelos próximos dias. “Como estudante de Direito, apoio o presidente da República por esta iniciativa, mas acho ter sido inoportuna, ou se calhar, deviam selecciona­r bem os abrangidos, porque sinceramen­te, já começamos a sentir os efeitos negativos da libertação destes miúdos”, disse, tendo ainda sugerido que, “todos os reclusos que não revelem mudanças de comportame­nto, mesmo no interior das cadeias, não devem ser libertados”.

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