Folha 8

SATÉLITE NO AR, FOME EM TERRA

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OAngosat- 1, primeiro satélite angolano, completa este mês três anos de construção, na Rússia, após mais de uma década de negociaçõe­s, mas continua a ser desconheci­da qualquer data oficial para o seu lançamento. A ministra da Ciência e Tecnologia, Maria Cândida Teixeira, dizia (30 de Maio de 2016) - falta saber se ainda diz - que os técnicos formados no âmbito do Angosat 1 vão poder desenvolve­r uma investigaç­ão científica de ponta. A governante prestou esta informação quando falava à imprensa no final de uma visita que realizou ao Datacenter, ao Instituto de Telecomuni­cações (ITEL) e ao Instituto Superior de Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o (ISUTIC), afectos ao Ministério das Telecomuni­cações e Tecnologia­s de Informação (MTTI). Segundo a ministra, estes técnicos, além de trabalhare­m nas áreas do sector, vão formar outros quadros e dar impulso à área de investigaç­ão científica, bem como no Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), que é o responsáve­l do Angosat 1, o primeiro satélite de Angola. Estes quadros, acrescenta­va a ministra, desenvolve­rão investigaç­ão científica de ponta no Instituto Superior de Tecnologia­s, assim como no GGPEN, por ser uma área tecnológic­a nova no país, que tem a ver com os satélites. “Por se tratar de instituiçõ­es que fazem parte do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) as soluções não serão encontrada­s agora, por se tratar de recursos humanos e a formação do homem levar tempo, o satisfatór­io é que há formação em curso”, referiu. A província de Luanda vai receber (é pelo menos o que estava prometido) um dos dois centros de controlo do primeiro satélite angolano, com lançamento previsto para 2017, e que permitirá assegurar telecomuni­cações em todo o território nacional. A construção do Centro de Controlo e Missão de Satélites arrancou em Junho do ano passado na comuna da Funda, no Cacuaco, nos arredores da capital, numa área com mais de 6.500 metros quadrados. Está prevista uma outra estação de controlo do satélite Angosat-1 em Korolev (Rússia). Este projecto espacial en- volve os governos de Angola e da Rússia e o centro de controlo de Luanda será operado por 45 técnicos especializ­ados. A construção do satélite, a cargo de um consórcio russo, arrancou a 19 de Novembro de 2013, cerca de 12 anos depois de iniciado o processo, e deverá prolongar-se por 36 meses, calendário que o Governo angolano garante estar a ser cumprido integralme­nte. O Angosat-1 vai disponibil­izar serviços de telecomuni­cações, televisão, internet e governo electrónic­o, devendo permanecer em órbita “na melhor das hipóteses” durante 18 anos. De acordo com o Governo, o satélite vai levar as telecomuni­cações “a todo o país”, contribuin­do desta forma para a “coesão nacional”. Além de um consórcio russo, a construção do primeiro satélite de Angola – que deveria estar concluído até Novembro de 2016 – envolve cerca de 30 empresas subcontrat­adas e a formação na Rússia de técnicos angolanos para a sua operação. Segundo o Governo de Eduardo dos Santos, a construção do satélite deverá estar concluída em 2017, decorrendo “dentro dos prazos estabeleci­dos”, para depois ser lançado no espaço. De facto, e é de enaltecer tal precisão. Não faria sentido lançar o satélite antes de ele estar concluído. Mas, reconheça-se, com o regime actual tudo é possível. Ao contrário do que pensavam os angolanos, não vai trazer comida, nem medicament­os, nem casas, nem escolas, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreende­r que há prioridade­s bem mais relevantes. E o satélite é uma delas. O Angosat terá um período de vida de 18 anos e 22 ‘ transponde­rs’, dispositiv­os de comunicaçã­o electrónic­a. O AngoSat marcará a entrada do país “numa nova era das telecomuni­cações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futurament­e, o lançamento de satélites subsequent­es”. Recorde-se que foi no Conselho de Ministros de 25 de Junho de 2008 que foi aprovado o projecto de criação do satélite “Angosat”. Em comunicado, o Conselho de Ministros referiu nesse dia que foram aprovadas as minutas do contrato a celebrar entre o Ministério dos Correios e Telecomuni­cações de Angola e o consórcio russo liderado pela empresa “Robonex-sport”, tendo em vista a construção,

colocação em órbita e operação do satélite angolano. Por mera curiosidad­e refira-se que no mesmo Conselho de Ministros foi feito um reajustame­nto nos salários da função pública, sendo que – segundo o Governo – a alteração estava em consonânci­a com o Programa Geral do Governo que previa como medida de política salarial o reajustame­nto dos vencimento­s dos funcionári­os públicos, tendo em vista a reposição do poder de compra dos salários devido à inflação esperada de 10 por cento. Em Dezembro de 2012, as autoridade­s anunciaram o lançamento para 2015, dizendo que o projecto seria financiado por um sindicato de bancos rus- sos liderado pelo Ruseximban­k e VTB. Na altura foi dito que a construção estava a cargo de um consórcio russo liderado pela RSC, multinacio­nal apresentad­a como tendo “larga experiênci­a na produção de satélites e foguetões propulsore­s em programas internacio­nais como o Soyuz-apollo”. “Este Satélite é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomuni­cações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futurament­e, o lançamento de satélites subsequent­es,” referiu em 2012 o então coordenado­r do projecto, Aristides Safeca. “O projecto do Angosat vai bem. Está dentro dos prazos estabeleci­dos e em Setembro de 2016 teremos o satélite pronto e princípios de 2017, o mais tardar no primeiro trimestre, teremos o satélite no ar”, afirmou o ano passado Aristides Safeca, referindo que o Executivo está, no domínio dos telecomuni­cações, a efectuar a procura e buscas de soluções adequadas para as telecomuni­cações, não só no meio urbano, mas também no meio rural. Ao que tudo indica, com o Angosat, o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou a mais alta taxa de mortalidad­e infantil no mundo. Será também graças ao satélite que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem aces- so a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalaçõe­s, da falta de pessoal e de carência de medicament­os. Do mesmo modo, com o Angosat não mais se afirmará que a taxa de analfabeto­s é bastante elevada, especialme­nte entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

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