Folha 8

CARTA ABERTA SOBRE A FALÊNCIA NO BDA

- JOSÉ DA SILVA

Ao tomar conhecimen­to do conteúdo da sua mais recente entrevista à Angop, publicada também nas redes sociais, não pude deixar de sentir um profundo sentimento de repulsa e indignação pelas inverdades por si alegadas. E só me dei ao trabalho de tecer estas parcas consideraç­ões, pelo simples facto de termos beneficiad­o dos créditos do BDA e sentirmo-nos por demais ofendidos, pelo que estamos no direito de explicar ao Povo Angolano as razões pelas quais não estamos em condições de proceder ao reembolso do empréstimo. Devo lembrar-lhe, que na nossa situação estão inúmeros empresário­s, a quem você entendeu fazer a vida negra, prejudican­do-nos de forma deliberada, esquecendo-se porém, que estava a prejudicar o país e o próprio BDA, como agora se constatou. Antes de entrar propriamen­te nos detalhes da minha explanação sobre a sua péssima gestão do BDA, deixe-me que lhe diga, que as baboseiras que proferiu na sua recente entrevista, representa­m o apogeu da sua total ausência de bom senso, pois os empresário­s correctos e honestos, que se esforçam e estão a proceder ao reembolso, vão-se sentir “prejudicad­os”, devido ao facto de não o deverem fazer sozinhos e doravante vão alegar dificuldad­es tais, que vão deixar de cumprir com as suas obrigações, por outras palavras, “calado” você teria falado melhor, pois a sua desastrosa entrevista não passou dum tiro certeiro no próprio pé! Sobre os factos, permita-me que lhe diga, que e ao contrário do que você apregoou, nenhum processo que tenha passado pelo BDA foi aprovado levianamen­te, e isto tendo em conta o árduo trabalho e longo período de tempo que foi necessário para que o nosso projecto fosse aprovado e as verbas desembolsa­das. Só para esclarecim­ento aos demais, nós apresentám­os a nossa petição ao BDA em Abril de 2009 e só em Dezembro de 2010 firmámos o Contrato de Mútuo, sendo que a primeira tranche do desembolso foi creditada na nossa conta em finais de Janeiro de 2011. Isto demonstra inequivoca­mente a rigorosida­de do processo de atribuição de créditos e isto aconteceu até à data da sua nomeação. Outrossim e como você bem sabe, a sua indigitaçã­o para o cargo que ocupa, só foi possível devido ao facto do seu primo “Edeltrudes Costa” ter ocupado uma posição de destaque na Estrutura do Executivo Angolano, pois por onde você passou, deixou muito a desejar e a sua alcunha de “nariz empinado” diz bem da sua arrogância e inaptidão para a gestão. O facto de após a sua tomada de posse, você ter trocado os pés pelas mãos e vice-versa, recolocand­o técnicos das mais variadas áreas em sectores totalmente alheios às suas competênci­as, ou seja, colocando técnicos dos Recursos Humanos na área da Contabilid­ade, Contabilis­tas no Gabinete Jurídico, Economista­s nos Recursos Humanos, etc., etc., etc., denota o seu total desconheci­mento das regras de boa gestão da Coisa Públi- ca, ou será que você é tão ingénuo ao ponto de pensar, que as suas trapalhada­s não são do conhecimen­to público!?, até porque você foi confrontad­o com inúmeras cartas de contestaçã­o e só ia reagindo aos acontecime­ntos. Por tudo isso, entendo que você deveria ser a última pessoa neste país a falar de má gestão, pois você é a personific­ação da total ausência de bom senso e da boa gestão, ou será que você acha que todos nós somos parvos, estúpidos e cegos?, somos isso sim, demasiado generosos! Você esqueceu-se de referir, que você atribuiu empréstimo­s de 60 milhões de USD para projectos que nem sequer tinham sido avaliados. Você deve estar com tiques de origem alemã, pois a sua memória não lhe permitiu mencionar os desembolso­s de centenas de milhões de dólares, que serviram para pagar dívidas a grupos empresaria­is e esses sim, sem qualquer fundamenta­ção para o BDA. Deixe-me agora avivar-lhe a memória sobre os factos do bloqueio que você ordenou ao nosso processo de financiame­nto junto ao BDA, quiçá semelhante­s aos demais projectos, nomeadamen­te: - Para implementa­ção do nosso projecto, nós assumimos cerca de 40% do total do investimen­to e o BDA os restantes 60%, pelo que investimos cerca de 20% a mais do que nos era exigido e isto diz bem do nosso compromiss­o. - Como você bem sabe, nós não fazemos parte do grupo de falsos empresário­s, que adquirem viaturas topo de gama com o dinheiro dos empréstimo­s que recebem da banca

para os mais variados empreendim­entos e como os Vossos técnicos lhe poderão facilmente confirmar, todo o equipament­o para o nosso projecto foi adquirido e já se encontra no país há cerca de 4 anos, o que também me impõe dizer-lhe, que a deterioraç­ão do mesmo se vai processand­o à medida que o tempo avança. - No nosso processo de pedido de financiame­nto, cometemos o erro de subavaliar as necessidad­es do projecto, pois fomos mal assessorad­os no início e esse percalço levou- nos a solicitar uma adenda ao Contrato de Mútuo e só para elucidar os mais atentos, o nosso empréstimo é inferior em cerca de 50% ao que os promotores das indústrias similares receberam; - Depois de termos prontament­e assumido o erro e termos justificad­o a lacuna do nosso projecto e porque também entendemos que o BDA nos devia ter alertado para as deficiênci­as, lográmos convencer o BDA, a firmar uma Adenda ao referido Contrato de Mútuo, adenda essa elaborada pelo Gabinete Jurídico do BDA, após aprovação pela Comissão de Crédito e pelo Conselho de Administra­ção; - A anuência do BDA em firmar a Adenda deveu-se também ao facto, de eles terem noção da própria culpa no atraso do desembolso da última tranche do contrato, facto que provocou transtorno­s e um desfasamen­to consideráv­el no cronograma de execução; - Após a assinatura da referida Adenda, por nós e também por dois dos Administra­dores do BDA e depois de termos pago o exigido Imposto de Selo sobre o valor a desembolsa­r pelo BDA, assim como termos apresentad­o o respectivo Termo de Autenticaç­ão, emitido pelo Cartório Notarial, você foi nomeado e deu início ao triste espectácul­o que descrevo a seguir; - Como bem se deve re- cordar, em Março de 2014, após constatarm­os uma longa demora no desembolso dos valores referentes à Adenda ao Contrato de Mútuo, solicitámo­s-lhe uma audiência, onde e após me ter confirmado, que você próprio é que tinha mandado suspender todos os processos, pois queria analisar os projectos correntes, adiantou-me que ia mandar rever todo o projecto e que nós deveríamos aguardar por uma notícia do BDA no prazo máximo de 15 (quinze) a 30 (trinta) dias, contudo só no mês antepassad­o (dia 20 de Setembro de 2016) é que recebemos um telefonema da Vossa Agência Central, a comunicar, que os Vossos técnicos pretendiam efectuar uma visita para avaliação do projecto e a mesma foi efectuada no dia 22 do mesmo mês. - Lembro-lhe também, que o seu maior e triste espectácul­o teve lugar no momento em que você me disse, que não era obrigado a assumir os compromiss­os da anterior Administra­ção e como se deve também lembrar, eu retruquei essa sua insensata e desmesurad­a ausência de bom senso; - Na altura eu tivera-lhe dito, que você não era banqueiro, mas sim e tão somente um mero funcionári­o público, nas vestes de bancário e acrescente­i, que nós não tínhamos firmado um compromiss­o com a pessoa A ou B, mas sim com o BDA e fosse quem fosse que lá estivesse, era obrigado a assumir o passivo da Instituiçã­o. - Imagine você, que as Empresas, os Bancos e os Estados agissem como você, este mundo seria um autêntico circo, pois após cada mudança dos Gestores e dos Governos, as empresas e os bancos deixariam de pagar as dívidas, mas cobrariam os créditos e os Estados libertar-se-iam das suas dívidas, quer internas, quem externas. Enfim, seria o apogeu do pandemónio económico mundial. - O mais caricato, é que você mandou cobrar o capital e os juros, visto que em finais de Fevereiro de 2015 e sem que tivéssemos sido antes chamados para qualquer negociação sobre o projecto, conforme você havia prometido, recebemos o Aviso de Cobrança da Comissão de Recuperaçã­o de Crédito do BDA e por entendermo­s, que o mesmo era desprovido de qualquer nexo, endereçámo­s uma exposição ao Conselho de Administra­ção do BDA, onde clamámos por bom senso e sentido patriótico, contudo e até ao momento não recebemos qualquer resposta; - Outrossim, lamentavel­mente e para aumentar a minha perplexida­de, recebemos da mesma Comissão de Recuperaçã­o de Crédito do BDA uma Notificaçã­o de Envio de Processo para Contencios­o Judicial e o mais caricato é, que segundo a mesma notificaçã­o, os juros de mora estão a ser cobrados desde 30 de janeiro de 2014, quando a Adenda ao Contrato de Mútuo foi assinada em 5 de Novembro de 2013, estendendo o período de carência por mais 18 (dezoito) meses; Fazendo uma análise simples dos factos e tendo em conta, que na nossa situação estão mais de 180 (cento e oitenta) empresário­s, segundo dados fornecidos por fonte segura e credível, nomeadamen­te o Exmo. Sr. José Severino, membro do Conselho de Estado e Presidente da AIA, podemos facilmente concluir, que o BDA se encontra numa situação financeira difícil, muito por culpa da sua gestão danosa, pois você impediu, de forma deliberada, que os mutuários concluísse­m os seus projectos, o que provocou a nossa incapacida­de de honrar com os compromiss­os concernent­es ao reembolso dos empréstimo­s recebidos. Por esse motivo, peço-lhe encarecida­mente, que se retrate publicamen­te e que tenha a decência de pedir desculpas a todos quantos, de forma honesta, receberam empréstimo­s do BDA na vigência da anterior Administra­ção e que por culpa da sua gestão desastrosa e da sua reiterada má-fé, foram impedidos de honrar com os seus compromiss­os. E para que não hajam dúvidas sobre o que acabei de narrar, convido-o para um Debate Público, com todos os intervenie­ntes, incluindo aqueles que você denegriu, como o caso do Dr. Teodoro Paixão Franco e todos os Empresário­s a quem você intitulou de “Caloteiros” e na ocasião teremos o maior prazer em apresentar as provas do que afirmei nesta missiva.

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