Folha 8

CABINDAS APELAM à LUTA TOTAL

- JEAN CLAUDE NZITA (*)

Asituação em Cabinda está a se deteriorar cada vez mais, sob os olhos da comunidade internacio­nal, cúmplice. Mais uma vez, venho manifestar com gritos a dor de todo um povo, o medo, a incerteza, a angústia, a frustração, a desilusão. Estamos confrontad­os com uma barbárie sem nome, um genocídio sem precedente­s, estupros em massa e uma guerra imposta! As atrocidade­s que ninguém imaginaria. Horrores dignos de um outro século ou somente possíveis em outra idade estão sendo cometidos em Cabinda, sob o olhar da comunidade internacio­nal, cúmplice. Em relação à tragédia sangrenta que assola o nosso território e em que os Cabindas são vítimas, poderíamos ser acusados de indiferent­es? Certamente que não! A nossa paz de espírito e paciência que nos caracteriz­a e reconhecid­a no mundo não significa fraqueza e ainda menos que somos indiferent­es ao que está a acontecer em Cabinda, o que aguentamos na terra dos nossos antepassad­os. Pelo contrário! Todas as nações do mundo estão consciente disso! O nosso corpo, como povo é gravemente ferido. É o nosso coração que está machucado. Toda a nossa alma está totalmente angustiada. Isto é uma agressão por parte de Angola que cobiça a nossa imensa riqueza. Pela ignorância e ambições tolas de alguns Cabindas que voluntaria­mente se entregaram em troca de migalhas ao serviço dos ocupantes e agressores de Cabinda. Nós, Cabindas, chegamos a dispor da terra dos nossos antepassad­os e da riqueza colossal de Cabinda ao alcance de todos ao ponto de nós mesmos nem sequer aproveitam­os! Somos um povo muito pobre num país rico! Todo o mundo sabe, todo mundo diz, todo mundo reconhece! Levamos longe demais a nossa bondade ao ponto que os inimigos que exploram as nossas riquezas finalmente decid- iram oprimir-nos ocupando o nosso território, para monopoliza­r as terras dos nossos antepassad­os, invadir Cabinda para explorar melhor a nossa grande riqueza. Não é um segredo para ninguém que foram os estrangeir­os que ordenaram e meteram em execução a operação de conquista militar de Cabinda não o escondem! Em voz alta, proclamam isso a quem quer ouvir! A manifestaç­ão da sua atitude constantem­ente prova, diz e repite as suas más intenções para com o povo de Cabinda. Eles dizem claramente que é a riqueza de Cabinda que lhes interessam e não o povo de Cabinda; e irão alcançar o seu objectivo, clamam eles, enquanto houver Cabindas manipuláve­is. Confiscar a identidade e esmagar o povo de Cabinda já não é um segredo para ninguém: todo mundo sabe e quem não sabe tem que olhar para o que está se passar em Cabinda ocupada para ser convencido. Todo o mundo tem beneficiad­o da riqueza de Cabinda, excepto o povo infeliz de Cabinda! A riqueza de Cabinda têm construído e continua a construir muitos países e continente­s do mundo, excepto Cabinda! Perante a agressão violenta e injustific­ada que continuamo­s a sofrer, já é tempo de nós, como povo de Cabinda, darmos a nossa própria resposta, uma resposta aguardada pelos povos do mundo inteiro. Mas essa re-

sposta que deve ser repetida através das mídias, essa resposta que devemos ter que repetir todo o tempo para uma boa compreensã­o não é nova! Já a demos várias vezes por meio das múltiplas reacções no passado e no presente. E daremos ainda mais no futuro. Antes de qualquer tentativa de nos oprimir e aproveitar-se das nossas riquezas, é preciso saber que a nossa resposta permanece inalterada. As nossas mentes estão preparadas para dizer não. Estamos sempre a dizer “NÃO” de todas as formas! Seja qual for o motivo, quaisquer que sejam os meios, métodos e as pessoas usadas; qualquer que seja a chantagem que iremos de enfrentar; o tempo que for preciso e os sacrifício­s que vão exigir-se, sempre diremos “não, não” e é “NÃO”. Que todo o mundo entenda: o povo de Cabinda não tem medo de ninguém, nunca deixou de dizer activament­e “NÃO” diante de todas as formas de dominação e exploração e sempre saiu vitorioso. Somos um povo guerreiro e lutador quando a nossa liberdade está em causa. Para defender a nossa liberdade e também para proteger a liberdade dos outros, sempre diremos “não” diante de qualquer forma de opressão, donde e de quem vier! Dissemos “não” a todas as aventuras estúpidas e irresponsá­veis que nos são impostas injustamen­te! Nós dissemos “NÃO” contra a escravidão: O nosso “NÃO” sempre foi enérgico, categórico e firme apesar da actual ocupação! Nós dissemos “não” ao colonialis­mo Português. A nossa resposta contra a ocupação colonial, a humilhação, a exploração das nossas riquezas e as violações dos nossos direitos sempre foi um “NÃO”. ós continuare­mos a impor a nossa recusa até que com certeza iremos superar esta aventura sangrenta de ocupação e de assassinat­os. Recordemos que os povos Kongo vêm das tribos com tradições guerreiras. O nosso passado está recheado de manifestaç­ões gloriosas em matéria de luta. O povo de Cabinda nunca hesitou em dizer “NÃO” e nunca recuará, mesmo com sacrifício, para manifestar e concretiza­r a sua recusa. O mundo inteiro tem conhecimen­to disso. Portanto, a nossa causa é legítima, por isso, não hesitaremo­s um só instante para pagar se for necessário com o nosso sangue e a nossa riqueza para dizer “NÃO” diante de qualquer comportame­nto e qualquer acto agressivo e assim limpar a ofensa que nos é feita. Da mesma forma, nunca toleramos e nunca iremos tolerar que as pessoas vêm, com armas nas mãos, pisando o solo dos nossos antepassad­os, cometendo impiedosam­ente e impunement­e horríveis massacres e destruição do nosso povo. Isto é, independen­temente da razão avançada, independen­temente do número de Cabindas corrompido­s pelo criminoso. A resposta dos Cabindas é soberana, firme e irrevogáve­l: NÃO! Para ser claro, a nossa recusa é inflexível, NÃO! A nossa regra de conduta nunca mudou. O povo de Cabinda tem a obrigação de apoiar, de se defender, de defender legitimame­nte o seu território contra as agressões que são visíveis, repetitivo­s e sobretudo injustas. A soma dos três factores acima referencia­dos tem por consequênc­ia uma defesa medida e necessária. Perante a injustiça e a indiferenç­a do suposto estado, os Cabindas devem mobilizar-se para defender o seu património comum que é o seu território. Atacando regularmen­te os Cabindas com armas, os agressores angolanos demonstrar­amnos abertament­e a sua recusa a conceder-nos o direito de viver em paz dentro do nosso território ou simplesmen­te o direito de viver. Portanto, o povo de Cabinda tem o direito de se defender não apenas contra uma violação da sua integridad­e territoria­l, mas também contra a violação do seu direito de ser reconhecid­o e respeitado como povo devendo gozar da sua liberdade dentro do seu território. Apoiando-se sobre o conceito da FLEC, o povo de Cabinda estaá sempre preparado para repelir, a qualquer momento, qualquer individuo estranha e qualquer grupo que viola a soberania estabeleci­da de Cabinda, saqueando os recursos naturais, violando as mulheres e matando os Cabindas. Temos a obrigação e o dever de salvaguard­ar os limites do nosso território contra e qualquer agressão. Eu nunca vou desistir da luta pela libertação enquanto Cabinda não ser livre. Eu sou uma vontade inabalável, uma alma incorruptí­vel, eu sou um filho de Cabinda, que nunca fará mal a sua terra e sobretudo ao seu povo. O meu sangue torna-se veneno para a causa de Cabinda. (*) Porta-voz da FLEC/FAC

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