IMPEDIU ACTUAÇÃO DE LUATY BEIRÃO
Agentes da Polícia Nacional do regime da Coreia do Norte, perdão, de Angola, policiaram o Cine Tivoli, em Luanda, onde estava previsto, no dia 06.11, à noite, um espectáculo do `rapper’ e activista Luaty Beirão, mas cuja licença de funcionamento fora entretanto revogada, na última hora, mesmo estando previamente pago. A informação foi avançada pelo activista, um dos 17 condenados em Março, em Luanda, por suposta e nunca provada rebelião, e que musicalmente se apresenta como Ikonoklasta, que subiria ao palco daquela sala juntamente com o músico MCK, para o “Show Ikopongo”. “Recebemos uma chamada da senhora do Cine Tivoli a dizer que a polícia foi lá e tirou, abusivamente, sem nenhum mandado, a licença. Visto que foi feito de forma ilícita, vamos falar com o pessoal do es- paço e vamos continuar a apelar às pessoas para irem [ao espectáculo], até que nos apresentem um documento com a proibição”, disse na véspera Luaty Beirão.
“Intimidaram as pessoas pedindo um monte de documentos. A “Polícia Nacional do MPLA” retirou a licença do espaço Tivoli, mas enquanto isso decorria um evento infantil no local”, observou Luaty Beirão, falando num boicote das autoridades ao evento. Este concerto de Ikonoclasta e MCK – ambos conhecidos pela música de intervenção -, esteve inicialmente previsto e anunciado para o Chá de Caxinde, outra sala do centro de Luanda, mas os proprietários, segundo os músicos, recuaram e acabaram por não permitir a sua realização naquele local. “Os proprietários fingiram todos que ninguém sabe, que a gerência é que decide. Disseram-nos que podíamos divulgar e no dia seguinte informaram-nos que o `show’ não ia poder acontecer ali”, disse Luaty Beirão. O activista, de 34 anos, é uma das vozes mais críticas do regime ditatorial angolano liderado há 37 anos por José Eduardo dos Santos (um presidente nunca nominalmente eleito), tendo sido condenado em Março último, no mediático processo dos “15+2”, a cinco anos e meio de prisão por supostos e nunca provados actos preparatórios para uma rebelião, associação de malfeitores e falsificação de documentos. Luaty Beirão e os restantes 16 activistas deste processo foram libertados pelo Tribunal Supremo no final de Junho, após interposição de um “habeas corpus” apresentado pela defesa. Entre prisão preventiva e cumprimento de pena, Luaty Beirão chegou a estar 9 meses nas fedorentas masmorras do regime, desde 20 de Junho de 2015, tendo realizado durante este período uma greve de fome de protesto que se prolongou por 36 dias. Foram entretanto abrangidos pela lei da amnistia, proposta, inconstitucionalmente, apresentada pelo presidente da República e, aprovada de cruz, pela maioria parlamentar do MPLA, para crimes – excluindo os de sangue – cometidos até 11 de Novembro de 2015. Amnistia que se recusam a aceitar, por colocar no mesmo saco o justo e o pecador.