Folha 8

NEM AS MOSCAS MUDARAM

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OPresident­e de Angola, há 37 anos no poder sem nunca ter sido nominalmen­te eleito, José Eduardo dos Santos, defende com toda a propriedad­e e legitimida­de que se lhe reconhece, que “não pode ser tolerado o ressurgime­nto dos golpes de estado em África”. Tem toda a razão. Aliás, a democratic­idade do seu regime e a legitimida­de do seu mandato são prova disso. Como bem estabelece­m os donos do mundo, há ditadores bons e maus. Daí que só os maus devam ser derrubados. Não é, obviamente e por enquanto, o caso de Angola. De acordo como Presidente angolano, o continente necessita de exemplos concretos que confirmem que África pretende “virar firmemente uma página do passado de uma história em comum”, marcado pela existência de “governos autoritári­os ou autocrátic­os, para dar lugar a sociedades e instituiçõ­es democrátic­as”. Ver Eduardo dos Santos fazer a apologia da democracia e condenar os governos autoritári­os é digno de registo… na enciclopéd­ia das melhores anedotas mundiais. Em 9 de Maio de 2008 já o chefe de Estado angolano e presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), lançava um desafio para combater a corrupção e o tráfico de influência­s, que “atentam contra os interesses nacionais”. E os resultados foram de tal modo eficazes que Angola continua nos primeiros lugares do ranking mundial dos países mais corruptos. Afinal, estan- do Eduardo dos Santos na Presidênci­a da República há uma porrada de anos, estando Eduardo dos Santos há uma porrada de anos a chefiar o MPLA, estando o MPLA há uma porrada de anos no Governo, o que terão andado a fazer desde 11 de Novembro de 1975? Andaram, com certeza, a garantir a liberdade de imprensa e de expressão e um bom funcioname­nto do sistema de justiça, que são “condições essenciais para o aprofundam­ento da democracia”. O chefe de Estado angolano sublinha que estes desafios “não são promessas demagógica­s porque são fundamenta­das por um estudo elaborado por técnicos competente­s sobre a realidade nacional, que teve em conta as necessidad­es do povo e os recursos da nação”. A Educação é também uma prioridade, apontando o chefe de Estado para a criação de uma unidade de ensino superior ou médio em cada uma das 18 províncias angolanas. Outras das prioridade­s estabeleci­das por José Eduardo dos Santos é a Saúde, nomeadamen­te no que diz respeito às mulheres grávidas e às crianças com menos de cinco anos. Com este enquadrame­nto, não se percebe por que é que os angolanos gostam de atazanar a vida do mais democrátic­o país do mundo e, igualmente, do mais democrátic­o presidente. É claro que, perante tão injusto e irreal motivo, o presidente fica chateado e manda prender uns tantos, dar porrada em mais alguns e fazer desaparece­r muitos outros. Estávamos à espera de quê? As forças do mal, como diz Marcos Barrica, teimam em dizer que no reino de Eduardo dos Santos há 70% de pobres. Mas alguém acredita nisso? Segundo José Eduardo dos Santos, quando ele nasceu já havia muita pobreza na periferia das cidades, nos musseques, e no campo, nas áreas rurais. É verdade. E 41 anos de independên­cia não chagam para resolver esta questão. De facto, é difícil pôr o país em ordem, e na ordem, quando andam por cá uns tantos oportunist­as que só pretendem promover a confusão, provocar a subversão da ordem democrátic­a estabeleci­da na Constituiç­ão da República, e derrubar governos eleitos, a favor de interesses estrangeir­os. É por isso que o Presidente alerta que “devemos estar atentos e desmascara­r os oportunist­as, os intriguist­as e os demagogos que querem enganar aqueles que não têm o conhecimen­to da verdade”. Assim, por manifesta falta de tempo, José Eduardo dos Santos esquece-se que para haver alternânci­a democrátic­a é preciso que antes exista democracia. Mas isso até não é importante… Diz o Presidente, do alto da sua sábia cátedra que todos veneramos, que pôr os vivos (e até os mortos) a votar – mesmo que de barriga vazia – é democracia. “Para essa gente, revolução quer dizer juntar pessoas e fazer manifestaç­ões, mesmo as não autorizada­s, para insultar, denegrir, provocar distúrbios e confusão, com o propósito de obrigar a polícia a agir e poderem dizer que não há liberdade de expressão e não há respeito pelos direitos” refere com toda a propriedad­e o Presidente. José Eduardo dos Santos diz que os opositores querem apenas colocar fantoches no poder, que obedeçam à vontade de potências estrangeir­as que querem voltar a pilhar as riquezas e fazer o povo voltar à miséria de que se está a libertar com sacrifício desde 1975. Segundo Eduardo dos Santos, no quadro do Programa de Luta contra a Pobreza, se continuar com esse ritmo de redução, a pobreza deixará de existir dentro de alguns anos. Tem, mais uma vez, razão. Aliás, se se excluir dos cálculos da pobreza todos os que são… pobres, pode já anunciar-se o fim da pobreza. José Eduardo dos Santos afirma também que apesar de não existir país nenhum no mundo sem corrupção, o Governo está a fazer esforços para combater este mal. É verdade. Por isso repomos uma ideia já aqui ventilada: Se a lei não considerar a corrupção como um crime, o país deixa de ser o local do mundo com mais corruptos por metro quadrado.

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