Folha 8

DAVID GROSSMAN DIZ QUE NÃO TEVE UM DIA DE PAZ

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Pacifista e defensor da solução de dois Estados para o conflito árabeisrae­lense, o escritor David Grossman, de 62 anos, diz que não teve um dia de paz em sua vida. Grossman, que esteve recentemen­te no Brasil para lançar o seu romance mais recente, “O inferno dos outros” (Companhia das Letras), e para participar do seminário Fronteiras do Pensamento, considera que a paz é o caminho para a liberdade. No novo livro, Dovale é um comediante de stand up decadente que tem uma crise nervosa no palco, não consegue mais sustentar o riso e acaba expondo que vive sob o impacto de um intenso drama pessoal. Para o autor, a personagem, como seu o país, não tem paz por ter escolhido uma vida paralela. Na entrevista a seguir, ele explica o porquê. ser humano. Apenas espiar, porque olhar de verdade significa se compromete­r e, dessa maneira, não há como voltar atrás. Claro que Dovale quer que olhem para suas feridas, mas quem quer olhar para as feridas dos outros? As pessoas estão saindo da casa noturna onde ele se apresenta, mas algumas ficam, não fogem. Porque estão tocadas e, talvez, por pensarem que sua rudeza e falta de tato sejam apenas uma fachada para algo mais delicado e frágil. Temos sorte por ainda existirem no mundo pessoas assim, que não olham para as feridas dos outros de forma sensaciona­lista. muito mais sobre paz do que nós. Eu acho que é a única solução possível para esses dois povos. Não dá para viverem juntos de maneira sustentáve­l e digna num estado só. Eles lutaram por centenas de anos e se odeiam profundame­nte. Não dá para romantizar a situação. Cada um suspeita do outro. O poder do fanatismo está tão arraigado que não dá para esperar que essas pessoas possam viver como entidades autônomas ou cidadãos. Gostaria que vivessem sem fronteiras e sem definições nacionalis­tas. Mas essa ideia romântica só é possível com dois Estados. Quem sabe, no futuro, uma federação e cantões nacionais — como na Suíça?

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